Faculdade de Letras e Ciências Sociais

 

Departamento de Sociologia


Curso: Licenciatura em Sociologia

Cadeira de: Teorias Sociológicas Contemporâneas II

3°ano- Regime: Laboral, 2° Semestre, 2021

Docentes: Prof. Dra. Nair Teles e Dr. Adriano Maurício

Discente:Isabel Tomásia Manjate

Primeira parte

    1. Qual é o contexto no qual Alain Touraine cresce e produz o seu trabalho?



Touraine nasceu em Hermanville-sur-Mer, em 3 de Agosto de 1925. É um sociólogo francês conhecido por sua obra dedicada à sociologia do trabalho e dos movimentos sociais. Tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial". Seu trabalho é baseado na "sociologia de acção" e seu principal ponto de interesse tem sido o estudo dos movimentos sociais.Touraine nasceu em Hermanville-sur-Mer, em 3 de Agosto de 1925. É um sociólogo francês conhecido por sua obra dedicada à sociologia do trabalho e dos movimentos sociais. Tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial". Seu trabalho é baseado na "sociologia de acção" e seu principal ponto de interesse tem sido o estudo dos movimentos sociais.

Touraine acredita que a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais. Tem estudado e escrito acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, particularmente na América Latina e, mais recentemente, na Polónia, onde observou e ajudou ao nascimento do Solidarność e desenvolveu um método de pesquisa denominado intervenção sociológica. Touraine ganhou imensa popularidade na América Latina bem como na Europa Continental. No entanto, esse reconhecimento tem tardado a chegar dos países do mundo anglo-saxão. De cerca de vinte livros que publicou, menos da metade foi traduzida para a Língua Inglesa.

    1. Com que autores ele discute/dialoga?



Diáloga com os autores clássicos da sociologia como Durkheim e Marx e foi influenciado pelas ideias de Howard Becker na sua obra Outsiders.

    1. O que o autor pretende teoricamente com o seu trabalho em termos gerais?



Touraine estudou acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, particularmente na América Latina e,através da teoria de acção a respeito da organização social e política, e especialmente as capacidades de acção social e de democracia.

A posição dos estados latino americanos, foi segundo a análise de Touraine, um elemento importante, no sentido de que a actuação dos estados, se confunde com a actuação de actores políticos, sociais, económicos, e até mesmo culturais, ocupando o papel do personagem central da modernização e dificultando desse modo, relações exclusivamente entre actores sociais. (Touraine, 1989, pp 55).

De modo geral, Touraine não encontrou nos trabalhadores agrícolas, nas classes médias e nem mesmo entre os operários industriais, categorias culturais e políticas homogéneas.

    1. Quais são as ideias centrais com as quais o autor trabalha?



Uma das ideias principais é que para o autor, a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais, pois afirma que a sociedade pós- industrial, a sociologia não é o fruto da revolução industrial, mas somente se consolidou a partir da segunda metade só século XIX, quando a sociedade passa a ter um maior controle dos mecanismos económicos surgidos com as revoluções industriais, os quais, no momento de seu surgimento levaram às construções teóricas do inicio do séc. XXI que identificavam um desenvolvimento económico intervindo na organização social.E também foca se na "sociologia de acção" e seu principal ponto de interesse tem sido o estudo dos movimentos sociais.

Segunda parte

Um novo paradigma

Capítulo I

Ruptura

Concretamente no dia 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos de América sofreu profundas transformações das sociedades contemporâneas, que culminou na decomposição da sociedade. Isso implicou um choque de rupturas tão profundas em toda a sociedade americana e no conjunto do mundo que se tornava impossível não tomar estes acontecimentos dramáticos como um ponto de partida para uma análisecujo objectivo é de outra natureza. Observação da política norte- americana. Mas antes disso os estados unidos dominavam completamente a cena política mundial que nem se viram obrigados a elaborar a geopolítica.

Os problemas económicos explodem, dai que surgem ameaças de guerra química e biológica, ou talvez nuclear, na qual lhes imponha a recursos a uma guerra preventiva. A ruptura foi sentida no mundo inteiro.

O medo


Ao fazer análise geral da vida social, jamais foram esquecidos os acontecimentos como, a queda do estado e do império comunista, as sociedades civis, o enfraquecimento das normas em todos os domínios, e dai que a vida das sociedades mais ricas assim como as menos protegidas, continua predominando o medo, pela violência e guerra.

