A História tem um importante papel, ela é mais do que “mestra da vida” como a definiu Heródoto, um conhecimento que se pode utilizar como justificação do presente. Vivemos no seio de sociedades que utilizam a História para legitimar acções políticas, culturais e sociais, o que não é nenhuma novidade.
A presença da História na educação se justifica por muitas e variadas razões. Além de fazer parte da construção de qualquer perspectiva conceitual no marco das Ciências Sociais, ela tem, do nosso ponto de vista, um interesse próprio e auto-suficiente como disciplina de grande potencialidade formativa. Entre outras possibilidades, seleccionamos as que seguem, entendendo que o estudo da História pode servir para:
Facilitar a compreensão do presente: uma vez que não há nada no presente que não possa ser melhor compreendido através do passado. A História não tem a pretensão de ser a “única” disciplina que objectiva ajudar a compreender o presente, mas pode-se afirmar que, com ela, a compreensão do presente adquire maior riqueza e relevância.
Despertar o interesse pelo passado: o que indica que a História não é sinónimo de passado. O passado é o que ocorreu, a História é a investigação que explica e dá coerência a esse passado. Por isso, a História coloca questões fundamentais sobre esse passado a partir do presente, o que não deixa de ser uma reflexão de grande contemporaneidade e, portanto, susceptível de compromisso.
Potencializar nos alunos, um sentido de identidade: ter uma consciência das origens permite que, quando adultos, possam compartilhar valores, costumes, ideias, etc. Nossa concepção de educação não pode levar à exclusão, uma vez que a própria identidade sempre cobrará sua dimensão positiva na medida em que mobiliza na direcção de uma melhor compreensão daquilo que é distinto, o que equivale a falar de valores de tolerância e de valorização do diferente.
Ajudar os alunos a potencializar um sentido de identidade, na compreensão de suas próprias raízes culturais e da herança comum: este aspecto está intimamente ligado ao ponto anterior. Não se pode impor uma cultura padrão ou uniforme em âmbito planetário aos jovens de uma sociedade tão diversa culturalmente como a actual. Sem dúvida, é certo que compartilhamos uma grande parte da cultura comum. É necessário colocar esta herança em seu contexto preciso..
Contribuir para o conhecimento e a compreensão de outros países e culturas do mundo actual: definitivamente, a História há-de ser um instrumento para ajudar a valorizar os “demais”. Países como os nossos, os quais viveram isolados por razões históricas e políticas, devem compensar essa situação fomentando a compreensão em relação a outras sociedades próximas ou exóticas.
Contribuir para o desenvolvimento das faculdades mentais por meio de um estudo disciplinado: uma vez que a História depende em grande medida da investigação rigorosa e sistemática. O conhecimento histórico é uma disciplina para a formação de ideias sobre os factos humanos, o que permite a formulação de opiniões e análises muito mais estritas e racionais sobre as coisas. O processo que leva a isto é um excelente exercício intelectual.
Introduzir os alunos em um conhecimento e no domínio de uma metodologia rigorosa, própria dos historiadores: as habilidades requeridas para reconstruir o passado podem ser úteis para a formação do aluno. O método histórico, como se discutirá mais adiante, pode ser simulado no âmbito didáctico, estimulando as capacidades de análise, inferência, formulação de hipóteses, etc.
Enriquecer outras áreas do currículo, uma vez que o alcance da História é imenso: por organizar “todo” o passado, seu estudo serve para fortalecer outros ramos do conhecimento; é útil para a literatura, para a filosofia, para o conhecimento do progresso científico, para a música. De facto, há muitas disciplinas que não se pode estudar sem conhecer algo da História e de sua história. Todos estes elementos configuram um mundo rico em possibilidades formativas, que podem tomar diferentes formas conceituais, plenamente coerentes com os limites e conteúdos das Ciências Sociais no contexto da educação.
Conforme explicita Jacques Le Goff (1994), deve haver um vínculo entre a história e a memória porque é na memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória colectiva sirva para libertação e não para a servidão dos homens.
Todavia, a valorização da memória como forma de recuperar a história de vida individual e colectiva. A questão da memória impõe-se por ser base da identidade, e é pela memória que se chega á história local. Além da memória das pessoas, escrita ou recuperada pela oralidade, existem “lugares da memória”, expressos por monumentos, praças, edifícios públicos ou privados, mas preservados como património histórico. Os vestígios do passado de todo e qualquer lugar, de pessoas e de coisas, de paisagens naturais ou construídas tornam-se objecto de estudo