Introdução
A Educação como aparelho ideológico em Horkheimer é o tema proposto para o presente trabalho, a elaboração deste trabalho visa uma reflexão crítica a educação como um aparelho ideológico que consiste em formar indivíduos para exercer algumas actividades nas indústrias esquecendo a convivências deles na sociedade, mas não olhando para a dignidade da vida humana, mas formando os indivíduos para trabalhar nas indústrias. Este trabalho tem como pergunta fundamental: até que ponto a educação sobre pressupostos iluministas contribui para degradação do processo da educação?
O trabalho tem como objectivo geral, reflectir em torno da educação como um aparelho ideológico em Horkheimer.
Objectivos específicos: em primeiro lugar vamos explicar o esclarecimento como um processo de educação e segundo lugar vamos analisar a teoria crítica da Educação.
A nível de método trabalho fará o uso do método histórico, que consistirá em analisar como foi concebida a educação na época iluminista na perspectiva de horkheimer. Para além, deste método farei o uso de pesquisas bibliográficas e da técnica de interpretação de textos.
Como estrutura o trabalho no primeiro ponto, apresenta o esclarecimento como processo da educação, que tem como missão formar indivíduos emancipados, no segundo, e último neste caso, busca refletir sobre a teoria crítica da educação.
Educação como aparelho ideológico em Horkheimer
O esclarecimento enquanto processo da educação
O processo de esclarecimento dialético, na educação visa formar indivíduos emancipados que possa organizar de uma sociedade democrática e que tenha o conhecimentos dos seus direitos como cidadãos,que possa pensar em uma teoria crítica da educação que possa atender às suas necessidades, deixando de fora os interesses dos governantes, todos deve ter acesso a educação que lhe possibilitará adquirir conhecimento em várias áreas, que lhe tornar independente e que ajuda os outro também a desenvolver-se. Para Horkheimer a educação deve ser um processo de esclarecimento e que ajuda os indivíduos a superar o paradigma ideológico, incutindo os indivíduo o espírito crítico, que possa pensar por si mesmo com a sua própria autonomia.
A educação deve servir para a emancipação dos indivíduos dentro da sociedade e não como um aparelho ideológico como pretendia os iluministas que acreditava que só o uso da técnica podia dominar a natureza e se esquecendo do papel fundamental da educação que consiste na emancipação do indivíduo, este tipo de educação visava a dominação, faz se investigação com o propósito de dominação dos outros,
No entender de Adorno e Horkheimer (1985), existe uma relação entre a emancipação e conhecimento, e estão ligados por meio do esclarecimento uma vez que permite o progresso do pensamento . O esclarecimento visa livrar os homens do medo para fazer com que seja autônomos, de modo a superar o pensamento mitológico que consiste na imaginação para pensar a realidade do saber, visto que o processo do esclarecimento visa libertar o mundo, porém, no esclarecimento verifica-e momentos de progressão assim como de regressão que torna impossível essa libertação do homem
A razão que hoje se manifesta na ciência e na técnica é uma razão instrumental, repressiva. Enquanto o mito original se transformava em Iluminismo, a natureza se convertia em cega objetividade. Horkheimer denuncia o caráter alienado da ciência e técnica positivista, cujo substrato comum é a razão instrumental. Inicialmente essa razão tinha sido parte integrante da razão iluminista mas no decorrer do tempo ela se autonomizou, voltando-se inclusive contra as suas tendências emancipatórias. [...] A essência da dialética do esclarecimento consiste em mostrar como a razão abrangente e humanística, posta a serviço da liberdade e emancipação dos homens, se atrofiou, resultando na razão instrumental (FREITAG, 1994: 25)
Ora,observa-se que o esclarecimento tem como preocupação básica de livrar os homens do medo e colocá-los na como autônomos, de recordar que uma das características do ser humano é o esclarecimento, uma conquistada o esclarecimento passa a ser dono de si e da natureza, o humano deixa de ser um elemento entre os demais seres que constituem a natureza, passa a se adaptar às condições naturais, como clima, tempo e espaço. Ele assume a condição de senhor da natureza, antecipando-se aos seus efeitos e abandonando seus medos em relação aos fenômenos naturais que nela ocorrem.
