Anteriormente a Clóvis, os francos, provenientes das margens inferiores do Reno, haviam conquistado todo o norte da Gália até o rio Somme. Em outra direção, suas tribos avança­ram até Treves e alcançaram o Mosela. A história das conquistas de Clóvis parece a princípio muito obscura, excetuando-se sua vitória contra Siagrius, chefe do exército romano de Soissons. Em 15 ou 18 anos, apodera-se ele de todas as regiões do norte do Loire; nada indica, porém, grandes feitos de armas, ataques armados ou mesmo de simples conquista e ocupação militar. Ao que parece, o rei reuniu sob sua autoridade numerosas colônias francas, já há muito estabelecidas nessas regiões.

Posteriormente, ao contrário, lança temíveis expedições guerreiras contra os povos vizinhos, arrebanha-lhes províncias inteiras ou então os submete a uma espécie de protetorado. Assim contra os turingios, contra os borgúndios, contra os alamanos (495 ou 505?). Auxiliado pela Igreja, após sua conversão ao cristianismo e seu batismo (em 496, 498, 499 ou 506?), destruiu completamente a potência visigótica (em 507 em Vouillé), tomando todo o seu reino até os Pireneus. Pouco depois, conquistou todas as terras das tribos francas do Reno.

Sem contar os estreitos laços que o unem aos bispos, Clóvis não aban­dona toda a herança política de Roma.

Em seguida a Vouillé, em Tours, recebe as tábuas consulares enviadas pelo imperador de Constantinopla, Anastácio, e, de livre iniciativa, ao que parece, usa o diadema e a túnica púrpura dos imperadores. Instala sua capital em Paris, cidade onde per­maneciam numerosos e influentes os quadros galo-romanos.

Seu reino, entretanto, é essencialmente bárbaro e germânico. Toda a vida política repousa no poder absoluto do rei conquistador. O serviço do príncipe estabelece, entre os homens livres uma hierarquia precisa em favor de uma nobreza de corte formada por companheiros, fiéis ou leudes da estima do soberano. Os outros homens livres galo-romanos ou guerreiros francos perdem, pouco a pouco, seus direitos políticos e militares. Os fran­cos continuam a ser temíveis guerreiros e obtêm por muito tempo êxitos decisivos sobre seus vizinhos.

Após sua morte, em 511, os sucessores de Clóvis, que invocavam um ancestral legendário, Meroveu, e que os historia­dores chamam de merovíngios, intervêm diversas vezes em direção leste. Assassinam Segismundo, rei dos borgúndios e, à custa de duras campa­nhas. anexam toda a região (534). Os francos lançam no momento da reconquista bizantina. expedições longínquas na Itália, massacram gre­gos, romanos e godos, retomando com um butim considerável. Em 553 seus bandos aliados aos dos alamanos, alcançam a Venécia, posterior­mente a Apúlia e a Calábria a Campânia.

Suas campanhas na Turíngia, no Saxe e a seguir contra os alamanos e os bávaros propiciam-lhes Um vasto império, muitas vezes sob a forma de um protetorado sancionado por tributos, que se estende até as regiões do médio Danúbio. Sua hege­monia, por volta de meados do século VI, se faz pesar sobre todo o mundo bárbaro do Ocidente.

Mas Clóvis, que considerava o poder real como uma espécie de propriedade pessoal havia dividido seu reino entre seus quatro filhos sem levar em conta, ao que parece, os particularismos étnicos ou linguísticos, desejando somente estabelecer partes de igual valor.

A Aquitânia, tão particular, e tão frequentemente hostil, foi dividida entre os quatro filhos.

A história dos filhos e dos netos de Clóvis, a partir de então, foi apenas a de uma sequência inextricável de conflitos familiares, intrigas. assassina­tos e guerras civis. Ensangüentaram e enfraqueceram todas as regiões francas, opondo cada vez mais a Nêustria (a oeste da Gália) e a Austrásia (a leste). O poder real dissolve-se na medida em que se afirma o poder dos duques, comandantes dos exércitos, e sobretudo o dos membros do palácio, que formam uma verdadeira casta, estreita, solidária, enriquecida com a posse de grandes domínios de terras e capaz de arran­car importantes concessões aos soberanos.

Desse período confuso, muitas vezes sombrio, emergem dois persona­gens ávidos por preservar a autoridade real. Brunhilda, durante cinquenta anos conselheira ou regente de quatro gerações de reis (seu marido Sigeberto e depois seus filhos, netas e bisnetos), adversária declarada da aristocracia, foi porém vencida e supliciada em 613. Dago­berto, rei de 629 a 639, apoiado por seus bispos conselheiros, reduziu os grandes à obediência em virtude de inspeções longínquas na Borgonha e na Austrásia.

Após essa última tentativa de restauração da autoridade real somente os “prefeitos” (chefes) do palácio podem ainda se opor às pretensões dos grandes. Eles se afirmam desde meados do século VII. Pepino de Herstal (714), prefeito da Austrásia, vencedor de seus adversários numa série de impiedosas guerras, apresenta-se já como o verdadeiro soberano, funda­dor de uma nova dinastia.