A quem o diga que os ameaças e conflitos do dia 11 de Setembro de 2001, eram perigosas, e houve tempos em que a América Latina ardia em todos os lados, eles que apresentavam como únicos capazes de acabar com as guerrilhas e haviam desencadeado uma violência muito mais sangrenta, mas a ninguém satisfazia a situação actual. Portanto não se deve considerar esses conflitos mortais como sendo meros acidentes, porque se olhar à nossa volta descobriremos que há sociedades destruídas perturbadas e manipuladas. No mundo actual a vida é dominada por paixões do que interesses, mas essas paixões visam sobretudo a negação do outro e menos o conflito com ele.

Um mundo em recuo


Pessoas que foram destruídas pelas guerras e violências, foram obrigadas a deixar o seu pais e uma parte deles vivem mudanças geográficas e socioculturais que destruíram mais do que os fazem entrar na modernidade. Mesmo estando em países ricos as pessoas não acreditavam que as suas vidas seriam melhores, daí que as desigualdades sociais aumentaram, as escalas sociais tornaram se demasiados curtos.

As lutas de retardamento não são desenvolvidas pelas categorias mais pobres, mas pelo contrario pelas que tem uma maior capacidade de pressão directa sobre o estado, e mais por classes medias ameaçadas do que pelos pobres e mais fracos, pois os mais desfavorecidos, desaparecem na obscuridade, caem na marginalidade ou na ilegalidade.

Onde está o sentido?


Com essas observações negativas, que inscrevem a decomposição da sociedade, as pessoas já não acreditavam no progresso, pois a evocação geopolítica visava ates de mais fazer compreender que não é ao nível propriamente político que se deve procurar a explicação para os movimentos actuais e ao nível mundial, e a análise puramente política não é suficiente.

A crise e a decomposição do paradigma social da vida social criaram um caos, onde se engolfaram a violência, a guerra, a dominação dos mercados que escapam a qualquer regulação social, mas também a obsessão identitária dos comunitarismos. A organização social foi ameaçada pela globalização porque não se podia encontrar em si mesma os meios da sua recuperação.

A vida não é somente o que é, mas o movimento pelo qual os actores, em vez de se identificarem com um valor ou com um fim exteriores, descobrem em si mesmos, na defesa da sua própria liberdade, a sua capacidade de agir de maneira auto-referencial, como fazia a sociedade na situação precedente.

Segundo o autor a sociedade dos nossos dias existem forcas de destruição dos actores sociais, que agem invocando a necessidade natural, e em face delas, figuras do sujeito (religião, politicas, sociais ou morais), que resistem a tudo o que ameaça a liberdade, dentre as duas mantem- se ou(até reforçam) instituições que procuram dar forma à autonomia do social. É necessário compreender que não existe nenhuma razão convincente que permite identificar a sociologia com a análise de uma única via (ou de uma só etapa) da modernização. As categorias sociais se decompõem hoje, sobrepuseram-se às categorias políticas já a menos de dois séculos.

Afirma o autor que não pode falar de crise do social, aumento da violência não social e de sujeito pessoal, sem que esse fenómeno seja constado à nossa volta e em nos mesmos, porque tem que ser da nossa experiência, e em primeiro lugar da situação histórica na qual se opera a mudança de paradigma de que trata o texto.

Capítulo 4

O fim das sociedades

Representação social da sociedade

Com os acontecimentos dramáticos e mudanças económicas que deram o fim da sociedade e da representação da sociedade que vigorou durante vários séculos no ocidente. E este paradigma não se pode fundamentar sem que não seja social, e foi através dos acontecimentos e mudanças económicas que houve o período das revoluções,

Segundo o autor, foi através do desenvolvimento da industria, que pós o centro da vida social  e económica e as formas de organização que lhe estão ligadas, e formou então uma representação social da sociedade, que intervém no contexto histórico. Ao logo dos tempos, analisou se que a vida social era o seu próprio fim que a integração da sociedade e a racionalidade do seu funcionamento mais ou menos independente de um parlamento que não era visto em nenhum país com o centro da criação das leis.

Dostodos diversos factores, que surgiram não destruíram a unidade da visão social da vida colectiva. Não se pode ter sido simplesmente imposta por um poder, quando é certo que muitas vezes foi em nome da sociedade e da nação que derrubam princípios e eles efeminem-se como activas, porque sobrepuseram às situações transmitidas, em fixar limites à sua capacidade de autocriação e de autotransformação.

Segundo o autor a sociedade tem consciência crescente de se reproduzir a si mesma e vez de ser definida unicamente por evoluções quase naturais. Julga que as sociedades consideram se como criadas por si mesmas, filhas das suas obras pondo os meios materiais ao serviço de grandes projectos assumindo como objectivo principal a construção, a consolidação e a defesa de sociedade cujo interesse, entendido no sentido mais amplo, incluindo a igualdade de oportunidades, constitui o princípio mais importante de avaliação dos comportamentos, e de definição do bem e do mal.

