Por: Ezequiel Cumbe



Historiografias


A historiografia é o estudo da História de forma crítica, é a história da História.

Vamos nos centrar nas historiografias mais abordadas nas temáticas de história, nomeadamente, a historiografia Grega, Romana, historiografia Judaica, a historiografia Cristã Medieval e Moderna, historiografia do século do XIV até o século XIX.

Historiografia Antiga


A Historiografia antiga inicia com a descoberta da escrita no ano 4000 a.C. (quarto milénio) pelos Sumérios, e esta escrita foi designada por cuneiforme. Nesse período as explicações para os fenómenos naturais era baseada nas mitografias e cosmogonias.

Historiografia Grega


A História inicia na Grécia com Heródoto, considerado o Pai da História por ter sido o primeiro a escrever História usando fontes históricas. Heródoto divide a história em 4 períodos: a Idade do Ferro (dos Heróis); Idade do Bronze; Idade da Prata e Idade do Ouro. Outros representantes da Historiografia grega foram Políbio e Tucídides. Tucídides criticou Heródoto pelo facto de ter usado somente uma fonte histórica.

A história da Grécia subdivide-se em 5 períodos: período Pré-homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e período helenístico. Período pré-homérico – refere-se ao período anterior ao poeta Homero. Destacam-se dois povos principais, os Atenienses e os Espartanos que viviam em constantes conflitos.

Período Homérico – tempo em que Homero escreve sobre as guerras entre os povos gregos. Os Espartanos fundaram a cidade de Esparta e os Atenienses a de Atenas, e intensificam as suas rivalidades.

Período Arcaico – os Espartanos dedicaram-se mais a militarização e os Atenienses buscavam a educação e sabedoria, e isso tornou Esparta mais forte do que Atenas, o que levou, na guerra do Peloponense, a derrota de Atenas.

Período Clássico – os atenienses dominam Esparta, e cultuam-se aos deuses de Atenas.

Período Helenístico – período do surgimento de filósofos (Sócrates, Platão e Aristóteles), era a fase da busca pela sabedoria. Nesse período o homem torna-se o centro de todas as coisas, dando origem ao antropocentrismo. Toda a ciência cingia-se no homem.

Historiografia Romana


Data do século XII a.C. aquando da fundação de Roma por Rómulo. Rómulo fez de Roma uma Monarquia e se tornou seu primeiro Rei. Júlio César foi substituto de Rómulo e instaurou uma República. Por ordens de Júlio Cesar, o general Pompeei, sequestra o historiador grego Políbio para Roma, que depois passou a escrever a história de Roma.

Posteriormente, por via dum golpe de estado, César Augusto ascende ao trono. O mesmo conquista outros territórios estendendo Roma a um Império. Roma sofre decadência no ano 467, no século V.  Outros representantes da Historiografia romana foram: Tácito e Tito Lívio.

Historiografia Cristã Medieval


historiografia cristã antiga Surge com o nascimento de Cristo. Foi no período em que o Imperio Romano dominou o território da Judeia e Jesus Cristo surge como o Messias salvador de todos os homens, indo contra todo gentilismo Judeu.

O Cristianismo era mais adverso aos Judeus do que aos romanos, porém com a ascendência do imperador Diocleciano, no século III, iniciou- se uma perseguição severa aos seguidores de Cristo. Eusébio de Cesareia é considerado o fundador desta historiografia, mas o expoente máximo desta corrente foi Santo Agostinho, que trouxe a noção de processo Histórico ao juntar o Velho Testamento e o Novo Testamento. Tudo era providenciado por Deus.

Historiografia Cristã Medieval Também conhecida como Idade Média ou Idade das Trevas (pelo não progresso da ciência durante este período), que data desde a queda do Imperio Romano no ano 467 ate o Renascimento, isto é, do século V – XV. O Medievo deu-se, principalmente, aquando do saqueamento de Roma pelos povos chamados bárbaros que foram fundando diversas nações no território europeu.

O tipo de economia predominante era o feudalismo, e era um período pro-esclavagista. O centro de todas as coisas era Deus, e o clero, representado pelos membros da Igreja Católica Romana, é que coroava os reis. As fontes históricas dessa época eram de origem eclesiástica produzida nos mosteiros pelos monges.

