Em Moçambique, assiste-se um dualismo entre o mundo urbano e o rural, sendo marcado ainda manifestações e por oposições notórias que não se transformam de imediatamente e de acordo com a dimensão do movimento migratório, criando assim a cidade de forma gradual a sua própria cultura.

Quando num determinado espaço urbano assiste-se um aumento considerável de fluxo humano proveniente do meio rural como aconteceu nos últimos anos em Moçambique, a transferência cultural vem provocar no meio urbano relações conflituosas e desiguais.

Neste caso, os actuais espaços urbanos em Moçambique são resultantes de um processo alógeno, isto é, de origens diferentes, em que a concentração das actividades económicas foi decidida e imposta pelos interesses coloniais. Este processo transportou modelos e percepções de organização de espaços oriundos das metrópoles coloniais, implantando num território que se mantiveram durante muito.

Nos nossos dias, as cidades Moçambicanas ainda apresentam alguns contrastes, razão pela qual a localização e características das cidades moçambicanas não chegam a constituir uma rede urbana, tendo resultado de interesses políticos, económicos coloniais, sobre os quais se procurou ajustar as políticas nacionais de desenvolvimento no período pós independência.

Os estudos feitos sobre as cidades africanas, indicam que atracção da população urbana varia na razão inversa da distância, onde incluem-se as cidades moçambicanas, as populações que migram das cidades são oriundas das províncias, onde elas se situam.

De acordo com os dados do Censo Demográfico de 1880 e 1997, os aglomerados populacionais da Cidade de Maputo são provenientes das Províncias do sul do rio save (Maputo, Gaza e Inhambane) e para a Cidade da Beira, os dados indicam que a população quase no total 90% é proveniente da própria Província de Sofala.

Porém, é nesta dinâmica que as cinturas peri-urbanas das cidades moçambicanas funcionam como zonas de “transição” ou rural disperso para o urbano concentrado. As áreas peri-urbanas das cidades moçambicanas administrativamente considerados espaços urbanos, são cinturas de território onde as características da sociedade rural se misturam com formas sócio-económicas e das culturas urbanas.

Da década 70 a 90, Moçambique foi caracterizado por factores conjunturais (Guerra colonial, Guerra civil, calamidades), que alteraram o desenvolvimento normal da distribuição territorial da população a partir dos centros urbanos. Estes factores tornaram o meio rural extremamente repulsivo, contribuindo com que os espaços urbanos e urbanizados adquiriram valores atractivos.

Estrutura das Cidades Moçambicanas

Em estudos muito recentes, alguns autores têm comparado a estrutura residencial das cidades com um mosaico, no qual distinguem elementos do modelo sectorial e zonal. Nesses estudos, concluiu-se que os fenómenos físicos como rios, lagos e linhas de costa, podem originar o aparecimento de um padrão sectorial, enquanto que a cidade de edifícios, dispõe-se segundo uma estrutura zonal; as cidades de Maputo e Beira, onde o seu padrão foi influenciado pela baía de Maputo e os estuários dos rios Pungué e Búzi; factores físicos, o que permite observar duas relações espaciais básicas: as áreas residenciais privilegiadas e as indústrias que repelem-se; o centro de negócio da cidade tende a deslocar-se em direcção a um sector de classe privilegiada.

Quando as cidades expandem-se ao longo de certos eixos de desenvolvimento, a sua articulação é feita por elementos lineares, entre os quais subsistem durante mais ou menos tempo, áreas rurais onde a descontinuidade máxima observa-se nas cidades que se desenvolvem em Ilhas de urbanizações isoladas afastadas da mesma faixa urbana principal.

Tendo como caso concreto os quarteirões das cidades moçambicanas que funcionam apenas como unidades residenciais para fins meramente administrativos e estatísticos, faltam-lhes tudo o que diz respeito as actividades sociais e elementares que, por vezes, nem existem em espaços mais amplos como os bairros. Na realidade, a unidade base da vida urbana é o bairro, cuja designação tem origens muito diversas, de acordo com a história socio-cultural e económica da região.

Em Moçambique, as designações dadas aos bairros tem haver com a sua localização (Exemplo: Alto-Maé, Ponta Vermelha, Costa de Sol) e com a origem dos primeiros residentes (Exemplo: Chinhambanine, Benfica, Ex-Chopal), podendo sempre o morador referir-se ao seu quarteirão quando necessitar situar-se na cidade.

A organização administrativa das cidades codificou estes espaços empíricos e conferiu-lhes uma forma rígida, e é com base no bairro que se desenvolve a vida pública, se organiza a representação popular. O bairro tem um nome, o que lhe confere personalidade própria no interior da cidade., como é o caso da cidade da Matola que surgiu precisamente como um satélite da cidade de Maputo. Na realidade o seu sucesso e desenvolvimento, deu-se pelo facto de ter crescido em simultâneo com uma função industrial e residencial que levou ao progresso local do comércio e serviço, facto que permitiu que a população permanecesse nela.

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