Capítulo V: Os Sofistas: mestres do humanismo e do relativismo
Como já estudamos em outra ocasião, a democracia direta ateniense (século V a.C.) permitiu uma liberdade considerável ao seus cidadãos (muito embora excluísse mulheres, crianças, estrangeiros e escravos), o que lhes possibilitou discutir os destinos da cidade (politikós).
É justamente nesse contexto de democracia que surgem os pensadores sofistas, mestres especializados em retórica e oratória que cobravam pelos seus ensinamentos. Ele percorriam as cidades-Estado gregas ensinando aos cidadãos as ferramentas necessárias para que estes pudessem participar da vida política. Além de filósofos os sofistas também foram grandes professores. Enquanto que os filósofos pré-socráticos estavam preocupados com a “arqué” (o elemento primordial), os sofistas se debruçaram sobre os assuntos relacionados à vida política na “pólis”.
Os principais sofistas foram Protágoras de Abdera (490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.), Hípias de Élis, Licofron e Pródicos. Poucos sabemos sobre esses pensadores, pois o que chegou até nós foram fragmentos de suas obras e os diálogos de Platão (que veremos mais adiante).
De acordo com o professor Danilo Marcondes, Protágoras foi sem dúvida o mais importante sofista da antiguidade. Ele ficou conhecido por sua máxima: “O homem é a medida de todas as coisas, do que existe por sua existência, do que não existe por sua não existência”. Com isso o filósofo quis dizer que todo o valor subjetivo está no próprio homem e que não existe uma verdade absoluta para todos – cada indivíduo constrói a sua verdade a partir de seus próprios valores.
Marcondes ainda explica que a máxima de Protágoras resume bem a doutrina dos pensadores sofistas, a saber o Humanismo e o Relativismo: o primeiro coloca o homem no centro das investigações filosóficas, enquanto o segundo indaga sobre a relativização da verdade. A verdade depende das circunstâncias em que nos encontramos enquanto a percebemos, podendo variar de pessoa para pessoa.
Muito embora criticados pelos filósofos clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles – sobretudo por cobrarem pelos seus ensinamentos e também por
relativizarem a verdade –, os sofistas foram de exímia importância para a ampliação do campo de atuação da Filosofia. Para entendermos um pouco sobre a importância desses mestres, vamos ouvir as considerações do filósofo alemão Hans Joachim Störig: “Para a história da Filosofia, o valor dos sofistas não está tanto nos diversos ensinamentos que eles deixaram, mas sim nestas três realizações: os sofistas, pela primeira vez na filosofia grega, desviaram o olhar da natureza e dirigiram-no mais amplamente para o Homem; segundo, foram os primeiros a fazer do pensamento objeto do próprio pensamento, dando início a uma crítica de suas condições, possibilidades e limites; e por último submeteram os padrões de valores éticos a uma reflexão perfeitamente racional”.
Os filósofos sofistas marcam, na história da Filosofia, o ponto de transição entre os primeiros filósofos (pré-socráticos) e os ditos filósofos clássicos (Sócrates, Platão e Aristóteles). Amados e odiados, eles foram os primeiros grandes educadores da civilização grega.
Por: Tiago Augusto Volante