Significado e Valor Social das Produções Artísticas
As obras de arte retratam a vida quotidiana de uma sociedade. Por esta razão, em parte, as obras de arte não podem pretender representar o universal, porque constituem uma expressão da visão do mundo do artista. Como a arte representa a perceção do artista do mundo em que vive, torna-se a janela através da qual a sociedade nela se revê. Ou seja, a sociedade espelha-se nas obras de arte, porque estas são a sua representação.
Nem toda a gente tem a capacidade de fazer uma leitura crítica da sociedade ou de ter um olhar antecipado da realidade e o artista pode representar a sociedade de forma crítica. Este poderá igualmente intuir o que poderá vir a ser a sociedade futura.
 
A Arte e a Moral: (Relação Mútua)
Alguns filósofos, como Platão, Aristóteles e Vico, estabelecem de uma forma mais ou menos directa a relação da arte com a moral. Assim, condenam as obras de arte que julgam moralmente censuráveis.
Platão, o primeiro filósofo a tratar do problema estético, diz que a arte é fruto do amor que impele a alma para a imortalidade. Para atingi-la, a alma gera e procria o belo, antecipando, desta feita, a vida feliz. No mundo das ideias, a alma vive feliz mediante a contemplação da beleza subsistente. Para o alcance da felicidade, na vida terrena, a alma cria o belo através de imitações da beleza.
A moral ganha ainda maior importância pela sua relação com a moral. Platão assevera que a arte deve subordinar-se à moral. Por consequência, deve ser favorecida só a arte que é útil à educação. A arte que favorece corrupção deve ser condenada e excluída. Por esta razão, Platão condena a tragédia e a comédia porque são formas de arte imitativa que se afastam da verdade (do mundo das ideias) em vez de se aproximarem dela.
 
Três são as razões que levaram Platão a condenar as artes imitativas:
 
  1. Representam os deuses e heróis com paixões humanas, perdendo respeito;
  2. Não exprimem a ideia original das coisas (é uma imitação imperfeita e, por isso, distante da verdade);
  3. São fundadas nos sentimentos e não na razão. Agita as paixões, provocando o prazer e a dor.

 

A única arte digna de ser cultivada, no entender de Platão, é a música. Esta educa para o belo e forma a alma para a harmonia interior.
Kant diz, na Crítica da Razão Prática, que a razão humana não tem somente a capacidade de conhecer, tem igualmente a capacidade de determinar a vontade para agir moralmente. Portanto, o objectivo da segunda crítica é estudar como é que a razão determina a vontade para agir moralmente. Em Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, Kant atribui às virtudes adjectivos estéticos. São belas e atraentes a compaixão e a condescendência (virtudes presentes no homem de bom coração); é sublime a virtude genuína de um homem justo, de coração nobre.
Na crítica do juízo, Kant diz que um objecto pode ser agradável, belo ou bom. O nosso interesse é captado pelo que nos agrada ou pelo que é bom, mas não pelo que é belo. O belo proporciona-nos uma satisfação desinteressada e livre. Não procuramos o prazer estético, ele acontece-nos inesperadamente. É um prazer que não depende do nosso desejo. Nós somos surpreendidos pelas formas belas. Portanto, é preciso distinguir o estético do ético, cuja separação se manifesta através do interesse, ausente no primeiro e presente no segundo. Todavia, o belo e o bom são análogos, porque:
 
  • agradam imediatamente;
  • são universalmente partilháveis;
  • são inspirados por uma forma (forma de imaginação e forma da lei moral);
  • são livres (a vontade só depende das prescrições da razão).

 

Ponto de vista diferente e contestatário foi apresentado por Beneditto Croce. Este defende que a arte é absolutamente autónoma. Para que a arte seja arte verdadeira deve ser genuína expressão dos sentimentos íntimos do artista.
Segundo Mondin, «para fazer arte verdadeira é preciso expressar aquilo que há em si mesmo» e argumenta que «quem o exprime bem é o artista. Mas o homem e o artista são duas realidades diferentes. Para se ser artista, basta expressar bem os próprios sentimentos, enquanto o homem deve ser também moral, sábio e prático. Portanto, embora não esteja sujeito à moral como artista, o artista está sujeito à moral como homem». Como assevera Croce, «se a arte está aquém da moral, não está do lado de cá nem do lado de lá, mas sob o seu império está o artista enquanto homem, que aos deveres do homem não deve escapar, e a própria arte [...] deve ser considerada como uma missão e exercitada como um sacerdócio».
Portanto, a moralidade do artista é uma realidade imanente em si, como homem. Se o artista observar as normas morais, jamais produzirá obras suceptíveis de serem classificadas como imorais, pois a obra de arte é a expressão do sentimento íntimo do artista.
 
 
 
Bibliografia

BIRIATE, Manuel Mussa, GEQUE, Eduardo R. G., Pré-Universitário – Filosofia 12, 1ª ed. Pearson Moçambique, Lda, Maputo, 2014

ARISTÓTELES, Metafísica, Coimbra. Ed. Atlântida, 1979

CASINI, P., A Filosofia da Natureza, Lisboa, Ed. Presença, 1979 

SARTRE, Jean-Paul, O Existencialismo é um Humanismo, Lisboa, Ed. Presença, 1962

MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia: Problemas, Sistemas, Autores, Obras, São Paulo, Ed. Paulinas, 1981