Na perspectiva do esclarecimento, o mundo é mecanicista ( calculável), homem não ve amais a natureza como algo sagrado como acontecia na antiguidade, isto é,o mundo agora está claro, previsível, e, se possível, pode ser mudado quando necessário. O humano defende que esse esclarecimento que exerce sobre a natureza é promotor de progresso, de manutenção de poder. Com o esclarecimento, o homem abandonou suas perspectivas míticas e religiosas e pôs fim às inquietações metafísicas promovidas pela filosofia. Com a instauração da supremacia da ciência e do poder que esta exerce sobre a natureza, qualquer relação de poder justifica-se. Nessa perspectiva, o conhecimento promotor de poder não tem identidade nem está a serviço de determinado senhor, mas está a serviço da economia, no campo de batalha, no uso irrestrito e cada vez mais eficiente da técnica. Enfim, o poder promovido pelo conhecimento desencanta o mundo, desmistifica-o, tornando-o, cada vez mais, distante e objectivo da realidade humana. O mundo não constitui o humano, mas é sua propriedade, em um caráter totalitário e explorador
Horkheimer afirma que o conhecimento está a serviço da exploração e da manutenção do poder de um determinado grupo em detrimento da natureza, assim como de outros grupos de seres humanos que não integram a constituição dos esclarecidos. A grande novidade naquilo que tange ao esclarecimento moderno e contemporâneo é sua superação sobre os discursos míticos, o abandono de sua linguagem alegórica e a supremacia da ciência sobre as demais esferas do conhecimento.
Teoria Crítica da Educação
Horkheimer faz uma crítica à racionalidade instrumental que configurou um diagnóstico sobre a trajetória da racionalidade ocidental, em que se baseava na promessa de emancipar o homem e torná-lo autônomo no que concerne às suas decisões na vida, Essa forma de pensar, que vigorou na tradição ocidental teve que ser duro para eliminar as concepções míticas sobre a realidade, é nesta perspectiva que Horkheimer vai identificar a crise da razão na dita modernidade esclarecida, estava em causa crise da ética da actualidade, visto que a sua filosofia tinha preocupação em questões éticas, onde a crítica à racionalidade instrumental faz-se a partir da crítica dos valores por ela engendrados em nossa cultura. Assim, a razão que se tornou predominantemente instrumental encontrar-se-ia desvinculada de suas bases valorativas, portanto facilmente posta a serviço da dominação econômica e ideológica, o que de fato inviabilizaria pensarmos na possibilidade da constituição do indivíduo enquanto sujeito autônomo, conforme o ideal postulado pela filosofia iluminista.
Na intenção de Horkheimer, a teoria crítica da sociedade surge para encorajar uma teoria da sociedade existente considerada como um todo", mas precisamente uma teoria critica, ou seja, capaz de fazer emergir a contradição fundamental da sociedade capitalista. Em poucas palavras: o teórico crítica é teórico cuja única preocupação consiste no desenvolvimento que conduza sociedade sem exploração". A teoria crítica pretende ser uma compreensão totalizante e dialética da sociedade humana em seu conjunto e, para sermos mais exatos, dos mecanismos da sociedade industrial avançada, a fim de promover sua transformação racional que leve em conta o homem, sua liberdade, sua criatividade, seu desenvolvimento harmonioso em colaboração aberta e fecunda com os outros, ao invés de um sistema opressor e de sua perpetuação. (REALE e ANTISERI, 2006 :490)
A partir da análise que Horkheimer realiza da sociedade contemporânea, não é difícil chegarmos à constatação de que vivemos uma crise ética sem precedentes, decorrente da crise da própria razão, que se viu dividida em razão objetiva e subjetiva. A crise consistiria basicamente no facto de que o pensamento revelou-se incapaz de conceber os ideais de razão objetiva ou em muitos casos, passou a negá-los. Nesse processo, embora possamos afirmar que os conceitos, eles têm pouco efeito sobre a vida dos homens. O processo de formalização da razão trouxe muitas implicações, tanto do ponto de vista teórico quanto do prático, o caráter subjetivista da razão para Horkheimer (1976:12) contribui para determinar o objetivo em si mesmo, se é ou não desejável. Ora,para as implicações para a ética, já não haveria critérios plausíveis que pudessem orientar na ação, não havendo nenhum sentido em referir-se à verdade nas decisões morais. Nesse caso, dizer que algo é mais ou menos racional faz referência apenas ao critério da eficiência e da adequação de meios a fins. A razão ou o mais racional é visto em termos da melhor performance, portanto, do melhor desempenho. Sob a égide da razão subjetiva, descrever a natureza do mal tornou-se algo quase impossível. As evidências apresentadas pelo Horkheimer quanto à crise da razão, permite-nos dizer que os princípios morais da nossa cultura perderam a força para direcionar as nossas ações práticas. Sob os efeitos dessa crise, os interesses do mercado passaram a exercer um domínio, cada vez maior, sobre a consciência dos indivíduos.
