CONTEXTUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO DE KARL POPPER

 

Karl Raimund Popper nasceu aos 28 de julho de 1902, em Himmelhof, um distrito de Viena, na Áustria. De acordo com Hegenberg (1972: 15), professor de filosofia da ciência da Universidade de São Paulo (que teve a oportunidade de trocar cartas e correspondências com Popper), o ambiente em que o jovem Karl cresceu era rodeado de livros e leituras. O pai de Popper era doutorado em direito, apreciava filosofia e se interessava em realizar obras de carácter social.

Os primeiros interesses intelectuais de Karl eram, seguindo os passos do pai, de ordem social. Ele estava preocupado em estudar e compreender os aspectos da guerra e suas consequências, pois sua adolescência decorreu no período da primeira guerra mundial. Hegenberg (1972: 15) aponta que, além da influência do pai, Karl teve juntamente influência de seu amigo, Arndt, que se preocupava com os assuntos sociais. Posteriormente, Arndt associou-se a um grupo de adeptos dos discípulos do Físico Ernst Mach, que debatiam questões de epistemologia e ciência. Foi nessa altura que Popper passou a importar-se com problemas filosóficos, tais como a natureza do espaço, a origem da vida e o significado das palavras.

Aos quinze anos, em 1917, Popper teve que deixar a escola por algum tempo, devido a questões de saúde. Quando pôde voltar às aulas, ficou desiludido com o progresso que seus colegas haviam feito durante sua ausência, o que lhe fez concluir que seria melhor abandonar a escola e estudar por iniciativa própria. Após alguns meses de estudo individual, decidiu matricular-se como ouvinte na Universidade de Viena e, no ano seguinte, em 1918, ingressou como estudante regular.

No período em que Popper ingressou na Universidade de Viena, sua família perdeu todo dinheiro que tinha. Conforme o relato de Hegenberg (1972: 15), Popper teve de viver numa “parte abandonada de um velho hospital de guerra”, pois desse modo aliviaria os pais de maiores despesas.

Com pouco dinheiro nos bolsos, Popper escolheu racionalmente os cursos que lhe interessavam. Um dos cursos mais curiosos de Viena, na época, era o de matemática, ministrado por Hans Hahn, um dos primeiros membros do Círculo de Viena desde sua primeira fase em 1907. Popper estava interessado nesse curso porque via na matemática a fonte de certos “padrões de verdade” e a possibilidade de sua aplicação nas questões da física.

Em 1928, Popper defendeu sua tese de doutoramento, em que foi examinado por Bühler e Schlick. Após isso, passou a dar aulas de matemática e física nas escolas secundárias, até que entre 1926 e 1927 entrou em contato com o Círculo de Viena, através de um manifesto escrito por seu mestre Hans Hahn, com a ajuda de Carnap e Neurath.

Qual era, então, a relação de Karl Popper com o Círculo de Viena? Popper, como Wittgenstein, nunca compareceu às suas discussões semanais. No caso de Wittgenstein, porque optou por não ir; no de Popper, por não ter sido chamado. Ele registra em sua Autobiografia Intelectual que teria considerado um grande privilégio ser convidado, mas nunca recebeu um convite (EDMONDS; EIDINOW; 2010: 177).

Dado que não era convidado para as discussões semanais do Círculo de Viena, Popper decidiu manter contactos com as principais figuras do Círculo, nomeadamente: Waissman, Zielzel, Hahn, Frank, Menger, Feigl e von Mises. Segundo Hegenberg (1972: 17), geralmente, Popper encontrava-os reunidos na casa de Zielzel ou no seminário conduzido por Menger. Foi assim que teve a oportunidade de aprofundar sobre este grupo de filósofos e cientistas vienenses que defendiam que o método da ciência era o indutivo e que o critério de demarcação da cientificidade das teorias era o verificacionismo, isto é, a confirmação física das teorias e hipóteses levantadas.

