Fundamentação teórica

Ervas marinhas são as únicas ervas (plantas superiores) produtoras de flores, adaptadas a viverem submersas no mar, em zonas pouco profundas da costa a partir da zona eulitoral para profunda até aproximadamente 20m, zona atingidas pela luz do sol, pelo facto de realizarem a fotossíntese para a sua sobrevivência.

Características das ervas marinhas

São plantas adaptadas a viver em condições de submersão na água salgada, realizam a fotossíntese dentro da água, possui um sistema de ancoramento, etc. O seu papel estabilizador das areias permite que sedimentos se acumulem nas áreas de ocorrência tornando-as ricas.

Constituem um pequeno grupo taxinómico com apenas cerca de 60 espécies no mundo. Em Moçambique ocorrem 13 espécies de ervas marinhas, distribuídas em 3 famílias, nomeadamente: Hydrocharitaceae, Zosteraceae e Cymodoceae. As espécies que compõem estas famílias constituem 20% da diversidade mundial das ervas marinhas. Na família Hydrocharitaceae ocorrem Enhalus acoroides, Halophila minor, H. ovalis, H. stipulacea, Thalassia hemprichii, na família Zosteraceae: Nanozostera capensis, na família Cymodoceae: Cymodocea rotundata, C. serrulata, Halodule uninervis, H. wrightii, Syringodium isoetifolium, Thalassodendron ciliatum e na família Ruppiaceae: Ruppia maritima.

Tapetes de ervas marinhas

A presença de tapetes de ervas marinhas causa um aumento na biodiversidade de plantas e animais; estes servem de abrigo para animais marinhos jovens; constituem forragem e áreas de desova para maior parte das espécies animais residentes e migratórias, muitas com importância comercial, alimentar e recreativa; são também substratos para muitas espécies epífitas. São estabilizadores dos habitats da costa tropical, retém nutrientes e sedimentos carregados dos efluentes terrestres, como por exemplo dos mangais. Protegem os recifes de corais contra águas turvas. Consequentemente, previnem a erosão das praias. O sistema de rizomas e raízes asseguram areia, e são abrigos de pequenos invertebrados marinhos.

Estas plantas são consumidas por alguns animais, mas as folhas e caules estão carregadas de meiofauna, diatomáceas epifíticas, protozoários e bactérias. As ervas marinhas promovem a reciclagem de nutrientes. A taxa de produção (medido em kg de carbono por metro quadrado) das ervas marinhas, excede a taxa de produção das florestas tropicais. Esta produção estima-se em 490 toneladas de carbono, 30 toneladas de nitrogénio e 2 toneladas de fósforo por ano por hectare. A reciclagem é acelerada pela sua decomposição que é também relativamente alta.

Os tapetes de ervas marinhas são de grande valor económico e social. Economicamente, as ervas marinhas são utilizadas directamente de diversas maneiras, como por exemplo, cobertura de casas, adubo verde, forragem para o gado, são utilizadas na produção de papel, farinha (sementes de Nanozostera marina L. no México). A espécie Thalassia hemprichii é usada nas Filipinas, como salada. As sementes de Enhalus acoroides são consumidas cruas ou cozidas nas Filipinas e no período de escassez no Quénia.

As ervas marinhas também são usadas na medicina tradicional, na Índia. O valor económico global das ervas marinhas foi estimado em 19.004 USD ha-1ano-1 (Costanza et al. 1997). Os tapetes de ervas marinhas são ecossistemas da zona entre-marés. Produzem diversidade de recursos naturais e serviços do ecossistema que sustentam actividades económicas nas zonas costeiras (comunicação pessoal). Os valores económicos derivados dos tapetes de ervas marinhas são valores ecológico-económicos (comunicação pessoal). Segundo Costanza et al. (1997), o valor ecológio-económico dos tapetes de ervas marinhas, são os serviços do ecossistema, de onde deriva para as populações os bens directos e indirectos (económicos) a partir das funções ecológicas.

Os hábitos alimentares de uma comunidade são influenciados por muitas variáveis ambientais. Estudos de consumo alimentar em áreas rurais mostraram uma relação entre a dieta de uma comunidade e a ecologia da zona. A escolha e o uso de alimentos disponíveis dependem da componente ecológica.

Do ponto de vista de segurança alimentar, a população apanha dos tapetes de ervas marinhas, diversos tipos de organismos (principalmente invertebrados) comestíveis, durante 15 dias por mês na baixa-mar da maré viva, por exemplo na

Baía de Maputo. A segurança alimentar é o acesso de alimentação para uma vida saudável à toda população a todos tempos.

Importâncias de tapetes de ervas marinhas

Os tapetes de ervas marinhas são importantes como ecossistema costeiro, não só pela sua produtividade, mas também por servirem de refúgio para muitos animais bentónicos. Assim, as ervas marinhas permitem:

  • Protecção da costa contra erosão provocada pelo mar por diminuírem drasticamente o impacto das correntes marítimas;
  • O crescimento da flora e fauna marinha, como algas, camarão, moluscos, holotúrias, estrelas-do-mar e caranguejos, devido a sua alta produtividade e condições de refúgio;
  • Proporcionam alimento para as espécies marinhas em perigo de extinção (dois grandes herbív+oros marinhos), nomeadamente a tartaruga verde e dugongos;
  • A reciclagem de nutrients;
  • Facilitam a identificação de áreas poluídas por esgotos (algas verdes).

Principais Problemas tapetes de ervas marinhas

Os impactos directos que causam a destruição dos tapetes de ervas marinhas são o aumento de sedimentação devido ao corte dos mangais e aumento da carga de nutrientes. A remoção dos tapetes de ervas marinhas para criação das áreas de banho de praia nos hotéis, já foi reportada nas Maurícias. Em Maputo, no Bairro dos Pescadores, as ervas marinhas são removidas e o substrato é revirado para apanha de invertebrados comestíveis.

O conhecimento da distribuição e a possível destruição das comunidades das ervas marinhas são necessários para prognosticar impactos das diferentes actividades, nos ecossistemas das ervas marinhas. Estes impactos podem incluir a degradação do habitat, a remoção das ervas marinhas, a diminuição da diversidade específica.

O desenvolvimento económico das áreas costeiras poderá beneficiar se for feito um maneio sustentável de espécies de animais vertebrados e invertebrados das ervas marinhas, permitindo uma maior diversidade biológica e funcionamento do ecossistema. Isto pode resultar em ganhos económicos como o ecoturismo e a segurança alimentar.

Problemas ligados ao estado de conservação dos tapetes de ervas marinhas estão relacionados com factores naturais e antropogénicos:
  • Destruição de tapetes de ervas marinhas devido aos danos mecânicos das redes de arrasto;
  • Destruição de tapetes de ervas marinhas devido aos danos mecânicos das embarcações que navegam nas águas rasas;
  • Sedimentação de tapetes de ervas marinhas, devido à erosão costeira;
  • Poluição química;
  • Efeito das mudanças climáticas;
  • Colheita não sustentável de invertebrados bentónicos.

Medidas de prevenção a destruição de tapetes marinhas

  • Controlar ou proibir o uso das redes de arrasto nas zonas com ervas marinhas;
  • Promover outras artes de pesca menos destrutivas nas zonas com ervas marinhas;
  • Controlar a erosão costeira;
  • Criar áreas de conservação para as zonas mais importantes de ocorrência de ervas marinhas;
  • Diminuir ou controlar a poluição química.