Introdução

O diabetes é caracterizados por ser uma doença crónica o qual desenvolve a elevação dos níveis de glicose no sangue e de forma crescente, esta doença vem se alastrando de forma preocupante.

O exercício exerce efeito oposto ao do sedentarismo, aumentando o gasto calórico melhorando o transporte e captação de insulina, onde tanto os exercícios aeróbicos quanto os resistidos promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total, contribuindo para a perda de peso, e diminuição do risco de desenvolver diabetes e outras doenças.

Actualmente o exercício físico é aceite como agente preventivo e terapêutico de diversas enfermidades. No tratamento de doenças como a diabetes, a actividade física tem sido apontada como principal medida não farmacológica, assumindo aspecto benéfico e protector.

Segundo Silva (1999) a adopção de um estilo de vida não sedentário, calçado na prática regular de actividade física, encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das doenças crónicas degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudanças com relação a factores de risco para inúmeras outras doenças. Sugere-se inclusive, que a prática regular de actividade física pode ser, na tentativa de controle das doenças crónicas degenerativas, o equivalente ao que a imunização representa na tentativa de controle das doenças infecto-contagiosas.

Partindo da premissa que a prática de exercícios tanto aeróbios como resistidos são fundamentais para indivíduos considerados saudáveis, esta pesquisa tem como objectivo analisar os efeitos da prática de exercícios físicos na prevenção e reabilitação de doenças crónicas degenerativas, especialmente diabéticos.

Desenvolvimento

História

Diabetes Mellitus (DM) compreende uma doença milenar, acompanhando a humanidade até os dias de hoje. É um importante problema mundial de saúde, tanto em termos no número de pessoas afectadas, incapacidade, mortalidade prematura, quanto nos custos envolvidos no controle e no tratamento de suas complicações. A incidência desta doença vem aumentando principalmente nos países desenvolvidos, devido à modificação nos hábitos alimentares e com o sedentarismo dos tempos modernos.

A palavra Diabetes foi dada por um médico grego de nome Aretaeus (aproximadamente 150 AC) com o objectivo de descrever uma doença em que os enfermos urinavam muito, ou seja, diabetes em grego significa sifão (um tubo para espirar água). No século XVI, um médico iraniano Avicena, descreveu os mais importantes sintomas e consequência na evolução da diabetes: a gangrena e o colapso sexual.

Porém, em 1776, o inglês Mathew Dobson demonstrou que o diabético secretava açúcar pela urina, levando todos os médicos daquela época a pesquisarem os órgãos mais afetados pela doença. Mais tarde, aproximadamente no século XVIII, Paul Langerhans, estudante de medicina, publicou um trabalho sobre histologia do pâncreas, que descrevia um tipo desconhecido de células localizadas próximas aos acinos e que não se comunicavam com os dutos excretores, porém naquela época não pôde especificar as funções destas células.

Entre 1895 e 1921, vários estudos concluíram que as Ilhotas de Langerhans eram a porção responsável pela produção e secreção de hormônios. Em 1909 Meyer descobriu a substância hipotética produzida pelas Ilhotas de Langerhans: insulina. No entanto, este harmónio só será descoberto em 1921. Antes disso os pacientes eram tratados a base de dietas rigorosas.

A partir dessa descoberta, Frederick Bantinhg e Charles Best produziram pela primeira vez um tipo de preparação insulínica para o tratamento de diabetes em seres humanos. Eles extraíram o pâncreas de um cão, provocando o aparecimento do DM, e restauraram a actividade com injecções de extractos do pâncreas normal

Segundo Lerário (1998), o impacto da doença como problema de saúde pública decorre não apenas de seu quadro clínico directamente relacionado à hiperglicemia, mas principalmente como consequências, em suas complicações crónicas vasculares e neurológicas observada pelas alterações que ocorrem em diferentes órgãos e sistemas que se traduzem em uma piora acentuada da qualidade de vida do paciente diabético.

