FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES

 

1. Definição de Hipótese e seu lugar no projecto de pesquisa cientifica


O termo Hipótese provem do grego hyeothesis, que é uma palavra composta por Hipo (Sub) mais Thesis (proposição, colocação), literalmente é “base de um argumento, suposição” ou se quisermos, premissa que é meramente pressuposta, mas não asserida. Essencialmente, podemos considerar que

… hipótese é uma suposta resposta ao problema a ser investigado. É uma proposição que se forma e que será aceita ou rejeitada somente depois de devidamente testada” (GIL, 2008: 41).


Portanto, é sugestão de possível resposta não demostrada, mas que se pretende demostrar, a um problema determinado. Segundo Lakatos e Marconi (1989: 118-120) existem diversas definições de Hipóteses, que nos fornecem as principais características, que são:

    • i) a provisoriedade – toda hipótese é uma resposta provisoria a um problema e não definitiva;

 

    • ii) o carácter Explicativo ou Preditivo;

 

    • iii) coerências externas – que assegura a cientificidade – e interna – que assegura a consistência logica das ideias; e

 

    • iv) a verificabilidade – toda hipótese é possível de verificação.



A elaboração de hipóteses constitui a segunda etapa de uma pesquisa cientifica e é precedida pela formulação clara do problema para o qual dá uma resposta, como vínhamos dizendo, provisória. Enquanto o problema é um enunciado interrogativo de relacção entre factos e fenómenos as hipóteses são afirmativas e dizem respeito a mesma relacção. Mesmo sendo o segundo passo a elaborar numa pesquisa científica como nos elucida Gil (2002: 51), segundo Severino (2015: 129– 130) é o quinto elemento na estrutura do projecto de pesquisa científica.

2. Fontes e Formas de elaboração de Hipóteses


Segundo Marconi e Lakatos (2003: 132-135) existem oito fontes fundamentais que podem dar origem as hipóteses: i) Conhecimento Familiar; ii) Observação; iii) Comparação com Outros Estudos; iv) Dedução Lógica de uma Teoria; v) A Cultura Geral na qual a Ciência se Desenvolve; vi) Analogias; vii) Experiência Pessoal, Idiossincrática; e viii) Casos Discrepantes na Própria Teoria. Dito isso resta sabermos de que forma podemos elaborar uma hipótese?

Segundo Marconi e Lakatos (2003: 128) há varias maneiras de formular hipótese, mas a mais comum é “se x, então y”, onde x e y são variáveis ligadas entre si pelas palavras “se” e” então”. Entretanto, muitas vezes a correlação ocorre entre mais de duas variáveis. A hipótese poderá ser simbolizada de duas formas “se x, então y, sob as condições r e s”, ou “se x1, x2 e x3, então y”. Podemos considerar que todo enunciado que toma a forma de “se x então y’’ uma hipótese, condição suficiente mas não necessária, já que muitas hipóteses, em vez de expressarem de forma condicional, o fazem de forma categórica (embora sejam equivalentes a forma condicional e nela traduzíveis).

Bunge citado por Marconi e Lakatos (2003: 130), aponta três requisitos principais à formulação das hipóteses: i) a hipótese deve ser formalmente correta e não se apresentar "vazia" semanticamente; ii) a hipótese deve estar fundamentada, até certo ponto, em conhecimento anterior; iii) a hipótese tem de ser empiricamente contrastável. Ee importante sublinharmos que a diversidades de fontes e formas de elaboração de hipóteses podem nos levar aos diversos tipos das mesmas, que tratamos no ponto que segue.

3. Classificação das Hipóteses


No que diz respeito a classificação das hipóteses, muitas são as propostas como nos apresentam Lakatos e Marconi no seu manual de metodologia científica publicada em 1989, precisamente na quarta unidade, porém segundo Gil (2008: 41–46), elas dividem-se em três tipos, nomeadamente: as casuístas; as que se referem a frequência de acontecimentos; e as que estabelecem a existência de relacções entre variáveis.

a) Hipóteses casuísticas – são aqueles que se referem a algo que ocorre em determinado caso; afirmam que um objeto, ou uma pessoa, ou um fato específico tem determinada característica. Elas são muito frequentes na pesquisa histórica, em que os fatos são tidos como "únicos", no sentido de que não se repetem.

b) Hipóteses que se referem à frequência de acontecimentos - são as que geralmente aparecem em pesquisas descritivas sobretudo no âmbito da Antropologia, Sociologia Social. De modo geral, antecipam que determinada característica ocorre, com maior ou menor intensidade, num grupo, sociedade ou cultura

1 Ex: Se elevado grau de desorganização interna na família carente (x), então maior probabilidade de marginalização do menor (y), dado baixa escolaridade do menor (r) e elevado grau de mobilidade geográftca - migração - da família (s) 2 Ex: Shakespeare nunca existiu; que as obras literárias a ele atribuídas foram na realidade escritas por outra pessoa.

