Agora que já entendemos o que significa o termo “filosofia”, apesar de autoexplicativo, é necessário aprofundar nosso conhecimento para visualizar o conceito com maior clareza.
Conhecer o contexto histórico do nascimento da filosofia é essencial para continuar percorrendo este caminho.
Embora seja atribuído a Pitágoras a criação da palavra, ele não foi o primeiro filósofo, em simultâneo, outros estavam inovando.
A filosofia surgiu bem próxima do local de nascimento de Pitágoras, a ilha de Samos, sendo fruto de um contexto comum entre várias das primeiras civilizações na antiguidade que, no entanto, assumiu características especificas na Grécia.
A maior parte dos filósofos gregos estavam concentrados na parte continental da Grécia, mais especificamente em uma das colônias no que atualmente é a Turquia, a cidade de Mileto.
Ali nasceram três pensadores que começaram a questionar explicações que usavam mitos para embasar a argumentação: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Ao mesmo tempo, em toda a Grécia, outros também iniciaram as primeiras tentativas de racionalizar o entendimento de tudo que os rodeava; mas como não havia ainda escrita, o registro de seus nomes e propostas não chegaram até nós.
Portanto, a invenção da filosofia pode ser atribuída ao conjunto da humanidade, sendo fruto de um contexto histórico do desenvolvimento civilizacional grego.
Por mais estranho e contraditório que possa parecer, a filosofia nasceu a partir da escravidão, tal como estava configurada entre a maioria dos povos da antiguidade.
A escravidão não tinha nenhum vinculo com o contexto étnico ou racial, isto só aconteceu na Idade Moderna, depois do inicio da colonização europeia da África e América no século XV e XVI.
Na antiguidade, tornavam-se escravos os prisioneiros de guerra e os devedores que não tinham como pagar suas dividas; independente de origem étnica-racial, geográfica, religiosa ou qualquer outro componente de diferenciação.
Organizados ao redor de lideranças que controlavam as Cidades-Estado, as disputas por recursos naturais eram muito comuns neste período, resultando em alianças e guerras brutais e constantes entre vizinhos.
A Cidade-Estado não é uma instituição exclusiva dos gregos, praticamente todas as civilizações da antiguidade nasceram em torno desta unidade política, econômica e social geograficamente delimitada; que tinha como núcleo um centro urbano soberano e independente de outros ao seu redor.
Em outras palavras, inicialmente, quando surgiram, cada cidade funcionava como um pequeno país e, depois, em alguns casos foram evoluindo para formas de governo unificadas em torno de um governante a quem se atribuía características divinas.
Este foi o caso do Egito, por exemplo, mas não da Grécia; que permaneceu fragmentada em Cidades-Estado devido ao seu litoral recortado e geografia acidentada (pequenos espaços de planície ligados ao mar mediterrâneo, cercados por morros e penhascos).
Estas populações isoladas, desenvolveram-se a partir de povos distintos e sucessivas invasões, onde os conquistadores escravizaram parte dos habitantes originais, mas também assimilaram sua cultura.
É por isto que, apesar de isolados em territórios compartimentados, os gregos construíram uma civilização, mesmo sendo politicamente fragmentada, baseada na mesma língua e cultura.
No entanto, a origem distinta fez as Cidades-Estado passarem a rivalizar entre si por zonas de pesca, pasto e produção agrícola; mantendo um certo intercâmbio diplomático e comercial, construído em nome de interesses em comum que facilmente desapareciam ao menor desentendimento.
Neste contexto, as muitas disputas entre cidades, geravam prisioneiros de guerra que eram transformados em escravos dos vencedores.
As rivalidades não eram apenas entre povos, havia também divisões internas, segmentação pela origem familiar, proximidade de parentesco com o patriarca (este, o homem mais velho, fundador da família) e a riqueza.
Esta divisão resultou em uma distribuição desigual na posse de terras e controle dos recursos, enquanto uma minoria enriqueceu, a maioria foi empobrecendo.
Aqueles que não tinham a posse de terras passaram a trabalhar para os ricos, em troca de um pagamento que permitisse a sobrevivência, depois foram se endividando e se tornaram escravos.
Quando alguém não tinha dinheiro e nem como obtê-lo através do seu trabalho, podia pegar um empréstimo dando a esposa e filhos como garantia de pagamento.
Caso não pagasse a divida, o devedor tinha sua família escravizada e podia ele mesmo se tornar escravo.
Exatamente por este motivo, as pessoas que não tinham posses eram chamadas de proletários, cujo significado é “aquele que possui como posse sua prole”, seus filhos e esposa.
O chefe da família tinha como sua propriedade o restante dos familiares mais próximos, contando com eles para gerar renda através do seu trabalho.
Na Grécia Antiga, conforme os trabalhadores livres foram desaparecendo, substituídos por endividados escravizados e prisioneiros de guerra; aqueles que possuíam estes escravos começaram a atribuir tarefas não apenas meramente braçais e domésticas aos escravizados, usando escravos de confiança para administrar suas propriedades e organizar o trabalho de outros escravizados.
Tendo escravos para fazer todos os trabalhos possíveis, os ricos puderam se permitir o ócio, que se transformou em símbolo de status, prestígio social, praticado pela minoria da população grega.
Em nossos dias, o termo “ócio” é sinônimo de repouso, um momento sem atividade alguma, em que estaríamos parados sem fazer nada, ociosos.
Entre os gregos o ócio tinha outro significado, era um tempo dedicado a reflexão, a trabalhar somente com a mente, sem um propósito utilitário, não destinado a produzir algo palpável; mas sim ideias, questionando a forma como o mundo era entendido e explicado através dos mitos.
Até o surgimento da filosofia, as opiniões eram de senso comum, crenças coletivas baseadas nas aparências, sem correspondência com a racionalização do entendimento humano.
Isto só mudou a partir do momento em que alguns poucos privilegiados, no caso os cidadãos das Cidades-Estado gregas, graças ao trabalho escravo, passaram a gozar de tempo livre para pensar, refletir sobre o mundo a sua volta.
Como os escravos até mesmo administravam as fortunas de seus senhores, passou a sobrar tempo para os ricos pudessem admirar o mundo e investigar o que existia por trás das aparências, constituindo o que depois passou a ser chamado de “ócio filosófico” ou “criativo”.