O processo de instrumentalização ao qual a razão foi sendo submetida ao longo do processo civilizatório em que os indivíduos, embalados pela ideologia do bem-estar, já não são capazes de sentir inquietações morais, pois o que é mais interessante nessas circunstâncias é garantir a sobrevivência, evitando a todo custo o sofrimento. É nesse ponto que podemos localizar o processo de endurecimento dos indivíduos que, cada vez mais, têm de se adaptar às exigências da realidade social. Contra esse processo volumoso dos indivíduos e de sua incapacidade de se espantar diante da morte e do sofrimento, Horkheimer entende que a recuperação da sensibilidade na expectativa de poder evitar que eles se identifiquem com a crueldade, portanto com a barbárie.
Para o autor é necessário que se recupere o nível mínimo de solidariedade que pode barrar a expansão da cultura da crueldade. Afirma que se deve reaprender a deixar pessoas como nós morrerem de fome, em meio ao nosso desperdício, é crueldade; que privar crianças de assistência e cuidados dos adultos é crueldade; que tratar seres humanos como pedaços de corpos e sexos, semelhantes a garrafas de refrigerante ou embalagens de cosméticos, é crueldade, que por fim, fazer-nos acreditar que toda essa violência é sinal de progresso, modernidade e que o único caminho para tirar-nos do atoleiro em que estamos não é só crueldade, e monstruosidade.
Horkheimer acredita que, se ainda podemos fazer alguma coisa contra a crueldade, que persiste em sobreviver em cada indivíduo, como um aparelho ideológico da educação e que a todo momento pode ser activada em nome de qualquer ideologia de aparelho, o melhor é despertar as pessoas para a solidariedade e a compaixão. O que podemos fazer é insistir em uma educação que sensibilize as pessoas para o exercício da alteridade, dizendo-lhes que aqueles contra os quais elas descarregam todo o seu ódio e violência são sujeitos que, como elas, podem sofrer, amar, ser felizes ou infelizes. Esta não é uma tarefa simples, visto que qualquer discurso que se propusesse convencer as pessoas a serem mais humanas e menos cruéis não seria ouvido.
Quando Horkheimer analisa essas questões, pensa em uma educação que possa devolver às pessoas a capacidade de identificação com o outro, seja ou não do nosso grupo, partido político, etnia ou nacionalidade. Esta educação deve ocupar-se com a infância e a juventude, períodos em que os preconceitos produzidos pela sociedade têm maior poder na estruturação do caráter e da personalidade. Horkheimer passa a interessar pelos temas educacionais, dando-lhes uma abordagem filosófica, cuja preocupação está em problematizar a educação, perguntando pelos seus fins. Ao discutir o preconceito e sua força estruturante do caráter, Horkheimer alerta-nos para o quanto o mesmo, que soa aos nossos ouvidos como um suave eufemismo, oculta comportamentos e sentimentos bárbaros que a civilização até hoje não foi capaz de evitar; ao contrário, permanecem vivos e têm orientado, cada vez mais, a vida das pessoas.
