O que é o El Nino?

 É o aquecimento anômalo das águas superficiais na porção leste e central do oceano Pacífico equatorial, ou seja, desde a costa da América do Sul até a Linha Internacional de Data (longitude de 180o). O “El Niño” é um fenômeno oceânico-atmosférico que afeta o clima regional e global, mudando a circulação geral da atmosfera, também é um dos responsáveis por anos considerados secos ou muito secos.

Histórico do fenómeno El Nino 

 Os pescadores peruanos já conviviam com esse fenômeno que causava uma diminuição na quantidade de peixes na Costa do Peru, sempre na época do Natal, e por isso lhe deram o nome de “El Niño” (que quer dizer “meninoJesus”, em espanhol). O “El Niño” dura, em média, de 12 a 18 meses com intervalos cíclicos de 2 a 7 anos.

No geral, quando ocorre o fenômeno há mudanças no clima, os impactos são diferentes em diversas partes do globo terrestre como, por exemplo, secas no sudeste asiático e Nordeste do Brasil, invernos mais quentes na América do norte e temperaturas elevadas na costa oeste da América do sul. Todas essas mudanças ocorrem devido ao aumento da temperatura na superfície do mar nas águas do Pacífico equatorial, principalmente, na região oriental.

Por outro lado, observa-se diminuição da pressão atmosférica e aumento na temperatura do ar sobre o Pacifico oriental. Estas mudanças provocam alterações na direção e velocidade dos ventos em nível global fazendo com que as massas de ar modifiquem seu comportamento em várias regiões do planeta.

Desenvolvimento do fenômeno El Nino

 Para que o leitor possa entender um pouco sobre o fenômeno, propõese um “modelinho simples”, extraído do livro El Niño e Você, de Gilvan Sampaio de Oliveira

 Esquema representativo de uma piscina. 1. Imagine uma piscina (obviamente com água dentro), num dia ensolarado; 2. Coloque numa das bordas da piscina um grande ventilador, de modo que este seja da largura da piscina; 3. Ligue o ventilador; 4. O vento irá gerar turbulência na água da piscina; 5. Com o passar do tempo, você observará um represamento da água no lado da piscina oposto ao ventilador e até um desnível, ou seja, o nível da água próximo ao ventilador será menor que do lado oposto a ele, e isto ocorre pois o vento está “empurrando” as águas quentes superficiais para o outro lado, expondo águas mais frias das partes mais profundas da piscina.

 É exatamente isso que ocorre no Oceano Pacífico sem a presença do El Niño, ou seja, é esse o padrão de circulação que é observado. O ventilador faz o papel dos ventos alísios e a piscina, é claro, do Oceano Pacífico Equatorial. Águas mais quentes são observadas no Oceano Pacífico Equatorial Oeste. Junto à costa oeste da América do Sul as águas do Pacífico são um pouco mais frias.

Com isso, no Pacífico Oeste, devido às águas do Oceano serem mais quentes, há mais evaporação. Havendo evaporação, há a formação de nuvens numa grande área. Para que haja a formação de nuvens o ar teve que subir. O contrário, em regiões com o ar vindo dos altos níveis da troposfera (região da atmosfera entre a superfície e cerca de 15 km de altura) para os baixos níveis raramente há a formação de nuvens de chuva.

Mas até onde e para onde vai este ar? Um modo simplista de entender isso é imaginar que a atmosfera é compensatória, ou seja, se o ar sobe numa determinada região, deverá descer em outra. Se em baixos níveis da atmosfera (próximo à superfície) os ventos são de oeste para leste, em altos níveis ocorre o contrário, ou seja, os ventos são de leste para oeste. Com isso, o ar que sobe no Pacífico Equatorial Central e Oeste e desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste da América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de leste para oeste) e os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, forma o que os Meteorologistas chamam de célula de circulação de Walker, nome dado ao Sir Gilbert Walker.

A abaixo mostra a célula de circulação de Walker, bem como o padrão de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença do fenômeno El Niño. Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à costa da América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano.

Estas águas mais frias têm mais oxigênio dissolvido e vêm carregadas de nutrientes e micro-organismos vindos de maiores profundidades do mar, que vão servir de alimento para os peixes daquela região. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.

 A circulação observada no oceano Pacífico equatorial em anos normais. A célula de circulação com movimentos ascendentes no Pacífico central/ocidental e movimentos descendentes no oeste da América do Sul e com ventos de leste para oeste próximo à superfície (ventos alísios, setas brancas) e de oeste para leste em altos níveis da troposfera é a chamada célula de Walker.

