Por: Daniel Ngovene   
 

Biografia de Berkeley

 
George Berkeley foi um filosofo inglês, nascido no ano 1685 em Irlanda, proveniente de uma família protestante. Estudou matemática, lógica, filosofia e os clássicos no trinity College na Universidade de Dublin, onde que mais tarde, 1710, tornou-se professor da mesma instituição, e no mesmo ano torna-se também pastor anglicano. 
  
Em 1709 publicou a obra o ensaio para uma nova teoria da visão , no ano seguinte, publicou a obra o tratado sobre os princípios do conhecimento humano, nesta obra Berkeley mostra evidentemente a sua concepção imaterialista das coisas  e tinha fé, que esta seria um novo e irrefutável modo de combater o materialismo e a irreligião.  Mas as reacções do publico alvo, não foram nem de longe a que se esperava, tendo sido chamado de louco e negavam veemente em ler esta obra. Em 1713 mudou-se para Londres, e tenta expor a sua doutrina de uma maneira mais acessível nos diálogos entre Hylas e Filonous. Entre 1714 e 1720 viajou pela Europa, onde encontramo-lo, em Franca onde que tendo estado em Paris conheceu Malebranche pessoalmente, depois viajou também a Itália e em 1721 volta finalmente a Londres onde doutorou-se em teologia e foi nomeado decano da catedral de Derry. 
 
   
Segundo Reale e Antiseri (2005: 115), Berkeley estava convencido de que a Europa estava a beira de uma decadência moral, e apresenta ao parlamento um projecto para fundação de um colégio universitário na América para poder educar os jovens indígenas americanos, como único modo de salvaguardar a civilização e a religião, pois, no seu intender a civilização e a religião só iria sobreviver se as pessoas estivessem em condições de leva-las aos povos jovens. 
 
   
Confiante de que tenha conseguido persuadir o governo inglês sobre o seu projecto, ele viaja até a América em 1728. Mas infelizmente, o governo não chegou de enviar o subsidio necessário para poder levar avante o seu projecto. E quando este perdeu a esperança do subsidio, volta a Inglaterra e depois a Irlanda, onde em 1734, Berkeley foi nomeado bispo da pequena diocese de Cloyne, na Irlanda, tendo permanecido até poucos meses antes de sua morte. Berkeley transferiu-se para Oxford, onde morreu poucos meses depois, em 14 de Janeiro de 1753.
 

As ideias derivam apenas da sensação 

   
O paradigma que move todo o pensamento de Berkeley, é o empirista. Portanto de antemão esta excluída a possibilidade de que as ideias são conaturais aos Homens, como outrora teria afirmado Descartes. Mas se não existem ideias inatas, de onde provêm? Berkeley, responde a esta questão da seguinte maneira:
 
 
Da vista obtenho as ideias da luz e das cores, com seus vários graus e suas diferenças. Com o tato percebo o duro e o macio, o quente e o frio, o movimento e a resistência etc., tudo isso em quantidade e grau maior ou menor. 0 olfacto me fornece os odores; o gosto me da os sabores; o ouvido transmite a mente os sons, em toda sua variedade de tons e combinações". (REALE E ANTISERI, 2005:). 
     
Dito numa só palavra, as ideias provêm da sensação, ou então dos sentidos. E da combinação ou da coexistência de diferentes tipos de sensações se formam aquilo que chamamos de coisas ou de objecto. As sensações se reúnem e formam uma só coisa ou um único objecto. Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro um perfume adocicado, sinto a maciez e digo: “Percebo uma rosa”. A “rosa” é o resultado da reunião de várias sensações diferentes num único objecto. Em suma, a sensação é a única fonte das nossas ideias e os objectos nada mais são que colecções ou combinações dos diferentes tipos de sensações.
 

A crítica das  idéias abstratas 

   
Berkeley simplesmente nega a existencia de ideias abstratas pelo simples facto dele não crer que a mente humana tenha capacidade de abstrair. não existem ideias abstractas, como por exemplo de Homem, da cor,  da extensão, da casa. toda a ideia não passa senao de uma sensacao singular. Assim sendo cada coisa que o Homem imagina tem características particulares, sempre que o Homem imagina a cor, não imagina a cor em si, mas sim o amarelo, o vermelho ou qualquer outra cor particular, quando imagina a forma, vem a sua mente a questao de circulo, quadrado, cubo não a forma em si, nao posso ter a ideia de traingulo ou mesmo representar um triangulo, se nao for na forma de um triangulo escaleno ou isoscele ou ainda em um triangulo equilatero. “A ideia de Homem que me represento deve ser de um Homem branco ou negro ou moreno, reto ou curvo, alto ou baixo ou de media estatura. não posso conceber um homem que não seja nem branco, nem negro, nem de outra cor” (ROVIGHI,253), nossas idêias dizem respeito sempre a um homem particular, segundo a disposição das suas sensções. 
 