Pois, durante a digestão normal o corpo converte o açúcar, o amido e outros alimentos em açúcar simples chamado glicose, que é conduzida pelo sangue até as células, e introduzida no interior pela insulina, dessa forma, a glicose é convertida em energia para a utilização imediata ou armazenada para o uso próximo. No entanto, quando o DM aparece, este processo é interrompido, a glicose acumula-se no sangue, ocasionando um quadro hiperglicêmico. O excesso de glicose no sangue e a sua falta no interior da célula são as causas de todos os sintomas do Diabetes.

Sintomas

Pessoas com diabetes podem vir a apresentar alguns dos seguintes sintomas: sede excessiva, urinação frequente, perda de peso sem explicação, fome extrema, visão embaçada, falta de sensibilidade nas mãos ou pés, fadiga recorrente, feridas que demoram mais para sarar, pele muito seca, ou mais infecções do que o comum.

Quando o indivíduo apresenta o quadro de diabetes, seu organismo, não consegue fabricar insulina suficiente, ou não pode usar sua própria insulina muito bem. Quando o organismo não usa adequadamente a insulina, as células não absorvem suficientemente açúcar do sangue. O resultado é uma hiperglicemia conhecida como taxa elevada de açúcar no sangue.

A ingestão dos alimentos por indivíduos diabéticos deve ser feita de forma cautelosa e controlada, pois o transporte da glicose para o interior das células geralmente é estimulado pela insulina. A insuficiência ou a má utilização da insulina provocada pela diabetes acarreta uma série de distúrbios relacionados a síntese da glicose ingerida nos alimentos, dificultando sua utilização como energia por nosso organismo.

Tipos de diabetes

A Organização mundial de Saúde (O.M. S) classifica o diabetes em: Diabetes mellitus insulino dependente (DMID) ou tipo I; Diabetes mellitus não-insulino (DMNID) dependente ou tipo II; Diabetes mellitus da desnutrição; Diabetes mellitus gestacional; Intolerância a glicose.

Se não for bem administrada, a diabetes pode ter grande impacto na qualidade de vida das pessoas, pois estas são mais vulneráveis a muitas doenças devido ao efeito tóxico dos níveis elevados de glicose (hiperglicemia), e pelos baixos níveis de glicose (hipoglicemia).

Existem algumas enfermidades que se relacionam a diabetes outras complicações advindas da proliferação desta doença são os custos gerados para o controle da mesma, onde as entidades governamentais de saúde e a família acabam tendo gastos adicionais com encargos sociais, medicamentos, tratamentos médicos, fisioterapêuticos e cuidados especiais.

Devido aos altos custos recrutados para o tratamento da diabetes, o exercício torna-se uma alternativa viável e já reconhecida no tratamento do Diabetes tipo I, II e gestacional alem de reduzir os riscos de doenças cardiovasculares.

Diabetes tipo II

Dentre as formas que a diabetes se apresenta a forma mais comum é o tipo II, esta forma de diabetes se caracteriza principalmente por manifestar-se geralmente após os 40 anos e afecta 90-95% das pessoas com esta doença. Crianças e adolescentes acima do peso também podem ter este tipo de diabetes.

A causa precisa da diabetes tipo II não é conhecida. No entanto, alguns factores como o hereditarísmo, raça, obesidade, hipertensão, colesterol, sedentarismo, e idade avançada podem “agravar” esta doença, o que normalmente é acarretado por um estilo de vida problemático.

Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células, por muitas razões suas células não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sanguínea provocando uma anomalia chamada de “resistência insulínica”.

Este problema em relação à insulina afecta a maneira como o organismo processa os alimentos, desencadeando no organismo diversos distúrbios que ocasionam prejuízos á saúde do indivíduo.

A melhor forma de tratar a diabetes neste caso é controlar os níveis de açúcar no sangue, este tratamento pode ser farmacológico, fazendo uso de medicamentos orais e a combinação com insulina ou não.

No tratamento não farmacológico as principais medidas adaptadas incluem planejamento alimentar e exercício físico. Sendo o tratamento composto por dieta e exercício físico a primeira medida normalmente adoptada.