A indução e o verificacionismo vienenses foram o ponto de partida para que Popper desenvolvesse sua doutrina. Dutra (2010: 157) defende uma ideia semelhante à nossa, afirmando que a doutrina de Popper “foi em parte elaborada como base de crítica aos positivistas lógicos [isto é, ao Círculo de Viena]. Também, Reale e Antiseri (1901: 1021) destacam que não a questão atualizada pelos vienenses em torno da qual Popper não pense diferente. O próprio Popper confirmou essa colocação, dizendo que “… tudo isso me fez sentir que, para cada um dos principais problemas [do Círculo de Viena], eu tinha respostas melhores – respostas mais coerentes – do que as deles” (POPPER apud EDMONDS; EIDINOW; 2010: 177).

Com estas considerações, concluímos que o pensamento de Karl Popper se desenvolve no contexto do Círculo de Viena, especificamente, em forma de refutação das teses centrais defendidas pelo Círculo. Nos pontos subsequentes do trabalho, serão apresentadas algumas das teses centrais defendidas pelo Círculo de Viena e as respetivas refutações levantadas por Popper, pois é desse modo que ele apresenta suas teses: opondo-se ao positivismo lógico.

O MÉTODO INDUTIVO E SEUS PROBLEMAS

 

  1. Das Observações Particulares aos Resultados Universais

Karl Popper é considerado um dos grandes filósofos do século XX. Suas teses foram colocadas como maneira de criticar os posicionamentos defendidos pelo positivismo lógico, que foi um movimento realizado por filósofos, físicos e matemáticos de Viena, na Áustria. Esse movimento tinha como meta principal, baseando-se no método indutivo, a unificação da ciência. Popper, como de costume, numa de suas obras criticando o positivismo lógico, afirmou que “não existe a chamada indução” (POPPER; 1972: 42).

Para alcançarmos a conclusão tirada por Popper de que a indução não existe, propomo-nos, antes de mais, apresentar os problemas da indução que foram identificados e escrutinados por este filósofo. Primeiro é importante apresentar a relação que Popper (1972: 27) faz entre os métodos indutivos e a lógica indutiva. Seguindo este propósito, assinalamos que a lógica da pesquisa científica é idêntica a lógica indutiva, que é precisamente a análise lógica dos métodos indutivos.

Tendo identificado a relação entre os métodos indutivos e a lógica indutiva, seguimos para o passo seguinte que consiste na apresentação do problema da indução. Popper (1972: 27) começa por colocar a definição comum de indução, que consiste numa inferência que conduz a resultados universais partindo de enunciados singulares (ou particulares). A questão que se coloca é: “como concluir dados universais se foram testados objectos particulares?”.

Popper mostra sua insatisfação em relação a este modo de dirigir as investigações, afirmando que “qualquer conclusão colhida deste modo sempre pode revelar-se falsa: independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos” (POPPER; 1972: 28).

A identificação deste problema procura colocar em evidência um ponto essencial: a indução não é capaz de esgotar todas as possibilidades de ocorrências abrangidas por sua posterior conclusão universal. Isto é, não interessa quantas ocorrências de cisnes brancos a pessoa observe, ainda assim não será capaz de observar todos os cisnes brancos para poder concluir firmemente que de facto todos sejam brancos. Este é o problema da indução: a questão de saber até que ponto as inferências indutivas se justificam.

  1. A Experiência e a Validação dos Resultados Indutivos

O problema da indução, segundo Popper (1972: 28), também pode ser colocado como a indagação acerca da veracidade de enunciados universais que encontrem base na experiência, isto é, que tomem como base a verificação mediante observação empírica dos factos. Contra essa ideia, Popper (1972: 28) contra-argumenta que a veracidade de um enunciado universal não pode ser conhecida através da experiência, pois uma experiência só pode descrever um enunciado singular, e não um enunciado universal.