Os escritos eram feitos na língua latina, a língua do Império Romano. A ciência era serva da Teologia, tudo era fundado em Deus e consequentemente houve uma aparente paragem no desenvolvimento do conhecimento científico, por isso considerada a Idade das Trevas.

Historiografia da Idade Moderna


A principal característica foi o Renascimento. O Renascimento foi um movimento cultural e depois politico, filosófico e cientifico que surgiu na cidade de Florença, na Itália no seculo XVI. O principal objetivo do renascimento é a revalorização dos princípios da antiguidade grega perdidos na Idade Media. Renascer significa buscar os conhecimentos da Grécia clássica que foram desvalorizados na Idade das Trevas. Foi o período de transição do feudalismo para o capitalismo.

A reforma protestante, liderada pelo alemão Martinho Lutero, de 1517, em 31 de Outubro, contra a Igreja Católica – iniciada com a pregação das 95 teses numa porta de uma paróquia em Vitemberga, foi também uma manifestação do renascimento.
As principais características são: o Humanismo, que procurava acreditar novamente nas capacidades do homem e o Racionalismo.

Historiografia do século XVII – XIX


Racionalismo – com o racionalismo dá-se a passagem de uma história pré-científica para uma história científica. O principal representante dessa corrente foi o filósofo francês René Descartes, que defendia que o conhecimento verdadeiro evidencia-se pela razão sem precisar de nenhuma revelação divina. Para Descartes deve-se usar a dúvida metódica para se chegar a verdade. A dúvida metódica contribuiu para o surgimento do método crítico de investigação histórica.

Iluminismo – a historiografia iluminista desenvolveu-se duramente o século XVIII e caracteriza-se pela consideração de existência de uma só história, existência de um só sentido da história, o alargamento do objeto de estudo da história e a existência de um elemento unificador da História.

O iluminismo acreditava que por intermédio da razão se podia resolver todos os problemas do homem; o século XVIII, por causa deste movimento, foi também foi conhecido como o século das Luzes. O principal objectivo do Iluminismo era de libertar o homem de todos os dogmas da Idade de Média através da razão sem nenhuma coação divina.

Os principais representantes são: Charles de Montesquieu, escreveu a obra O Espírito das Leis, Jean-Jacques Rousseau, escreveu a obra O Contrato Social e Voltaire.

Romantismo –. O romantismo foi um movimento cultural e artístico que surgiu na Alemanha no século XIX, que surge no contexto da revolução francesa e que buscava a concepção do Belo. O romantismo subdivide-se em Conservador, Liberal e Socialista.

O romantismo conservador era defendido pelo clero e pela nobreza, que reclamava a restauração do poder do rei e o privilégio da igreja; por sua vez o romantismo liberal ou progressista era defendido pelos burgueses, que queriam que os ideais da revolução francesa fossem implementados e que se estabelecesse um regime político burguês e por fim o romantismo socialista ou socialismo utópico, foi defendido pelos sans-cullotes (franceses),que após a revolução não viam a sua condição melhorada apenas uma mudança de opressor.

Os principais representantes do Socialismo Utópico foram: Saint Simon (França), Robert Owen (Inglaterra) e Charles Fourier (Alemanha).

Representantes do Romantismo Liberal são: François Guizot, Augustim Thierry e Julles Michelet. Positivismo – fundada por August Comte, o positivismo defendia que as ciências humanas para evoluírem deveriam usar o mesmo método das ciências exatas. No Princípio do século XX a História é marcada por uma crise.

A História vê questionada o seu grau de cientificidade, o seu objecto de estudo e seu método. O aparecimento de novas ciências socias que tinham também o homem como o seu objecto de estudo, o surgimento de novas correntes historiográficas que alargaram o campo da história e o desenvolvimento da técnica e da ciência que fez surgir novas ciências exatas, foram factores que contribuíram para a crise da História. ´

O positivismo leva a História a tomar para si os métodos não originais das ciências socias, o que complicou ainda mais a questão da História enquanto ciência que estuda o homem. O positivismo defendia que: a missão da História era de descobrir os factos e cabia a sociologia estabelecer a relação entre os factos; a neutralidade do historiador; considerava fonte histórica somente a fonte escrita; abraçavam mais as leis universais, Historicismo – seu principal percursor é o alemão Leopold Von Rank. Defendia que a História não devia seguir as leis das ciências exactas porque defendia factos particulares.

