A teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn em 3 minutos


O percurso natural que toda ciência segue é chamado de “ciência normal”. Ciência normal é quando nós seguimos um determinado modo de realizar as pesquisas científicas, tendo como referência os sucessos e fracassos de realizações do passado.

Kuhn (1998: 30) dá exemplo do período de ciência normal que se baseou na Física de Aristóteles que depois entrou em crise e tomou os Principia de Newton, sendo que esta última passou a ser a ciência normal.

Quando estamos no período de ciência normal, há um conjunto de crenças comuns, um “conjunto-padrão de métodos ou de fenómenos que todos os estudiosos […] se sentem forçados a empregar e explicar” (KUHN, 1998: 31). Esse conjunto de princípios científicos partilhados pelos cientistas é chamado de “paradigma”. Conforme nota-se, o paradigma é um termo estreitamente relacionado com ciência normal. Os paradigmas

… proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica […]. Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência normal, isto é, para a génese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada (KUHN, 1998 30-31).


A ciência normal só ocorre quando se estabelece um paradigma aceite. Segundo Kuhn (1998: 38), para ser paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras, mas não precisa (e de facto isso nunca acontece) explicar todos os factos com os quais pode ser confrontada.

Aqueles que não desejam ou não são capazes de acomodar seu trabalho ao paradigma vigente, devem prosseguir com suas pesquisas de modo isolado ou devem criar um novo grupo, uma nova comunidade científica com um novo paradigma, diferente do aceite na comunidade anterior a criação dessa nova comunidade.

A ciência normal é uma pesquisa mais especializada e esotérica, permitida pela aceitação de um paradigma único por parte de um grupo.

… devemos reconhecer que um paradigma pode ser muito limitado, tanto no âmbito como na precisão, quando de sua primeira aparição. Os paradigmas adquirem seu status porque são mais bem-sucedidos que seus competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como graves. Contudo, ser bem-sucedido não significa nem ser totalmente bem-sucedido com um único problema, nem notavelmente bem-sucedido com um grande número. De início, o sucesso de um paradigma […] é, em grande parte, uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda incompletos. A ciência normal consiste na atualização dessa promessa, atualizaçao que se obtém ampliando-se o conhecimento daqueles factos que o paradigma apresenta como particularmente relevantes, aumentando-se a correlação entre esses factos e as predições do paradigma e articulando-se ainda mais o próprio paradigma (KUHN, 1998: 44).


Na ciência normal, o cientista não tem o objectivo de trazer novas espécies de fenómenos, descobertas que vão além das capacidades de explicação do paradigma vigente. A pesquisa normal está voltada para a articulação dos fenómenos e teorias já fornecidos pelo paradigma. Os cientistas que realizam suas pesquisas fora dos padrões prescritos pelo paradigma, geralmente nem são vistos ou reconhecidos.

A ciência normal restringe drasticamente a visão do cientista. Kuhn (1998: 77-78) afirma que quando a ciência normal é bem-sucedida, ela jamais encontrará novidades no terreno dos factos ou da teoria. As novidades são um susto, uma perplexidade para o cientista normal. Conforme é explicado no trecho seguinte:

A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal. Segue-se então uma exploração mais ou menos ampla da área onde ocorreu a anomalia.

Esse trabalho somente se encerra quando a teoria do paradigma for ajustada, de tal forma que o anómalo se tenha convertido no esperado. A assimilação de um novo tipo de facto exige mais do que um ajustamento aditivo da teoria. Até que tal ajustamento tenha sido completado – até que o cientista tenha aprendido a ver a natureza de um modo diferente – o novo facto não será considerado completamente científico (KUHN, 1998: 78).

Kuhn (1998: 81) defende que as descobertas não são evidentes de imediato, mas são um processo gradual que leva seu tempo. Elas não são realizadas por um único indivíduo, mas por uma sucessão de indivíduos que acrescentam à descoberta, cada um, algo novo e mais conciso. Quando as descobertas são provadas, implicam uma modificação no paradigma, pois indicam a existência de anomalias que o paradigma vigente não consegue solucionar.

A anomalia aparece somente contra o pano de fundo proporcionado pelo paradigma. Quanto maiores forem a precisão e o alcance de um paradigma, tanto mais sensível este será como indicador de anomalias e, consequentemente, de uma ocasião para a mudança de paradigma (Cf. KUHN, 1998: 92).

Todavia, as descobertas não são as únicas fontes dessas mudanças construtivas-destrutivas de paradigmas. Os paradigmas podem também ser alterados quando suas regras fracassarem, conforme afirma Kuhn:

O fracasso das regras existentes é o prelúdio para uma busca de novas regras” (KUHN, 1998: 95).


Embora muitos cientistas não aceitem de imediato abandonar seus paradigmas quando estes detectam anomalias, tais anomalias não deixam de ser precisamente contra-argumentos dos paradigmas nos quais surgem. A substituição de um paradigma por outro gera uma “revolução científica”.

… consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior” (KUHN, 1998: 125).


As revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também seguidamente restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um aspecto da natureza, cuja exploração fora anteriormente dirigida pelo paradigma (Cf. KUHN, 1998: 126).

O sentimento de funcionamento defeituoso, que pode levar a crise, é um pré-requisito para a revolução. As revoluções científicas, para que sejam entendidas como tal, precisam parecer revolucionárias somente para aqueles cujos paradigmas sejam afetados por elas. Para observadores externos, podem parecer etapas normais de um processo de desenvolvimento (CF. KUHN, 1998: 126).

BIBLIOGRAFIA


KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas5.e