No entender de Horkheimer a nossa vida está marcada, desde a infância, por preconceitos que funcionam como instrumentos que barram ou simplificam nossas experiências, mediante aquilo que vemos ou ouvimos das outras pessoas. Assim, os preconceitos são um conjunto de idéias gerais adquiridas socialmente, por meio das quais passamos, de modo consciente ou inconsciente, a valorar o mundo dos objectos e das relações sociais. para ele os preconceitos podem ter origem nos instintos de conservação, mas também podem ser frutos do amor próprio e do prestígio social que determina comportamentos proporcionais aos indivíduos. Estes últimos são mais fáceis de serem combatidos, porém os preconceitos que têm origem no instinto de autoconservação são mais difíceis de ser corrigidos do que aqueles frutos do orgulho e da arrogância. Existem outros mais obscuros que se relacionam com os preconceitos de outra forma; os que se referem ao poder, à inveja e à crueldade, que estiveram sempre presentes na história da humanidade. Esses preconceitos têm origem nas bases do processo civilizatório, que, de maneira repressiva, impôs aos indivíduos o domínio dos instintos em nome da cultura; portanto, aqui reside a dificuldade em combatê-los.
É a partir do impacto desse carácter repressivo da cultura que Horkheimer irá falar de um relativo insucesso que as instituições sociais e a educação têm tido em formar pessoas que possam dedicar-se livremente ao trabalho e à vida em sociedade, em que a felicidade do todo fosse garantida. De um modo geral, este processo acabou revelando-se infrutífero, produzindo nos indivíduos profundas “cicatrizes psíquicas”, causadas pelo carácter competitivo da sociedade ao longo da história. Se, por um lado, sempre houve esta competição, por outro lado a “razão astuciosa” sempre se encarregou de dissimular os conflitos dela oriundos, criando o verniz da convivência feliz, em que a violência, o ódio e a frieza entre os indivíduos foram ocultados.
É nesse contexto, da aparente harmonia, que os preconceitos acabam vigorando como “instintos destrutores reprimidos”, por meio dos quais o ódio, a violência e a crueldade para com o outro se manifestam. Dessa maneira os preconceitos compreendidos como estruturas que simplificam o pensamento, funcionam como a porta pela qual a “maldade reprimida” ganha passagem. Além dos aspectos inerentes ao carácter repressivo da cultura, Horkheimer chama-nos a atenção para os preconceitos produzidos pelas circunstâncias da vida social. Para ilustrar esta situação, o filósofo menciona o exemplo da criança quando chega à escola. Ela sai da casa dos pais, onde se sente confortável e amparada, e depara, na escola, com pessoas estranhas no meio das quais tem que se desenvolver. Nesse momento sente-se frágil e desprotegida. A partir de então, ela elege a própria fragilidade como sua grande inimiga. Nessas circunstâncias, prefere combater a fragilidade dos outros a combater a própria. Assim, ela se faz de forte e valente contra os colegas nos quais sua fragilidade se vê estampada.
O preconceito se converte em aversão física, em uma disposição do carácter, que alguém excepcionalmente pode passar por alto, mas não pode jamais abandonar. A renúncia obtida contra a natureza se vinga precisamente na raça com a qual em outro tempo estava unido com laços de amizade. Horkheimer chama a atenção, desse modo, para o quanto é difícil argumentar contra esses preconceitos rígidos, pois degradam o indivíduo, submetendo-o a um conceito geral, como, por exemplo: “ele é um judeu”, “ele é um cigano”, “ele é um homossexual”, “ele é negro”, e assim por diante. Nesses casos, a possibilidade de se romper com o preconceito é sempre mais remota, visto que
A porta está fechada para tudo aquilo que o outro possa expressar. Já não é considerado como um ser com quem se possa falar e poder, quem sabe, descobrir a verdade. Pertence a uma espécie inferior. As perseguições são a conseqüência lógica disso (HORKHEIMER, 1976: 183).