Na interpretação de Reale e Antiseri (1901: 1021) são identificados dois tipos de indução atacados por Popper: (1) a indução repetitiva ou por enumeração; e (2) a indução por eliminação. A primeira indução é baseia-se no exemplo de Popper que já apresentamos, sobre os cisnes brancos: observa uma repetição de ocorrências, daí generaliza tal repetição, concluindo que se sempre foi assim, então sempre será assim. O segundo tipo de indução consiste em eliminar todas as teorias que consideram como sendo falsas, fazendo assim valer a teoria que restar: a teoria verdadeira. A primeira forma de indução foi refutada por Popper usando exatamente o exemplo dos cisnes brancos. A segunda forma de indução é refutada por Popper ao ressaltar que o número de teorias que concorrem para serem verdadeiras é ilimitado. Sendo assim, seria impossível eliminar todas as teorias falsas e ficar somente com a verdadeira: é um caso idêntico ao dos cisnes, onde teríamos que observar todos os cisnes para verificar se de facto todos são brancos.

O problema da indução reside precisamente no facto de não ser possível separar a indução da verificação pela experiência. É por isso que a indução não é capaz de ser uma verdade exclusivamente lógica. “Se existisse algo assim como um princípio puramente lógico de indução, não haveria problema de indução, pois, em tal caso, todas inferências indutivas teriam de ser encaradas como transformações puramente lógicas […] como no campo da lógica dedutiva” (POPPER; 1972: 28-29).

Por mais que o princípio da indução continue sendo defendido nas diversas áreas da ciência, Popper (1972: 29) não deixa de sustentar que tal princípio é supérfluo e que produz incoerências lógicas. Essas incoerências só serão evitadas, argumenta ele, se o princípio da indução for um enunciado universal.  Deste modo, nota-se que para Popper é impossível continuar a defender a indução, pois ela é irrealizável. Consequentemente, é legítima a tese de Popper que apresentamos no início: a indução não existe.

O FALSIFICACIONISMO ENQUANTO CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO DA CIÊNCIA EM KARL POPPER

 

  1. O Critério de Demarcação da Ciência Defendido Pelo Círculo de Viena

Karl Raimund Popper nasceu em 1902, em Viena. Em 1928 concluiu a licenciatura em filosofia. Um ano depois, surgiu um grupo de filósofos e cientistas em Viena que pretendiam unificar a ciência através do método experimental. Esse grupo foi conhecido como “Círculo de Viena”. Popper ficou interessado em participar das conferências realizadas pelo Círculo de Viena, mas não se afiliou ao mesmo. Nesse período, Popper percebeu que não concordava com a maioria das posições defendidas pelo Círculo, sendo uma delas o critério de demarcação da ciência.

Analisando o manifesto do Círculo de Viena (1986: 10), nota-se que se trata de um grupo filosófico que defende o empirismo na pesquisa científica dos factos, assim como a luta contra todas as formas de metafísica na ciência. Círculo trata a maioria dos problemas filosóficos como “pseudoproblemas e [são] parcialmente transformados em problemas empíricos, sendo assim submetidos ao juízo das ciências empíricas” (CARNAP, HAHN, NEURATH; 1986: 10).

A colocação acima significa que a forma dos problemas significativos para os positivistas lógicos deve ser tal que se torna logicamente possível traduzi-los para a experiência. Isso porque só o que é empírico pode ser verificável – seu critério de demarcação é a verificabilidade. Popper (1972: 41) chama esta ideia de “dogma positivista do significado”, que defende que todos os enunciados significativos são passíveis de verificação (se são verdadeiros ou falsos). Em outras palavras, “Se não houver meio possível de determinar se um enunciado é verdadeiro, esse enunciado não terá significado algum”” (WAISMANN apud POPPER; 1972: 41).

 

  1. Da Verificabilidade à Falseabilidade

O critério da verificabilidade pressupõe que se possa inferir teorias universais partindo de enunciados particulares verificados por experiência. Para Popper (1972: 41) a indução não existe. A título de exemplo, temos o famoso caso dos cisnes, onde acreditava-se que todos os cisnes fossem brancos porque até a data, só haviam sido vistos cisnes brancos. Assim sendo, para que de facto possa existir indução, seria necessário verificar se todos os cisnes são brancos. Nenhum homem seria capaz de realizar tal tarefa, o que evidencia a ilusão da indução – ela é apenas uma crença. Assim, “… as teorias nunca são empiricamente verificáveis” (POPPER; 1972: 41-42).