No oceano Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes representadas pelas cores avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas. Pode-se ver também a inclinação da termoclima, mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e mais profunda no Pacífico ocidental. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA.

Padrão de circulação observada em anos de “El Niño” na região equatorial do oceano Pacífico. Nota-se que os ventos em superfície, em alguns casos, chegam até a mudar de sentido, ou seja, ficam de oeste para leste. Há um deslocamento da região com maior formação de nuvens e a célula de Walker fica bipartida. No oceano Pacífico equatorial podem ser observadas águas quentes em, praticamente, toda a sua extensão. A termoclina fica mais aprofundada junto à costa oeste da América do Sul, principalmente, devido ao enfraquecimento dos ventos alísios. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael

McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle, Washington, EUA .

A figura 4 mostra a diferencia entre os perfis de temperatura ao longo do equador durante o verao de um ano normal,1996, um ano de ocorrência forte do fenomino El NINO. Em 1996, as águas superficiais mais quentes, em tornos de 30°C, localizavam se no pacifico ocidental. Já no pacifico oriental, a temperatura das águas chegava a 20°C. Durante o El nino 97, as águas superficiais mais quentes foram delocadas  para parte central do oceano pacifico ao passo que as águas superficiais da parte leste do pacíficos foram aquecidas atigindo temperaturas acimas de 25°C

 As principais características oceânicas e atmosféricas associadas ao fenômeno “El Nino” são:

  • Sobre o Pacífico leste, onde há normalmente águas frias, aparecem águas mais quentes do que o normal;
  • Os ventos alísios diminuem sensivelmente sua intensidade;
  • A pressão no setor leste do oceano Pacífico fica abaixo do normal, enquanto que na parte oeste fica com valores acima do normal;
  • A presença de águas quentes e convergência de umidade do ar favorecem a formação de nuvens convectivas profundas sobre o setor centro-leste do Pacífico;
  • A célula de Walker (circulação atmosférica sentido oeste-leste) modifica-se totalmente ocasionando ar descendente sobre a Amazônia e Nordeste do Brasil;

Características de EL Nino

O El nino caracteriza-se pelo aquecimento acima do normal das águas oceânicas no centro-leste do oceano pacifico tropica, desde a costa da america do sul ( próximo ao peru e equador) aproximadamente a linha da data ( longitude dde 180° ).Os ventos  alísios  enfraquecem nas regiões ocidentais e central do pacifico , oque aumenta a profundidade que as águas quentes antigem no leste e, por sua vez esta diminue no oeste ( Varejao-silva).

A temperatura da superfície do mar eleva-se e as chuvas seguem as águas quentes em direcção ao leste, oque implica cheias no peru e secas na indonesia e australia . O deslocamento da fonte de calor, correspondente as águas mais quentes, em direcção ao leste resulta em grandes mudanças na circulação da atmosfera global, oque provoca mudança no tempo em regiões bem afastadas do pacifico tropical (Varejao-Silva 2006)

Influência do El Nino em Moçambique

Influência do fenómeno El ninõ na variabilidade climática de Moçambique

Variedade climática é um termo que designa uma tendência de alteração estatística significativa da média de um elemento climatológico ou de sua variabilidade em períodos de tempo mais extensos, como décadas ou séculos.

Fatores que contribuem nas mudanças atmosférica

E segundo Luiz Roberto e Paulo cezar a modificação da composição atmosférica, principalmente dos gases de“efeito  estufa”absorvedores de ondas eletromagnéticas longas emitidas pela Terra, por causas naturais ou antropogênicas, é considerado um grande fator de variabilidade climática.

 A ação antropogênica está presente pelas actividades industriais, queima de combustíveis fósseis, actividades agrícolas em vários aspectos (modificação do uso do solo, desmatamento, irrigação por inundação, etc.).

A modificação da concentração de ozônio, absorvedor na banda do ultra-violeta, também pode exercer efeito no balanço de energia radiante na Terra.

As atividades humanas a partir da Revolução Industrial (meados do século XVIII) têm contribuído para alterar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e para modificar as condições de cobertura de superfície, que afectam o balanço de radiação na superfície Outra causa natural pode ser o vulcanismo, que libera cinzas e poluentes (sulfatos, por exemplo), afectando o balanço de energia.