Nessas circunstâncias, o outro é descrito como física e moralmente diferente de nós. Depois de justificadas racionalmente as diferenças e convencidos de que o outro não é um sujeito moral como nós, podemos lançar contra ele todo o ódio e crueldade, sem que isso nos cause qualquer mal-estar. Assim, podemos dizer, de acordo com o autor, que o preconceito, ao desumanizar o outro e tratá-lo como “diferente” ou “inferior”, justifica que se pratique contra ele todo tipo de atrocidade. A discussão sobre os preconceitos e formação da personalidade autoritária estão intimamente ligados. No artigo “Preconceito e Caráter”, Horkheimer apresenta de maneira resumida alguns resultados da pesquisa realizada por Adorno nos EUA, em que se produz um diagnóstico do ódio oriundo das diferenças de religião e de raças, que resultou no livro The Authoritarian Personality (1950). Nessa pesquisa, os autores buscam identificar os elementos psicológicos que tornam as pessoas mais vulneráveis às ideologias totalitárias. Dentre esses elementos destacam-se, primeiramente, as técnicas empregadas pelos indivíduos que se identificam com práticas autoritárias, que podem ser reconhecidas nos discursos que apresentam uma visão única sobre os factos e que fazem generalizações rápidas sobre o mundo, a partir de argumentos aparentemente bem articulados. Esse tipo de pensamento ganha força por meio da repetição, eliminando nos indivíduos a resistência e a capacidade de crítica. Esses expedientes, frequentemente utilizados pelos líderes fascistas, ainda são vigentes. Não é difícil identificarmos no discurso de pessoas e grupos em nossa sociedade, essas características acima descritas. Elas se tornam mais evidentes naqueles momentos mais cruciais, em que os interesses e valores de grupos se vêem ameaçados.
Nestes casos, entende Horkheimer, ocorreria o fenômeno da introjeção, como uma tendência, real ou imaginária, a transformar em internas as oposições externas, em que os oprimidos acabariam adotando traços ideológicos, culturais e pessoais do opressor. Podemos observar que esse tipo de atitude, muitas vezes, desperta nos indivíduos o medo, ao mesmo tempo em que ativa neles o ódio contra o suposto inimigo. Esse ódio que foi reprimido no indivíduo, pela própria civilização, vem à tona agora e é canalizado contra aqueles escolhidos como diferentes e moralmente perigosos. Horkheimer resume alguns traços desse tipo de personalidade nos seguintes pontos:
Uma entrega mecânica aos valores convencionais; submissão cega à autoridade que, com ódio cego, ataca a todos os oponentes e intrusos; repúdio do comportamento introvertido; mentalidade rigidamente estereotipada; tendência à superstição; valoração moral média; visão cínica da natureza humana; projetividade (HORKHEIMER, 1976: 174).
Para Horkheimer esses indivíduos, submetidos ao processo de reificação, estão impossibilitados de realizarem “experiências”. Reportando-se à psicologia profunda, o autor vai dizer que, de um modo geral, foram pessoas que tiveram na infância um pai severo ou que padeceram a falta de carinho e que, portanto, para continuarem sobrevivendo, psiquicamente, lançam contra os outros o que lhes fizeram. Daí decorreria a sua surpreendente incapacidade para se relacionar, a pouca profundidade de seus sentimentos, inclusive para com as pessoas que, supostamente, são para ele mais próximas (...) Estes indivíduos carecem de experiências vividas.
para mudá-lo não basta, por conseguinte, ilustrar-lhes ou inculcar lhes outras convicções, senão que se trata de formar ou restabelecer neles, mediante profundos processos educativos, a capacidade de alcançar uma relação espontânea e viva com as pessoas e as coisas (HORKHEIMER, 1976: 175).
Antes de discutirmos o que significa, do ponto de vista da educação, desenvolver nos indivíduos a capacidade de alcançar uma relação espontânea com o mundo, Horkheimer alerta-nos para os obstáculos que esse trabalho teria que enfrentar. O primeiro vincula-se à própria condição dos indivíduos: a princípio todos estariam sujeitos a se comportarem de modo autoritário, pois os preconceitos estão arraigados na própria cultura. O segundo aspecto que dificultaria pensar uma educação contra o caráter autoritário diz respeito aos problemas inerentes aos processos de transformação sofridos pela família. Ele propõe uma análise social da família e do papel que o pai e a mãe antes desempenhavam, mas que hoje foi substituído pelo grupo e pela sociedade.