De modo a resolver o problema da indução, que é o mesmo que o da verificação positivista, Popper (1972: 42) afirma que devemos eleger um critério que nos permita incluir, no domínio da ciência empírica, até mesmo enunciados que não são suscetíveis de verificação, como é o caso dos cisnes brancos. Com isto, Popper avança sua proposta de tomar como critério de demarcação a falseabilidade de um sistema, de uma teoria. Um facto histórico que foi confirmado nos finais do século passado na Austrália, algumas décadas depois da publicação do livro de Popper sobre a falseabilidade das teorias, mostra que foi fotografado pela primeira vez um cisne negro. Esta constatação serviu para falsear o critério de demarcação do Círculo de Viena.

Falseabilidade, segundo Popper (1972: 42) significa que deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico. Assim, um enunciado empírico é todo aquele que admite refutação empírica. Exemplo: “estou no quarto”, é um enunciado empírico porque admite que seja refutado pela experiência. Mas “acredito que estou no quarto” não pode ser refutado pela experiência.

Um dos pontos que devemos ter em conta sobre o critério de falseabilidade é que “seu objetivo não é o de salvar a vida de sistemas insustentáveis, mas, pelo contrário, o de selecionar o que se revele, comparativamente, o melhor, expondo-os todos à mais violenta luta pela sobrevivência” (POPPER; 1972: 44).

O critério de demarcação da ciência em Popper (1972: 43) sugere que devemos esperar resultados positivos da ciência, mas obedecendo a um requisito negativo: a refutabilidade. Ele fundamenta-se, também, na ideia de que este requisito funciona como uma lei para a ciência, assim como as leis da natureza funcionam para a física. A lógica das leis é que quanto mais proíbem, mais dizem.






O MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO ENQUANTO ÚNICO MEIO PARA SE CHEGAR A VERACIDADE NA CIÊNCIA

 

  1. Prova Negativa da Cientificidade das Teorias

Com o Círculo de Viena, a história da ciência vivenciou o apogeu da exaltação do método indutivo e da investigação positiva dos factos. O modo mediante o qual se chegaria à verdade consistia em encontrar factos que fossem capazes de confirmar uma dada teoria, isto é, dar valor lógico a uma teoria. Em contrapartida, a preocupação de Popper não é de avaliar o valor lógico de uma teoria. Popper não está preocupado em provar qual experiência faz com que uma teoria seja científica, mas coloca um estudo da possibilidade de fazer arguência dos fundamentos de tal teoria.

Antes de prosseguirmos, devemos evidenciar aqui uma afirmação de Popper que é deveras importante, sobre sua concepção de “teoria científica”. Afirma ele: “só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência” (POPPER; 1972: 42).

A comprovação por experiência, diga-se de passagem, também era defendida pelos neopositivistas. O diferencial de Popper resido no ponto em que a comprovação por ele defendida resida na validação a recurso a provas empíricas em sentido negativo. Isto é, “deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico” (POPPER; 1972: 42).

Com esta assertiva, Popper (1972: 42) encaminha-nos para a afirmação de seu novo método, contrário ao indutivo positivista: o método da dedução lógica por meio de teorias e hipóteses provisórias.

O raciocínio de Popper segue uma lógica que se baseia na ideia de que se as teorias científicas são suscetíveis de serem refutadas, logo não são conclusivamente decisivos, isto é, não são teorias que uma vez provadas, permanecem válidas para sempre: não são conclusivas. Há espaço para o progresso e posterior refutação da teoria que outrora fora provada como a mais correta. Assim, a natureza das teorias científicas mostra-se cada vez mais clara, bem como o método que deve ser empregado para a realização da ciência. Mostra-se que a ciência não possui resultados decisivos, completamente verdadeiros, mas sim verossímeis. Por via disso, a ciência é feita mediante hipóteses que se aproximam da verdade.

  1. O Carácter Hipotético-Dedutivo da Falsificação

A ciência começa com problemas, problemas que estão associados à explicação do comportamento de alguns aspectos do mundo. O cientista propõe hipóteses falseáveis para solucionar os problemas. “Dizemos que uma teoria está falseada somente quando dispomos de enunciados básicos aceitos que a contradigam” (POPPER; 1972: 91).

