O Ibn-Khaldun é um clássico intelectual árabe-mulçumano do século XIVnascido em Túnis, atual capital da Tunísia, que ficou conhecido no ocidentetardiamente por meio de estudiosos europeus na modernidade, estimulados porinteresses colonialistas no norte da África. Sua obra antecede ideias que só viriam a serformuladas mais concretamente entre os historiadores europeus do período modernoem diante, o que causou um entusiasmo inicial naqueles que se debruçaram sobre elae, logo, Khaldun foi eleito por alguns autores como o pai das ciências sociais. Suabiografia pode ser descrita com base na parte intitulada Autobiografia do seu mais importante livro, História Universal (Kitab al-‘Ibar )
 
BIOGRAFIA
Em seus primeiros anos de vida, o jovem Ibn-Khaldun viveu em certaestabilidade política do reino do sultão Abu Bakr e realizou sólidos estudos nos quaishá descrições de sua formação cultural que, por sua vez, é tradicional, baseadaessencialmente no estudo do Alcorão, da Sunna  preceitos, ações e vida de Maomé,da Jurisprudência ciência religiosa do Islã  e da língua árabe, constituindo umpreparatório para sua participação ativa na vida política de Túnis.No entanto, em 1346 ocorre a morte do sultão Abu Bakr, desencadeando umaluta sangrenta entre os pretendentes ao poder que culminou no domínio eapoderamento do território pelo sultão merinida de Marrocos Abu I-Hasan sob opretexto de reestabelecer a ordem política, rompendo o equilíbrio entre a aristocraciareinante e as tribos árabes. Somado a isso, a Peste Negra castigava, além dos europeus,o povo árabe, ceifando inclusive os pais de Ibn-Khaldun. Tais acontecimentosinfluenciaram indubitavelmente no desenvolvimento de suas ideias, pois a chegada do Abu I-Hasan possibilitou que o autor pudesse aprender filosofia, lógica, astronomia,ciências naturais e os principais problemas do pensamento árabe-muçulmano, além de que a falta de estabilidade o obrigava a instar sobre uma realidade política e social eobservar nela o jogo de forças que se confrontam. Apesar de sua cultura e erudição, Ibn-Khaldun foi um homem de ação quedurante grande parte de sua vida envolveu-se em lutas e conspirações. A partir de 1350,ele parte da Túnis em frustradas buscas de um ambiente intelectual e políticosatisfatório (NASSAR, 1979, p. 29 apud ARAUJO, 2004, p. 12), passando por Fez,Granada, Bugia e somente entre 1375 e 1379, refugiado no castelo de Qal ’at
 Ibn Salãma,na Argélia, distante do meio social que até então pertencia, ele termina a redação daprimeira parte da sua História Universal, o então conhecido “Os Prolegômenos”.
 Depois disso, a continuidade de sua pesquisa exigia o acesso a uma vastadocumentação que só poderia ser consultado em Túnis, acarretando, então, sua voltaao seu território-natal. Porém, logo partiu definitivamente para o Egito, onde seestabeleceu como magistrado no Cairo e como professor na Universidade de al-Azhar.Morreu em 1406 e foi sepultado no cemitério dos sufistas no Cairo.
2.
 
HISTÓRIA UNIVERSAL (
KITAB AL-
‘IBAR
)
É sabido que Ibn-Khaldun escreveu outros trabalhos além do seu
 Magnumopus
“História Universal”
 que tratavam sobre filosofia, lógica, aritmética, teologia, mas,infelizmente, não resistiram ao tempo. O
Kitab al-Ibar 
 é dividido em três partes: sua Autobiografia, a história dos berberes propriamente dita e a clássica Prolegômenos.Trata-se de uma obra que contem a história de diferentes povos, da criação do mundoaté o tempo de Ibn-Khaldun.O primeiro a traduzir e editar extensas partes deste texto foi o francês NoelDesvergers, sob o título de
“História da
 África sob a dinastia das Aglábidas e da Sicíliasob a dominação muçulmana
” (
1841), mas é possível dizer que os estudos khaldunianosmodernos iniciaram-se de forma insipiente no século XVII por outros autoresfranceses. A liderança francesa nos estudos sobre o mundo árabe, contudo, eramestimuladas pelas ambições colonialistas no norte da África que levaram o governofrancês a patrocinar os estudos orientalistas a fim de conhecer melhor o Magreb. Desdeentão, tanto no Oriente quanto no Ocidente, proliferaram inúmeras edições e estudos
 
sobre os Prolegômenos, incluindo traduções para o inglês, português (
“Ibn Khaldun:
Os Prolegômenos ou Filosofia Social
”,
 por Khoury, 3 volumes, São Paulo, 1958) eespanhol.Ibn-Khaldun, nos Prolegômenos, estava inclinado a concentrar-se nofenômeno social para elaborar uma introdução à sua
“História Universal”
. Deste modo,ele apresenta sua intenção como uma síntese enciclopédica do conhecimentometodológico e cultural necessário que permitiria ao historiador produzir um verdadeiro trabalho científico. Cabe ainda dizer que o fundamento para suas reflexõessão as suas próprias experiências e elas são direcionadas para explicar os sintomas quelevam à decadência de um império.Por fim, Prolegômenos constitui um extenso texto que apresenta conceitos eteorias que somente foram pensadas pelos europeus séculos após sua construção. Emsíntese, o plano dos Prolegômenos consiste na história como ciência, na teoria geral dacivilização, nos elementos de uma etnologia geral, na filosofia política, no fenômenourbano, na economia e na teoria do conhecimento. Portanto, é válido questionar ainfluência que esta obra teve sobre notáveis intelectuais da Europa, especialmentesobre os franceses, assim como investigar possíveis ocorrências de plágios.
 
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, Richard Max d . Ibn Khaldun: o estudo de seu método a luz da ideia dedecadencia nos estados do ocidente muçulmano. 2004. p. 3-24.
 
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