Em muitas regiões tropicais e subtropicais a volta do mundo, os fenómenos El Niño Oscilação Sul (ENOS) e o seu oposto, La Niña, têm sido apontados como sendo responsáveis por grande parte da variabilidade climática tanto sazonal como interanual. Consequentemente, na África Austral, tem-se normalmente registado precipitação significativamente abaixo da normal durante os anos de El-Niño e precipitação significativamente acima de normal nos anos de La Niña( Ministério da agricultura 2012).

Esta última causa que tem contribuído para a variação do clima é o objecto focal da nossa pesquisa, daí que por diante abordaremos acerca da sua influência na variabilidade climática tendo como foco o nosso país Moçambique

Em Moçambique o fenómeno El ninõ tem se manifestado de tal maneira ao ponto de causar secas na região sul de destacar a província de Gaza

Vamos caracterizar a influência deste fenómeno em cada província do nosso país segundo World food programme(WFP)

Maputo Província mais a sul e uma das com maior período de seca. Caracteriza-se por uma estação de fraca pluviosidade e irregular relativamente longa. A pluviosidade sazonal apresenta tendência ligeiramente negativa, a nível provincial. A cobertura da vegetação sazonal apresenta tendência de aumento moderada.

O impacto da El ninõ é relativamente modesto, a levar pluviosidade média e cobertura da vegetação menores e a estações de crescimento mais curtas, enquanto a pluviosidade melhora nas épocas do Lá Niña.

Gaza

Em geral, é a província que apresenta maior período de seca em Moçambique menor número de dias de precipitação. A faixa do litoral é mais húmida e compluviosidade mais frequente, ao contrário do interior que apresenta maior períodode seca. A variação interanual da pluviosidade sazonal é muito maior (a maior dopaís). O tempo médio de seca é o mais longo do país, juntamente com Inhambane.A tendência da pluviosidade sazonal é fracamente positiva a nível provincial,devido principalmente ao aumento da pluviosidade em Dezembro e Janeiro. A cobertura da vegetação aumenta moderadamente no pico da estação. Distante dazona do litoral, a duração da estação de crescimento pode ser muito curta (menos de 2 meses)

O impacto da ENSO é muito acentuado, com o El Niño a levar a forte pluviosidade e durante a estação, em particular de Janeiro a Março. Os eventos do La Niña levam,normalmente, ao aumento da pluviosidade de Janeiro a Março.

Inhambane A província mais húmida que apresenta grande variação interanual é tendência para o aumento da pluviosidade sazonal e dos dias de precipitação forte. O número de dias de precipitação não apresenta tendência. Pelo contrário, em Gaza a vegetação sazonal apresenta tendência decrescente moderada. A zona costeira de maior pluviosidade têm estações de crescimento muito mais longas (7 meses), ao contrário do interior que apresenta maiores períodos de seca, onde a estação de crescimento pode ser tão curta quanto 2 meses. Tal como em Gaza, os eventos do El Niño diminuem muito a pluviosidade durante a estação, enquanto os eventos do La Niña levam a um aumento da pluviosidade de Janeiro a Março

Zambézia

A província que apresenta maior pluviosidade no país, que regista a maior pluviosidade sazonal média (superior a 2.000mm) nos distritos de Lugela,Namarroi e Alto Molócue.

Apresenta um número muito elevado (o mais elevado)de dias de precipitação e a maior frequência de dias precipitação forte.No entanto, existe tendência geral para a diminuição da pluviosidade sazonal,devido principalmente à redução da pluviosidade de Outubro e Novembro. Atendência para menos dias de precipitação sazonal ocorre principalmente deFevereiro a Abril (e em Novembro) e é mais forte na zona litoral e norte.Consequentemente, a cobertura da vegetação tende a diminuir a longo prazo deforma mais acentuada na fase inicial da estação.

O El Niño reduz a pluviosidade de Janeiro a Março, particularmente na zona sul,enquanto o La Niña tem pouco impacto. O impacto geral da ENSO é fraco.

Nampula Parte da região mais húmida do país com pluviosidade de cerca de 1.500mm eelevado número de dias de precipitação. Apresenta tendência decrescente dapluviosidade sazonal na zona do litoral, decorrente da redução da pluviosidadede Novembro a Dezembro e de menos dias  de precipitação,

A cobertura da vegetação apresenta tendência decrescente, particularmente evidente na fase inicial da estação.Tanto o El Niño como o La Niña têm pouco impacto nos padrões de pluviosidade nesta província, estações do El Nino tendem, em geral, a ser mais curtas.