Ciolac afirma que, a prática regular de actividade física é eficaz para controlo e prevenção da diabetes tipo 2, quando de intensidade moderada a alta, o exercício físico reduz em média 70% os riscos de desenvolver a diabetes, melhorando a sensibilidade á insulina e tolerância á glicose e diminuindo a glicemia sanguínea desses indivíduos.

Portanto o maior gasto calórico e as demais reacções produzidas pelo exercício físico contribuem positivamente na manutenção da sua saúde, prevenção e controle da diabetes. Promovendo uma diminuição da pressão arterial, perda de peso, melhora do sistema cardiovascular e nos aspectos mentais do indivíduo, que lhe proporcionam uma maior qualidade de vida.

Prescrição de exercícios físicos para diabéticos

O programa de exercícios físicos para diabéticos, é extremamente complexo, pluridimensional e multiforme, necessitando ser complementado e interpretado por uma série de exames clínicos e laboratoriais, que ajudam a equipe do programa (médico, nutricionista e professor de educação física) a concretizar e adaptar as exigências específicas de cada diabético as suas reais condições de saúde.

De acordo com o Colégio Americano de Medicina Esportiva – ACMS (1996), os diabéticos em geral podem participar dos mesmos tipos de exercícios que os não diabéticos para o seu treinamento físico, 5 a 7 vezes por semana. Entretanto devido a grande variabilidade individual no estado de controlo e na resposta apresentada pelo paciente do exercício, é fundamental que o programa de condicionamento físico para esses tenha uma prescrição individualizada, possibilitando a aquisição saudável e segura dos seus benefícios.

Para Balke (1978), a prescrição adequada de um programa de exercício físico segue determinada sequência: o tipo de actividade a ser recomendada; Individualidade biológica; Adaptação; Intensidade, duração e frequência das sessões de exercício físico; Motivação para o comparecimento regular; Reavaliação periódica.

Para os DMID, o treinamento deve ser realizado diariamente, pelo fato de auxiliar na manutenção do padrão dieta – insulina regular, 20 a 30m, monitorando os níveis de glicemia antes e depois do exercício.

Para os DMIND, a maior frequência do treinamento (de moderada intensidade e baixo impacto), auxilia no controle do peso e no tratamento do diabetes (Pollock e Wilmore, 1993), tendo duração de 40 a 60 minutos, suficiente para um gasto de 200 a 300 kcal / sessão (Costa e Netto, 1992; Forjaz et al, 1998), em uma intensidade de 40 a 65% do VO2 máxima, devido a sua frequência e duração serem altos (Benetti, 1996). De acordo com Leon et al (1984), para diminuir os riscos de problemas músculo-esqueléticos, os primeiros estágios devem ser de curta duração e gradualmente progressivos.

Efeitos do exercícios físico no diabéticos tipo II (DMNID)

A fisiopatologia DMIND caracteriza-se basicamente pela diminuição da sensibilidade do organismo à insulina, ocorrendo predominantemente na musculatura esquelética, reflectindo na diminuição do metabolismo não oxidativo da glicose.

O exercício moderado pode melhorar a hemoglobina glicosilada e a secreção de insulina, e esses efeitos podem ocorrer independentemente da manutenção ou não da massa corporal. Isto pode sugerir que esses efeitos benéficos não são necessariamente relatados para o treinamento, mas reflectem bastante no complemento do efeito do aumento da sensibilidade à insulina após cada sessão de exercício.

A maioria dos estudos demonstram melhora em pacientes diabéticos que se exercitam regularmente, acreditando ser primeiramente devido a potencialização da acção insulínica na musculatura esquelética. O exercício ao aumentar a sensibilidade à insulina em DMIND, auxilia no controle do estado glicêmico desses pacientes, devendo portanto, ser incluído no tratamento dessa doença.

Benefícios da redução do peso corporal no diabético

Segundo Pollock & Wilmore (1993), a obesidade representa um dos principais factores de risco para o desenvolvimento da diabetes. Para Katch e Mcardle (1996), aproximadamente 40% de todos os americanos são considerados pesados demais porque a sua massa corporal está pelo menos 10% acima do “peso ideal”.

