Os povos de pele negra oriundos da África têm sido agentes activos do desenvolvimento humano em todo o mundo. Durante a Alta Antiguidade eles povoaram o mundo e alcançaram os primeiros avanços tecnológicos (ex: Civilização Egípcia). Mais tarde, durante a Antiguidade, continuavam presentes em todo o mundo e também viajaram novamente, levando sua influência da África para a Ásia, a Europa e as Américas. Viveram apenas uma ínfima parte de seu tempo histórico amarrados aos grilhões da escravidão no sistema mercantil europeu e, nas épocas de cativeiro e colonização, sempre criaram cultura e conhecimento.

A Condição do africano (no tempo da civilização) representado em manuais

Nos manuais escolares de história, o outro (africano) é sistematicamente localizado num tempo diferente do ocidental e num estádio inferior de civilização e desenvolvimento humano, sendo apresentado como rudimentar e bárbaro. Esta ideia contribui para a concepção da diferença da cor da pele como distância no modo de pensar. Esta ideia naturaliza a existência de uma hierarquia entre as diferentes sociedades, contribuindo para classificar algumas sociedades como qualificadas para o estatuto de civilização e outras como vivendo ainda em condições arcaicas.

A representação do tempo e do espaço transforma a história numa sequência de sucessos morais, cuja meta obrigatória de desenvolvimento é a modernização, tal como a Europa a construiu.

A História de África nos manuais Ocidentais: O Exemplo de Portugal

Nos manuais de história em Portugal, continua-se a perpetuar visões imperialistas que emergiram nos tempos do 3º império do Estado novo. Conta-se o encontro do europeu com outros povos, mas não conta-se o que os europeus impuseram a inúmeros povos e culturas. Trata-se a escravatura e o uso forçado de pessoas para erguer monumentos pelo Mundo fora como se fosse normal e natural. Os estudantes são educados a olhar para os africanos como seres inferiores, cabendo a eles evangelizar/civilizar. Eles são os senhores da verdade. Mas cá entre nós os africanos, existe uma outra história, que não é ensinada, aquela que nunca se fala (comentário anónimo online à notícia: Manuais de História ainda contam o mundo à moda do Estado Novo.

No contexto actual, os manuais escolares de história constituem o currículo de facto, já que são frequentemente a ferramenta pedagógica mais utilizada no processo de ensino e aprendizagem (PEA). Condensando imaginários sobre história e identidade nacional, constituem objectos de análise especialmente interessantes e têm sido amplamente estudados. Porém, tanto estes estudos como os debates políticos mais amplos têm geralmente restringido a sua análise a duas questões:

a) As representações estereotipadas sobre o outro e a sua correcção;

b) O excesso de nacionalismo na educação e a aposta na história europeia e mundial como solução

Estas abordagens, ainda que levantando aspectos relevantes, não questionam a narrativa mais ampla na qual se inscrevem essas representações e que garantem a perpetuação do eurocentrismo. Pouca relevância tem sido atribuída a questões relacionadas com o eurocentrismo e o racismo na produção do conhecimento, em particular do conhecimento histórico.

Uma abordagem crítica ao eurocentrismo requer trazer a relação entre poder, conhecimento e raça para o centro dos debates sobre a história e o seu ensino. Tal abordagem é fundamental para ultrapassar a definição convencional da história como o estudo científico do passado e para se debater como tem sido construída a história nacional, europeia e mundial.

Há um provérbio africano que diz: “Quando um cavalo tem demasiados palafreneiros, arrisca-se a morrer de fome”. Ora, o número de médicos que se apressam para a cabeceira do continente doente aumenta paradoxalmente, numa altura em que se vê uma maior desobrigação em relação à África; é neste momento que se fala mais e que se constroem teorias sobre o direito e o dever de ingerência, que se parecem estranhamento com as ideologias do tempo do tráfico de negros e da conquista colonial.

Apesar da grande quantidade de reuniões, pesquisas e obras, não há uma verdadeira compreensão da África. O grande risco aqui são as imagens choque da televisão que ofendem por vezes a dignidade humana; é a confusão das sínteses que precedem muitas vezes a análise; tomam-se alguns efeitos pelas causas, alguns sintomas pela própria doença. Daí os múltiplos qualificativos muitas vezes pejorativos de que a África está vestida “avariada, esquartejada, rebentada”, etc. É o conhecimento de África que sofre de todos esses males.