As hipóteses são criticadas e comprovadas. Algumas são eliminadas rapidamente, outras podem ter mais êxito. Estas devem submeter-se a críticas e provas mais rigorosas. Quando finalmente é falseada uma hipótese que tenha superado com sucesso uma grande variedade de testes, surge um novo problema, que é a invenção de novas hipóteses, seguidas de novas críticas e provas que falseiam a hipótese remanescente. Isto é, Uma teoria é falseada por via de refutações e deve ser cimentada de modo hipotético para que a mesma possa se afirmar como científica. Neste sentido, sustenta-se que o progresso da ciência exige que as teorias sejam cada vez mais falseáveis.

Vale lembrar que o método dedutivo é aquele que toma como ponto de partida os enunciados universais para chegar a conclusões particulares, sendo que se pode inferir que tais conclusões estavam contidas a priori nos enunciados que serviram de ponto de partida, isto é, nos enunciados universais.

A falsificação de Popper não deve ser confundida com qualquer tipo de indução, pois ela postula que deve haver pelo menos uma teoria ou hipótese por falsear, sendo que é de natureza das teorias que sejam universais, assim, começa por colocar como verdadeira essa teoria e posteriormente procura refutá-la, de modo a descobrir se de facto ela resiste às tentativas de refutação ou não. Deste modo, mostramos que o método da falsificação contém em si o método dedutivo. Podemos notar este facto na seguinte afirmação de Popper: “O método da falsificação não pressupõe inferência indutiva, mas apenas transformações tautológicas da lógica dedutiva, cuja validade não está em questão” (POPPER; 1972: 44).





CONCLUSÃO

O pensamento de Karl Popper se desenvolve no contexto da fase ativa do Círculo de Viena, especificamente, em forma de refutação das teses centrais defendidas pelo Círculo. Não seria possível imaginar Popper sem o Círculo de Viena, pois, conforme notamos, seu critério de demarcação da ciência é uma oposição ao critério neopositivista, assim como seu método de pesquisa na ciência é uma oposição ao método indutivo neopositivista, e outros aspectos de sua filosofia são sempre em forma de oposição aos dos neopositivistas.

Dado que era o costume de Popper criticar as teses neopositivistas, afirmou, em oposição ao Círculo, que o método indutivo, a indução, não existe. É apenas um princípio é supérfluo que produz incoerências lógicas. Conforme notamos, para Popper, qualquer conclusão colhida deste princípio sempre pode revelar-se falsa. Para fundamentar sua afirmação, deu o exemplo dos cisnes brancos, em que independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos. Assim, a indução não passa de uma ilusão.

Com a indução posta em causa, era a ruína da confirmação das teorias por meio da verificação, que era o critério de demarcação da cientificidade das teorias adotado pelo Círculo de Viena. Em vez de procurar provas que fundamentam a veracidade das teorias, o critério falsificacionista busca refutar a veracidade das mesmas. Se uma teoria resistir à todas tentativas de refutação, deve ser aceite provisoriamente como verdadeira – verossímil, isto é, que se aproxima mais da verdade.

O método da falsificação não pressupõe inferência indutiva, mas apenas transformações tautológicas da lógica dedutiva, cuja validade não está em questão. Assim, as deduções são inseridas na ciência tendo em conta que ela parte de teorias e hipóteses de cunho universal, pois esta é a natureza de toda dedução. Deste modo, a ciência progride por meio de refutações constantes de teorias e hipóteses científicas.





BIBLIOGRAFIA

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EDMONDS, David; EDINOW, John. O Atiçador de Wittgenstein: a história de uma discussão de dez minutos entre dois grandes filósofos. Trad. Pedro Jorgensen Jr. 2.ed., Rio de Janeiro, DIEFEL, 2010.

HEGENBERG, Leônidas. Dados Biográficos de Karl Popper. In: A Lógica da Pesquisa Científica. Aut. Karl Popper. Trad. Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo, Cultrix, 1972.

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. Trad. Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo, Clutrix, 1972.