Tete

Apresenta tendência de aumento moderado da pluviosidade sazonal devido aumento da pluviosidade em Janeiro. O período de crescimento é relativamente curto para esta latitude, principalmente entre 2 a 3 meses, devido,principalmente, às condições da estação terminarem muito mais cedo mais semelhantes a Gaza do que às regiões de maior pluviosidade desta latitude. O El Niño aumenta a pluviosidade e a cobertura da vegetação no início daestação, mas também leva a estações mais curtas e com menos pluviosidade,enquanto o La Niña aumenta muito a pluviosidade de Janeiro a Março e leva aestações de crescimento mais longas.

Manica

 O El Niño reduz o pico da estação das chuvas (Janeiro a Março), enquanto o La Niña melhora ligeiramente a pluviosidade durante a estação, que leva a ligeira antecipação do início da estação de crescimento. As estações do La Niña aumentam a cobertura da vegetação de Novembro e Janeiro.

Sofala

 A pluviosidade sazonal ou os dias de precipitação não apresentam tendência significativa, mas a cobertura da vegetação apresenta tendência decrescente.

O El Niño reduz a pluviosidade de Janeiro a Março, enquanto o La Niña melhora ligeiramente a pluviosidade durante a estação com início antecipado da estação decrescimento.

Cabo Delgado

Província que apresenta pluviosidade elevada, tal como Nampula, com elevado número de dias de precipitação.Apresenta tendência decrescente fraca da pluviosidade sazonal, com precipitação reduzida em Novembro e Dezembro e menos dias de precipitação Consequentemente, a cobertura da vegetação apresenta tendência decrescente, principalmente, na fase inicial da estação.

O El Niño leva a um grande aumento da pluviosidade de Outubro a Dezembro, e a pouco ou nenhum impacto de Janeiro a Março.

Segundo a WFP( world food programe) a precipitação de OND tem dois padrões diferentes:em Cabo Delgado e no Niassa, a pluviosidade de OND aumenta nos anos do El Niño, uma vez que estão mais alinhadas com os padrões climáticos da África Oriental. O El Niño aumenta a pluviosidade na África Oriental até à Tanzânia e ao norte de Moçambique.

Pelo contrário, nas províncias do sul, Maputo, Gaza Inhambane, a pluviosidade de OND reduz para menos de 70% da normal em alguns locais, durante os anos do El Niño, de acordo com os padrões mais clássicos da ENSO da África Austral.

Nas regiões do centro, a pluviosidade de OND( Outubro Novembro e Dezembro) permanece significativamente próxima do normal durante os anos do El Niño. Em JFM, (Janeiro Fevereiro e Março) o efeito El Niño leva a condições mais secas na maior parte do país. A diminuição da pluviosidade de no sul do país é muito evidente e atinge menos de 70% dos valores da estação neutra. O impacto mais forte verifica-se nas províncias de Gaza, Inhambane Manica. No norte (Cabo Delgado, Niassa e Nampula) a pluviosidade durante as estações do El Niño não são,em média, significativamente diferentes das estações neutras.

Moçambique o El Niño tem trazido secas severas e cheias do sul ao norte respectivamente o que faz com que as Províncias do Sul do Pais estejam a registar perda de gado e de vidas humanas, população em insegurança alimentar e migração de pessoas a procura de mínimas condições de vida (IVAIRS, 2016). O Fenómeno El-Nino de 2015-2016 provavelmente seja o mais forte registado nos últimos 18 anos e,segundo os especialistas, deve ficar entre os três mais poderosos de que se tem conhecimento.

Referências bibliográficas

AMBIENTE BRASIL. Mudanças climáticas: oque e o el nino. Disponível em:http://ambientes.ambientebrasil.com.br/mudancas_climaticas/artigos/o_que_e_o_el_ni%C3%B1ohtml>.Acesso em: 23 dez. 2010.

Christopherson. Geosistemas. uma introdução à geografia física 7 edição eu2012

Madeiros. El ninõ lá nina sua influência no globo e seus efeitos no estudo de Piauí 2 edição te resina 1998

Varejao Silva. Meteorológia e climatologia versão digital Recife 2005

Luiz Roberto Angelocci e Paulo César 2010)

Ministério da Agricultura 2012-2013

WFP World food programe. ww.wfp.com

https://ivairs.wordpress.com10/01/2016