Contextos do surgimento

O Pan-africanismo é um complexo movimento de idéias, teorias, arranjos e visões de mundo surgido na primeira metade do século XIX, a partir dos contactos entre negros da Grã-Bretanha, Antilhas, EUA e lideranças do continente africano.

No sentido ampla, estão integrados dois sentidos básicos e complementares do termo negritude, conforme abordados por K. Munanga (1988, p. 44). O primeiro era a noção que dominava antes da Segunda Guerra Mundial, desenvolvida principalmente por Césaire (1939). Aí, a negritude era o simples reconhecimento do facto de ser negro. Uma aceitação de seu destino, história e cultura, enquanto princípios formadores de uma identidade negra positiva e orgulhosa. Posteriormente, Césaire sintetizou tal ideia no conceito de “personalidade cultural africana”, cujos aspectos primordiais seriam a identidade, a fidelidade e a solidariedade para com os povos negros de todo o mundo. O segundo sentido da negritude, segundo Munanga, resultou de um processo que aos poucos alterou este significado inicial até ganhar uma dimensão política próxima àquela do Pan-africanismo: como luta pela emancipação dos povos negros contra o colonialismo e assimilação ocidental. Afinal, só com tal emancipação poder-se-ia de facto falar em assunção da negritude.

De um modo geral, o primeiro sentido da negritude é mais comum até 1955, enquanto que o segundo sentido, mais próximo de um Pan-africanismo mais programático, torna-se dominante posteriormente.

Objetivos

O Pan-africanismo tem como uma de suas principais questões a ideia de que a África deveria ser transformada nos Estados Unidos da África, preferencialmente usando a língua inglesa e professando o cristianismo. Os teóricos do Pan-africanismo inventaram a África una, homogénea e indistinta. Esta África, nessa perspectiva, é tida como a origem de todas as práticas, costumes, culturas e religiões dos negros e negras da diáspora.

O pan-africanismo, nesse sentido, contribuiu para a construção da ideia de nação entre os africanos.

Representantes do Pan-africanismo

Segundo Elikia M´Bokolo e Leila Hernandez, o “pai” do nacionalismo da África ocidental chama-se Blyden. Appiah, na obra Na casa de meu pai, mostra que a partir do Pan-africanismo, sobretudo Blyden, uma África vai sendo gestada enquanto contraponto as idéias de inferioridade racial e o colonialismo. Mas esta África não é diversa, repleta de povos que falam muitas línguas. É, sobretudo, a África, país dos negros, e que de preferência tome o inglês como língua.

O Pan-africanismo nasceu da luta de activistas negros na África e, sobretudo, na diáspora americana, em prol da valorização de sua colectividade. Sua marca inicial, entre fins do século XVIII e meados do século XX, foi a construção de visões positivas e internacionalistas acerca de sua identidade étnico-racial, entendida como comunidade negra: africana e afro-descendente. Nesta primeira fase do movimento, destacam-se nomes como E. Blyden, S. Williams, J. Hayford, B. Crowther, J. Horton, M. Garvey e W. E. Du Bois. A partir de 1945, o Pan-africanismo entrou num segundo momento, como parte integrante das lutas de independência nacional e contra o neocolonialismo na África. Neste momento, sobressaíram-se intelectuais e ativistas como G. Padmore, C. A. Diop, L. S. Senghor, A. Césaire, F. Fanon, K. N’Krumah, N. Azikiwe, A. Cabral e J. Nyerere.