Nesse contexto, o pai deixou de representar um modelo para a imitação do filho. Embora a figura do pai seja substituída por outras figuras, as mudanças ocorridas na sociedade não eliminaram, definitivamente, as imagens da autoridade as quais teriam, em última instância, origem no esquema da relação pai-filho; hoje, o eventual autoritarismo do pai com relação ao filho foi substituído por grupos autoritários poderosos. Horkheimer afirma que o filho se identifica melhor com grupos que exercem a autoridade mediante a superioridade numérica do que com uma só pessoa que lhe seja próxima e que se ergue ante o jovem como um modelo ideal de superego. Dessa relação e identificação com o grupo, decorreria um superego integrado à coletividade, que funciona de maneira contínua e linear, pois faltou à criança e ao jovem a autoridade do pai contra a qual ele deveria rebelar-se. Essa ausência da autoridade irá conduzir “à fixação do caráter numa fase mais primitiva, em que se comporta da maneira como imagina ser o pai e a mãe” (HORKHEIMER, 1976: 80). O autor afirma ainda que dessa relação com a figura do pai, decorreram dois importantes elementos que podem ser acrescentados ao caráter do indivíduo: a resistência ou a submissão. O terceiro aspecto que impediria ainda a formação de uma personalidade autônoma.
Segundo Horkheimer (1976: 132), estaria no aumento da indústria do entretenimento, representada sobretudo pela televisão, rádio e propaganda, os quais conduzem as crianças a identificarem-se com valores em constante mutação. Nessas circunstâncias, poucas são as idéias que têm um carácter permanente e são apresentadas de maneira caricaturada e vaga. É o que aconteceria com algumas idéias relacionadas com o sucesso, a força e o próprio casamento. Assim, os modelos de comportamentos e valores divulgados pela mídia figuram como efêmeros e muitas vezes contraditórios, impossibilitando à criança e ao adolescente experimentarem imagens consistentes e reais de uma maneira mais profunda, que pudessem servir como referência na vida adulta.
Na educação do ser humano normal deve-se levar em conta o facto de que o desejo de poder, o ódio e a inveja são sentimentos básicos de muitas pessoas, produzidos por alguma carência. Uma educação que esteja preocupada em combater esses traços no jovem deveria proporcionar-lhe a experiência em amplitude. Ao tratar dessa experiência ampla, Horkheimer remete-nos a quatro imagens, a partir das quais busca explicar o seu significado. Cabe ressaltar que a questão fundamental que se coloca para o filósofo, a partir da qual se tornaria possível pensar numa ética, estaria condicionada à possibilidade de restabelecer nos indivíduos a capacidade para experiências que permitissem um vínculo com valores e crenças, há muito suplantados pelo pragmatismo da razão instrumental e que, ao mesmo tempo, pudessem quebrar o endurecimento produzido pelos preconceitos ao longo da civilização.
Conclusão
Feitas as observações sobre alguns obstáculos que uma educação para a autonomia, Horkheimer afirma que cabe à educação, possibilitar uma experiência viva e intensa com as pessoas e com a cultura. A primeira condição para que isso possa acontecer estaria em evitar uma educação repressiva, na base da qual poderíamos encontrar a origem de todos os males. Contra essa educação o filósofo propõe uma educação que evite a força. É sob esta óptica que ele vai tratar dos benefícios de uma educação não repressiva, para a formação da criança.
As narrativas míticas apresentam-se como uma forma de explicação sobre a origem de todas as coisas. Essa perspectiva mostra-se como um meio de entendimento, ainda que alegórico, da realidade. Todavia, essa realidade ainda é percebida por meio do encantamento com o mundo, com o deslumbramento. Com a sensibilidade, o homem busca entender os recursos que tem. As narrativas míticas, tão criticadas pelo conhecimento moderno e contemporâneo, dizem e informam dados de realidade com linguagem imprecisa e, até mesmo, inexata. Portanto, não podemos negar que a ciência elabora e constrói seu discurso lógico e exato a partir dos dados apresentados pelas narrativas míticas com o intento de refutá-los ou explicá-los com sua linguagem própria, entretanto partem do mesmo pressuposto que o mito.
Referência bibliográfica
DORNO, T. W. ;HORKHEIMER, M.(1985). Dialética do Esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro, Zahar.
FREITAG, B ( 1994 ). A teoria crítica: ontem e hoje. ed. 5. São Paulo, Brasiliense.
HORKHEIMER, M. (1976) Eclipse da razão. Trad. Sebastião Uchoa Leite. Rio de Janeiro, Editorial do Brasil.
REALE e ANTISERI. (2006). De Nietzsche a Escola de Frankfurt. Ivo Stornio, São Paulo, Paulus, Vol. 6.