Ex: o hábito de ler romances policiais é muito intenso num grupo de universitários.

c) Hipóteses que estabelecem relações entre variáveis – são as mais complexas que as dos anteriores e alguns autores consideraram que só a partir deste nível é que se tem rigorosamente hipóteses. De maneira bastante prática, pode-se dizer que variável é qualquer coisa que pode ser classificada em duas ou mais categorias: "Sexo", por exemplo, é uma variável, pois envolve duas categorias: masculino e feminino. "Classe Social" também é variável, já que envolve diversas categorias, como alta, média e baixa.

4. Importância e função das Hipóteses


Definidas como proposições que servem de base ou apoio a pesquisa, as hipóteses acabam sendo de muita importância, Kerlinger citado por Marconi e Lakatos (2010: 114-115) aponta sete factores que demonstram a importância das hipóteses:

    • i) são instrumentos de trabalho da teoria;

 

    • ii) podem ser testadas e julgadas como provavelmente verdadeiras ou falsas;

 

    • iii) constituem instrumentos para o avanço da ciência;

 

    • iv) dirigem a investigação;

 

    • v) porque são comumente formulações relacionais gerais, permitem ao pesquisador deduzir manifestações empíricas específicas, com elas correlacionadas;

 

    • vi) desenvolvem o conhecimento científico, auxiliando o investigador a confirmar (ou não) sua teoria, pois

 

    • vii) incorporam a teoria (ou parte dela) em forma testável ou quase testável.



As hipóteses têm igual importância pela função que desempenham na pesquisa, sendo que só a partir delas é que podemos ter uma ideia geral das soluções que podem vir a ser alcançadas pela pesquisa,

O papel fundamental da hipótese na pesquisa é sugerir explicações para os fatos. Essas sugestões podem ser a solução para o problema. Podem ser verdadeiras ou falsas…” (GIL, 2008: 41).


É importante sublinharmos que elas não são respostas, mas possíveis respostas. Bunge citado por Marconi e Lakatos (2003: 131–132), aponta cinco funções principais que são:

    • i) generalizar uma experiência, quer resumindo, quer ampliando os dados empíricos disponíveis;

 

    • ii) desencadear inferências, atuando como afirmações ou conjecturas iniciais sobre o "caráter", a "quantidade" ou as "relações" entre os dados;

 

    • iii) servir de guia à investigação;

 

    • iv) atuar na tarefa de interpretação (hipóteses explicativas) de um conjunto de dados ou de outras hipóteses;

 

    • v) funcionar como proteção de outras hipóteses.



4 Ex: quanto mais elevado for o posto de uma pessoa, maior será o conformismo em relação às normas do grupo.

CONCLUSÃO


Hipóteses são sentenças afirmativas não devendo ser tomadas com respostas já evidentes, mas sim como aquilo que se pretende demonstrar, confirmar ou refutar, a sua formulação precede o problema, funciona como apoio a investigação, embora sendo o segundo passo a ser feito na pesquisa pertence ao quinto elemento no projecto de pesquisa cientifica.

Existem vários tipos de hipóteses, dos quais destacamos as causais, aqueles que se referem a algo que ocorre em determinado caso; as que se referem à frequência de acontecimentos, antecipam que determinada característica ocorre, com maior ou menor intensidade, num grupo, sociedade ou cultura; e as que estabelecem relações entre variáveis, onde alguns autores consideraram que só a partir deste nível é que se tem rigorosamente hipóteses.

Toda pesquisa cientifica é desenvolvida parra provar ou refutar uma hipótese, daí a sua importância como elemento de projecto de pesquisa científica. De entre as suas variadas funções destacamos a sugestão de explicações para os fatos. Dissemos que se originam das mais diversas fontes: da simples observação dos fatos; de pesquisas já realizadas; a partir de teorias e outras que têm origem na intuição. Apesar de existir várias maneiras na elaboração das hipóteses destaca-se a forma “se x então y” onde x e y são variáveis.

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BIBLIOGRAFIA


GIL, Carlos António. Técnicas Pesquisa em economias e elaboração de Monografia: elaboração da monografia. 4a ed., São Paulo, Atlas, 2002.

GIL, Carlos António. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6a ed., São Paulo, Atlas, 2008.

LAKATOS, Marina; MARCONI, Eva. Fundamentação de Metodologia Cientifica. 6a ed., São Paulo, Editorial. 2007.

MARCONI, Eva; LAKATOS, Marina. Fundamentos de Metodologia Científica. 5a ed., São Paulo, atlas, 2003.