Por: Marchal

Martin Heidegger “Was heisset dekein?”


Porque é que ensinar é ainda mais difícil do que aprender?. É assim que Martin Heidegger, inicia a sua reflexão no texto “ Was heisset dukein?”. Segundo este pensador responde esta questão dizendo que: Não é porque quem ensina deva possuir uma soma maior de conhecimentos tendo-se sempre disponíveis. Ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar quer dizer fazer aprender.

Aquele que verdadeiramente ensina, não ensina mais nada que não seja a aprender. É por isso que a sua acção desperta sempre a ideia de que perto dele, propriamente dito, não se aprende nada. E isso porque entendemos por aprender uma aquisição exclusiva de conhecimentos utilizáveis, e entendemo-lo incosideradamente.(MARNOTO 1990:54)

Quem ensina só ultrapassa os aprendizes nisto: no facto de dever aprender ainda muito mais do que eles, pois que deve ensinar a fazer aprender. Quem ensina deve ser mais dócil do que o aprendiz.

De acordo com HEIDEGGER apud MARNOTO (1990:54) sustenta que:

Quem ensina esta muito menos seguro do que faz do que aqueles que aprendem. É por isso que na relação daquele que ensina e daqueles que aprendem, nem quando é uma relação verdadeira, nem autoridade do multisciente, nem a influência autoritária do que desempenha uma tarefa entram em jogo. Por isso que é uma grande coisa ser-se um ensinante, e algo totalmente diferente o ser-se um professor celebre.


Se hoje em dia onde tudo se mede pela baixeza, e consoante a baixeza, por exemplo sob o ponto de vista do lucro, ninguém quer mais tornar-se um ensinante, isso deve-se sem dúvida alguma ao que essa grande coisa implica, e à sua grandeza. Devemos manter sempre presente a verdadeira relação entre aquele que ensina e o aprendiz, se é que queremos no processamento deste curso haja aprendizagem. (Ibdem)

Filosofia e Ensino da Filosofia. “José Barata Moura”


O autor desse texto inicia a sua reflexão, citando uma passagem de Aristóteles no seu Protréptico onde diz “se algo é de filosofar que seja filosofado, se não é de filosofar, que seja filosofado, em todos os casos, é de filosofar”, neste contexto encontramos uma mensagem de que em todos os casos haja o filosofar a cerca da Filosofia e o ensino da Filosofia.

MOURA apud MARNOTO (1990: 65) nos diz que: A didáctica é a filosofia enquanto exercício, é a ocasião em que a filosofia tem para se justificar, e como tal, para se repensar. “A filosofia não só põe questões como põe em questão, questiona e questiona-se, questiona a maior parte das vezes questionando-se”. Quando nos interrogamos sobre a validade ou sobre a pertinência da filosofia estamos a filosofar, estamos no âmago do filosofar (e simultaneamente no âmago da didáctica da filosofia), ao passo que quando nos interrogamos sobre a validade das matemáticas ou da história não estamos a pensar matematicamente, nem historicamente.

As reticências sobre a Filosofia e o seu ensino  Hoje, há quem ponha não só interrogações, mas sobre tudo reticências, não apenas a filosofia, mas sobremaneira ao seu ensino tais como:

De princípio- quanto possibilidade transcendental ou fáctica do seu magistério; De meio - quanto à sua integração no sistema escolar geral: secundário ou universitário; De fim - quanto à utilidade, função e eventual ajustamento aos supostos ditames da actualidade (moderna ou "modernaça", isto é, "pós-moderna").

Vendo bem, não são problemas propriamente de hoje. Poderia argumentar-se, aduzindo como convém lauta cópia de documentos e provas, que também são ou foram problemas de ontem, e de anteontem. Sócrates, no Eutidemo, exortava Críton a que abandonasse os que exercem ou os que se ocupam da filosofia, fossem eles de boa ou de má qualidade.

Esse apartamento da frequentação dos oficialmente filósofos não o deveria impedir, porém, de pôr á prova bela e boamente a coisa mesmo, o objecto- mesmo da actividade deles (a quantos não agradaria glosar, e quiçá citar até em algum discurso de posse ou equivalente solenidade oratória, este neo-Socrático do "filosofia, sim!, filósofos, não!”, claro teriam eles próprios, ou por interposto secretário, de começar por ter lido Platão e por torcer em seguida bastante o sentido explícito da exortação socrática.

No entanto, se a primeira tarefa deixa entrever penosas dificuldades, a segunda encontra-se por certo muito facilitada pela rotina de procedimentos análogos com que somos infeliz e habitualmente confrontados).

Por seu turno, o Impiedoso, mas piadético, Aristófanes, para além de designar a morada dos filósofos como frontistério/pensadouro das almas não deixa de mimosear Sócrates com epítetos do género da investigação dos intestinos, uma vez que não cessa de sondar as suas próprias entranhas! Não se pense, porém, que a reticência e a incompreensão face à filosofia se circunscreveram apenas à crítica mais ou menos vulgar e grosseira de uma determinada imagem social dos "sofistas".