O historiador devia entender os factos que descrevia e assim abrir o caminho para o subjectivismo e o relativismo. Materialismo Histórico ou Marxismo – Karl Marx e Friedrich Engels foram os principais percursores. Defendia que a história da humanidade revela uma associação de modos de produção (esclavagismo, feudalismo, capitalismo) e através da análise dessa associação é possível extrair leis para prever o futuro da humanidade.

Defendia também, uma história de massas e não de homens importantes e a interdisciplinaridade da história, no sentido de a história ter de manter relação com as outras áreas do conhecimento.

A Escola dos Annales (1929 – 1946)


Nos meados século XX reinava o positivismo e a História era considera a ciência mãe, factual e exata. A partir do século XX a História conhece um período de crise, pois questionava-se a cientificidade da ciência-mãe:

1. Primeiro era questionada pelo Materialismo: a História deveria ser de massas, estrutural e de longa duração.

2. O estruturalismo traz uma nova definição do homem e faz com que a História perca a sua concepção do Homem.

3. O desenvolvimento das ciências socias: os cientistas tinham um novo olhar para as ciências emergentes e consequentemente para a História também.

4. As novas ciências socias ocupavam-se também de assuntos que eram exclusivamente pertencentes a História.

5. A História foi questionada quanto ao seu objecto de estudo, função e metodologia.

6. O eclodir das Guerras Mundiais.

A Escola dos Annales


Com a crise da História, em 1929 Marc Bloch e Lucien Febre fundaram a revista Annales L`histore Economique et Sociale. Eles trouxeram novas propostas para a chamada História Nova. Tinham como parceiros: Fernand Braudel e Marc Ferro.
Principais contribuições:

1. A luta contra a História Positivista tradicional: procuraram uma História global e total que seguisse o rumo das outras ciências socias.

2. O alargamento do território do Historiador: a História não deveria só estudar os reis mas sim o ser humano, estudar a todos e sem distinção de classes.

3. Antes dos Annales a História só considerava fonte histórica o documento escritos, porém depois dos Annales passa-se a considerar as fontes arqueológicas e orais.

4.o papel do Historiador: após os Annales os Historiadores deviam colocar o facto histórico no seu devido contexto, investigar, questionar e produzir conhecimento sobre esse facto.

Em 1946 Marc Bloch morre, e Lucien Febvre passa a dirigir a Escola dos Annales, dá-se início a uma nova etapa da Escola dos Annales:

1. A busca por novos objectos de estudos.

2. O alargamento da cronologia: desenvolve-se novos métodos e técnicas de investigação dando a oportunidade de expandir a história, recuando mais os anos.

3. O alargamento geográfico: o único povo que tinha história verdadeiramente naquela época eram os povos europeus mas a partir de 1946 há o alargamento geográfico, passando-se a estudar outros povos e outras civilizações.

4. A definição de uma nova metodologia de estudo.

Em 1956 morre Lucien Febvre e a Escola passa a ser dirigida por Fernand Braudel. Em 1958, Braudel publica um artigo intitulado, A História e as Ciências Socias: a longa duração, nascendo assim a História Estrutural de Braudel.

A História Estrutural trouxe um novo conceito de Tempo. Para Braudel, o tempo social difere do tempo cronológico; e o tempo histórico não pode ser estudado de forma cronológica mas segundo as transformações socias.

Braudel introduz três tipos de tempo:

1. Tempo Curto ou Curta Duração – refere-se a acontecimentos ou eventos superficiais, que não precisam de um estudo aprofundado. Ex: a explosão de uma bomba.

2. Tempo Médio ou Média Duração – compreende os acontecimentos que ocorreram de forma cíclica. O Tempo das Conjunturas. Ex: uma guerra.

3. Tempo Longo ou Longa Duração – acontecimentos que ocorreram de forma repetitiva e que a sua transformação acontece de forma lenta. O Tempo das Estruturas. Sincronia e Diacronia – para Braudel não se pode estudar uma nova época e inserir nelas características de uma época diferente, pois seria uma Anacronia. Para não cair da Anacronia, deve-se usar a sincronia e a diacronia para o estudo da História.

Sincronia é a verificação dos fenómenos históricos em cada etapa.
Diacronia é a análise profunda desses fenómenos históricos num tempo longo.

PDF