Severino Elias Ngoenha é filósofo contemporâneo de Moçambique, contribue para o estudo da Filosofia africana no país. Seus trabalhos mais influentes incluem uma análise crítica dos discursos da filosofia africana, críticas da sociedade moçambicana contemporânea, como também questões sobre justiça, ecologia e educação.
História
Severino Elias Ngoenha nasceu em Maputo, no ano de 1962. Concluiu os seus estudos no Liceu Josina Machel. Sua devoção pela vida religiosa fê-lo optar pelos estudos teológicos, com particular interesse pela “Teologia da Libertação”. Sendo assim, em 1981 ingressou para o Seminário Pio X em Maputo numa formação sacerdotal em Teologia – Filosofia. Três anos depois, concretamente em 1984 Ngoenha ganha bolsa para continuar seus estudos em Roma, onde obteve o grau de Bacharelato em Filosofia pela Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma (NGOENHA, 1993, p. 04).
Três anos depois, em 1988 alcançou o grau de bacharel em Sacra Teologia na mesma Universidade. No mesmo ano obteve também o grau de Licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Dois anos depois, isso em 1990 obteve o grau de Doutoramento em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Foi Professor no Seminário Filosófico – Santo Agostinho da Matola – Maputo. Em 2010, integrou-se ao Departamento de Filosofia da Universidade Pedagógica de Moçambique, é Professor na Universidade Eduardo Mondlane. No estrangeiro é Professor convidado pelas Universidades Italianas de Bolonha e de Roma. É ainda Professor convidado pela Universidade Estadual da Bahia, no Brasil. Foi Professor associado ao Departamento de Antropologia e Sociologia da Universidade de Lausanne, na Suíça. Suas pesquisas situam-se principalmente na área de Antropologia, Pensamento Africano, Filosofia da Educação, Filosofia da História e Interculturalidade (2009, p. 01).
Estando em Roma, passa à se interessar por Filosofia africana, que permanecerá o seu maior engajamento acadêmico e motivará sua atuação em Moçambique, estabelecendo as bases do estudo da Filosofia africana no país. Em 1988 terminou seus estudos em Roma e de seguida foi para Paris, para finalizar sua tese de doutorado em Voltaire. Muda-se então para Lausana, onde foi aprovado para um concurso de professor e pesquisador. Na Suíça forma sua família, tem dois filhos, e recebe a nacionalidade do país, o que se prova muito útil para sua mobilidade no meio acadêmico global.
Ao longo de todo esse período, Ngoenha mantém visitas regulares à Moçambique. Em 1995 é chamado para cumprir a função de 'Professor convidado' na Universidade Eduardo Mondlane, onde deu aula de introdução ao pensamento africano.
Ngoenha é um sobrenome próprio da província de Sofala, da etnia Ndau, que possui um histórico de resistência anticolonial notável.
A filosofia e o filósofo revoltam-se contra a desordem do país e do mundo, contra as opressões, as desigualdades, as injustiças, a violência. Ao mesmo tempo, militam pela contrição de uma família fundada sobre a justiça, e por isso, sobre a liberdade. Esse é o lugar e o tempo para sonharmos novas utopias: prover alimentos para todos, democratizar a democracia, criar uma sociedade mais transparente e participativa, tornar os partidos verdadeiros preceptores de projectos nacionais, abandonar a guerra como caminho da Eudaimonia e bem-estar particular, e abraçar o diálogo (NGOENHA, 2018, p.155).
Desde 2010, Ngoenha torna-se professor de filosofia na Universidade Pedagógica de Moçambique (atual Universidade Maputo). Em janeiro de 2015, foi designado Reitor da Universidade Técnica de Moçambique (UDM).
Paradigma libertário
O paradigma libertário é um dos conceitos e proposições mais conhecidas de Ngoenha, usado pela primeira vez em seu Os tempos da Filosofia (2004). Libertário, para ele, está relacionado com a experiência africana específicia de escravidão, colonialismo e neocolonialismo, uma ausência de liberdade. Para ele, o pensamento africano é marcado pela busca desesperada de liberdade, tanto política quanto econômica.
Para Ngoenha, o paradigma libertário é uma abordagem para definir um ideal africano de liberdade que vá além das definições de esquerda e direita usadas no discurso Euro-Americano; é um ideal baseado numa história africana analisada e reconstruida criticamente, um ideal de liberdade que compreende a responsabilidade por si mesmo e pelos outros da comunidade. É um guia prático e metodológico para pensar sobre a África
Ngoenha se dedica a uma leitura filosófica da sociedade moçambicana, criticando tanto as contradições da experiência socialista do FRELIMO quanto a destituição causada pelo capitalismo neoliberal. O filósofo considera o Federalismo como um caminho filosófico e prático de definir e criar independência, onde a autonomia seria exercida a partir do mais baixo até o mais alto nível de organização social. Severino considera o pensamento utópico como uma forma fértil de imaginar o futuro, como um horizonte aberto e participativo, elementos essenciais para sua criação através da liberdade e da criticidade.
Obras
- Por uma Dimensão Moçambicana da Consciência Histórica (1992)
- Filosofia Africana: das independências as liberdades (1993)
- Resistir a Abadon (2018)
- Intercultura: alternativa a governação biopolítica (2013)
- A Terceiro Questão (2015)
- A (Im)possibilidade do momento moçambicano: notas estéticas (2016)
- Pensamento Engajado - Ensaios sobre Filosofia Africana, Educação e Cultura Política (2011), com José P. Castiano
- Mondlhane: Regresso ao Futuro (2020)
- Os Tempos Africanos do Mundo (2022)
leia também sobre
Referencia Bibliografia
SEVERINO. N. (1993). Das Independências às Liberdades. Maputo, Edições Paulinas.
https://www.severinongoenha.com