O padrão periférico é caracterizado por um maior depósito de gordura nas extremidades, principalmente nas regiões do quadril, glúteo e coxa superior, já o padrão centrípeto é definido por uma maior quantidade de gordura nas regiões do tronco, principalmente abdómen. Alguns estudos constatam que mulheres obesas com excessiva quantidade de gordura na região abdominal, apresentam risco relativo de diabetes 10 vezes maior que as não obesas com acúmulo de gordura periférica.

De acordo com Pollock & Wilmore (1993), em indivíduos obesos, parece ocorrer um aumento na secreção de insulina, acima de 100 a 200% das taxas normais e, ainda assim, uma deficiência relativa deste harmónio, tal como indicado pela glicemia elevada. À medida que o indivíduo vai se tornando obeso, ocorre uma redução no número de receptores de insulina, uma redução da sensibilidade à insulina, ou até mesmo as duas coisas (Guedes, 1998). Isto consequentemente geraria uma superprodução deste harmónio, numa tentativa de controlar os níveis glicêmicos.

Para Martins (1998), a redução da massa corporal juntamente com o exercício físico pode ser considerada prioridade no método terapêutico para o tratamento do diabetes tipo II. Vários estudos foram apresentados envolvendo o treinamento físico e diabéticos tipo I, porém os resultados não são semelhantes. Um estudo elaborado por Soman, Koivisto, Deibert, Felig e De Fronzo apud Martins (1998), não demonstraram alterações nos níveis glicêmicos de jejum, após treinamento físico. Wallberg – Henriksson et al apud Martins (1998), demonstrou em um estudo que durante 16 semanas de treinamento físico, envolvendo 1 hora de corrida, ginástica, 3 vezes por semana, não alterou o controle da glicemia. Já outros autores encontraram resultados diferentes, como Campaingne, Gillian, Spencer, Lampman apud Martins (1998), demonstrando uma redução nos níveis glicêmicos em jejum em pacientes mais jovens do tipo I.

De acordo com Forjaz et al. (1998), não existem evidências definitivas que suportem os efeitos benéficos do treinamento físico no controle glicêmico dos diabéticos tipo I. Zinman e colaboradores apud Forjaz et al (1998), observaram que o treinamento aeróbico não modifica os níveis glicêmicos, a hemoglobina glicada ou a dose de insulina em indivíduos diabéticos do tipo I.

Já num estudo realizado por Forjaz et al (1998), verificou-se que o exercício regular diminuía a necessidade diária de insulina exógena dos pacientes diabéticos do tipo I. O tipo de insulina usada, o local da injecção, o tempo entre as injecções de insulina, o início dos exercícios e o tempo entre o exercício e a última refeição são importantes variáveis, na determinação da resposta metabólica aos exercícios, nos pacientes com diabetes do tipo I.

Para Netto (2000), os diferentes resultados encontrados podem estar relacionados às características individuais, assim como a frequência e a intensidade do programa de exercício realizado. Embora não existam evidências definitivas de que o treinamento físico, por si só, melhore o controlo glicêmico do indivíduo diabético do tipo I, ele auxilia efectivamente no controle de outras patologias associadas ao diabetes.

Num estudo de Forjaz et al (1998), foi observado que uma sessão de exercício físico intenso até a exaustão em indivíduos obesos resistentes à insulina, eleva significativamente a responsividade à insulina, aumentando, principalmente, o metabolismo não-oxidativo da glicose. Braun e colaboradores apud Forjaz et al (1998), observaram, em diabéticos tipo II, que tanto o exercício leve como o moderado aumentava a sensibilidade à insulina.

Referências

COSTA, A. A, e NETO, J. S. A, Manual de Diabetes: Alimentação, Medicamentos e Exercícios. São Paulo, Sarvier, 1992.

CANCELLIÉRI, C. Diabetes e Atividade Física. São Paulo: Fontoura, 87P, 1999.

GORDON, N. F. Diabetes: Seu Manual Completo de Exercícios. São Paulo: Physis, 1997.

OCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diagnóstico e Classificação do Diabetes Mellitus e Tratamento do Diabetes Mellitus Tipo II. Disponível em: http://www.diabetes.org.br acesso em Outubro, 2003.