Para Berkeley, para além de a teoria de ideias abstratas não ser legitima , ela tambem é perigosa , no sentido de que nos impele a criar substratos para alem das nossas sensacoes e presumimo-las como sendo reais.  Esse est percipi (existe apenas aquilo que e enquanto percebido)
 
    
A existência das coisas consiste no serem percebidas, sendo assim só existe algo que é percebido pela mente. E não é possível que elas possam ter urna existência qualquer fora das mentes ou das coisas pensantes que as percebem, e já que as ideias devem depender de um espírito que as possa perceber para poderem existir, as que não dependem de nós dependem de Deus. Nas precisas palavras de Berkeley:
 
Digo que a mesa sobre a qual escrevo existe, isto é, que a vejo e a toco. E se ela estivesse fora de meu escritório, diria que existe, entendendo dizer que poderia percebê-la se estivesse no meu escritório ou então que há algum outro espírito que a percebe actualmente. Havia um odor, isto é, era sentido; havia um som, isto é, era ouvido; havia urna cor ou urna forma, isto é, era percebida com a vista ou com o tatoʹʹ(REALE E ANTISERI).
    
Só se pode afirmar que algo existe, quando a percebemos, assim sendo a existência de coisas ou objectos é legitimada ou autenticada a partir do seu ser percebido. Assim sendo todo o universo e tudo o que nele esta contido, só existe enquanto haver uma mente que a percebe seja ela a minha, a de qualquer outro ser criado ou mesmo a de Deus, caso contrario, não existe, pois o seu esse (existência) reside no facto de serem percebidos.
 

A ética   

Sendo Berkeley um teólogo, ele escreve uma ética totalmente virada a religião, ou seja uma ética fundamentada a partir da religião e nos ensinamentos bíblicos. Expõe as suas teorias sobre a ética numa obra que contem sete diálogos, designada o Alcífron ( o filosofo miúdo), obra esta que contém uma apologia da religião cristã contra aqueles que, promovem o supremo valor da razão, depreciando a fé e consequentemente negando também a existência de Deus e a imortalidade da alma.
 
     
O fim último do homem é a felicidade humana, não a do indivíduo, mas deve ser a felicidade geral da espécie humana, e ‘‘é impossível que os homens busquem o bem comum se não estão convencidos de que existe uma lei moral, que é a lei divina, e de que haverá uma vida futura’’ (Rovighi, 258), essa é a tese geral de Berkeley no seu pensamento ético. Mas para os que pensam que a religião, a imortalidade da alma, a existência de Deus são invenções dos chefes para manter as rédeas do povo, a vida social é possível mesmo sem fé em Deus e na imortalidade da alma. Outros livres-pensadores em ver fundar a vida social no temor de Deus, fundam-na nos vícios do homem, na busca do prazer e do benefício individual, porque os vícios privados são por si benefícios públicos. Berkeley diz que não é verdade que os vícios sejam o melhor caminho para chegar à prosperidade, pois este tem a razão, o intelecto como um instinto mais elevado que todos os outros comuns aos dos outros animais. Portanto, Berkeley diz que a ética deve basear-se na religião, numa teologia natural, pois sem reconhecer a existência de Deus, da providencia, de uma Sanção ultraterrena, não há como fundamentar as normas.
 

CONCLUSÃO    

Diante do tema vida e obra de Berkeley, parece ser crucial voltar a sublinhar que este era bispo e sua teologia não deixou de fazer parte do contributo que este dera à ciência, tendo conjugado sua fé e seu pensamento racional. O empirismo berkeliano rejeita completamente a concepção de ideias inatas, o que era de se esperar por se tratar do empirismo, mas ao ser apologista das ideias dos sentidos, introduz Deus no seu empirismo onde diz que as ideias que não dependem de nós, dependem de Deus.
Quanto a sua ética, Berkeley coloca a felicidade e o direccionamento moral do homem busca e na fé em Deus, nos recordando o pensamento de Agostinho de Hipona que conjuga ética e felicidade como perfeito conhecimento e no gozo de Deus.  
 

BIBLIOGRAFIA

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia: do humanismo à Kant. 3ªed., São Paulo, Paulus, 1990, Vol. 2.
 
ROVIGHI, Sofia Vanni, História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 5ªed., [S. l.], edições Loyola, [1999?].
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