O QUE NÃO ME FOI DITO
Quando fui admitido à Universidade,
na tão esperada Faculdade
e no curso dos meus sonhos,
lágrimas de alegria inundaram meus olhos.
Saí correndo com alegria,
procurando a minha mãe
para revelar-lhe essa novidade,
que toda a certeza eu tinha
que na minha família, geraria felicidade.
Com essa grande notícia,
vi a minha amada velhota
preparando um banquete
Porque finalmente,
o último filho, Doutor em potência,
tiraria a família daquela palhota.
Lembro-me que naquele dia
minha mãe trouxe à esteira
Xima com frango assado e repolho guisado,
Uma refeição que eu só comia
em dias de grandes festas,
Pois a nossa vida era tudo à maneira.
No dia seguinte, o meu pai chamou-me
E, pela primeira vez presenteou-me:
as suas duas calças confiadas
E umas botas de pedreiro, viajadas.
Meu pai saiu para um trabalho pesado
e minha mãe vendia amendoim torrado;
Depois de uma semana cheia, de trabalho imparável,
pela segunda vez, o meu amado pai presenteou-me:
um valor contado, que à Lourenço Marques levou-me.
Finalmente, lá cheguei e me formei;
o curso terminei, trabalhei e me casei;
E, por amor aos meus pais,
com a minha esposa, à casa regressei.
E quando lá cheguei,
chorei de tanta emoção
por ver de novo os meus pais
e à eles, a minha esposa apresentei.
De repente, todos ficaram confusionados,
os meus parentes embaraçados
o os meus pais emaranhados.
Mas os meus pais...
Os meus pais não me disseram
que o lugar que escolhi para "fichamento"
não era ideal para casamento
E que, ao regressar do Sul,
com a minha amada Mónica,
encontraria a menina Verónica,
filha do nosso vizinho, o tio Raul.
Também não me contaram
que as pessoas da nossa terra
ainda pensam na besteira
de que o nosso filho
quando casa no "outro lado",
para casa volta engarrafado.
E ainda, se esqueceram
que quando lá fui estudar,
não tinha problemas de vista
E que lá tem muita moça linda à vista.
Falharam mesmo por não me avisar
que ao regressar, teria mulher para casar.
Elísio Jantar, in Coisas Doudeste Mundo!