O modo europeu de modernização


O autor afirma que as sociedades abertas, são capazes de conquistar mercados e de controlar o seu ambiente, foi possível desenvolver-se essa visão inteiramente social da vida social e a noção de sociedade pode adquirir o estatuto de princípio de avaliação das formas de condutas pessoais ou colectivas no conjunto social.

As sociedades ocidentais definem se pela acumulação dos recursos nas mãos de uma elite dirigente e pela intensidade dos conflitos sociais, que impediam os dirigentes de viverem dos rendimentos e de se transformarem em privilegiados, na qual conseguiram por a maioria a trabalhar para satisfazer os objectivos fixados pelas empresas e pelos dirigentes

E foi através da modernização das sociedades que considera se sociedades de classes e é através dessas lutas de classes que a acção da sociedade cai sobre si mesma. No modelo europeu de modernização considera-se poder, dinheiro, conhecimento e também de revoluções e de instituições a ideia de sociedade traz um sistema social dotado dos seus mecanismos de funcionamento e de mudança.

Sociedade e modernidade


Algumas das sociedades recorrem de dois polos, constantemente agitados pelo conflito entre uma visão ao mesmo tempo sistémica e utilitarista e de um lado, e o apelo a princípios universalistas. O principio da sociedade é subordinado tudo as paixões como os interesses, ao funcionamento da sociedade que é feita de lutas sociais, tantas vezes dominadas pelo interesse mas igualmente pelo espírito de conquista e de modernização que poe em jogo o imaginário e transforma as figuras da inferioridade em subjectividades, que por sua vez elabora projectos de libertação, a das mulheres como a dos colonizados, na origem do desencadeamento das paixões, para se dizer que o mundo das paixões e o mundo dos interesses estão sempre ligadas.

As sociedades que se aproximam do polo da modernidade correm sempre o risco de se instalarem numa dupla linguagem, uma linguagem comunitária e uma linguagem universalista, o que tornara mais fraca a sua acção.

O modelo de modernização toma forma diferente em cada um dos países onde é aplicado. Nenhum modo de modernização no mundo elaborou uma visão comparável à da europa ocidental fazer da sociedade não um meio, mas um fim.

A crise da representação


Segundo o autor, a representação de um personagem consiste em indicar a função social e o ambiente social dessa personagem, a maneira de vestir, postura, tudo deve definir a posição social da personagem, as suas características pessoas vêem-se tanto melhor quando os quadros sociais de quem é representado.

Uma das principais preocupações do autor deve se a de por em causa as categorias sobre as quais assentou a sociologia clássica que chegou ao fim do seu caminho, e a sociologia dos sistemas deve dar lugar a uma sociologia dos autores e dos sujeitos.

As três mortes da sociedade europeia


Nos últimos tempos, o país conquista uma posição dominante (que fora a do sistema europeu, e sobretudo do império britânico, no séc. XIX, daí que é certo que a democracia social que se impôs na Europa e nos grandes países assegurou a perenidade do sistema de protecção social. Algumas das intervenções do Estado dirigiram-se com grande frequência às categorias medias ou aos pequenos assalariados melhor integrados, não conseguindo travar a queda das categorias desfavorecidas, acelerada pelas migrações internacionais.

Grande maioria dos melhores trabalhos de sociologia na europa é dedicada àavaliação da acção das políticas sociais nos domínios da educação, da saúde, do urbanismo, das reformas, e mais largamente da segurança social.

Surgimento da democracia


A democracia nem sempre fez parte do modelo europeu de sociedade, porem, a revolução é uma componente importante, e esta nota aplica-se melhor em países onde o estado nacional não se formou e ficou prisioneiro de um império, como o caso da Áustria-Hungria. Com a condição dos Negros essa maneira limitou nos estados unidos, que conduziu a uma guerra civil e só chegou a uma solução no último quatro do séc. XX como consequência de uma acção ao mesmo tempo democrático, revolucionário e populista.

A democracia triunfo num país mais imperial do que nacional, visto que ficou  definido pela reunião de varias nações, pois porque a democracia e a nação são mais opostas do que complementares.

Os movimentos sociais do que estado-nação, o espaço político define-se melhor em termos de revolução que de democracia, isto significava então que havia a preocupação de assegurar o bem-estar do povo, e sobretudo a destruição dos inimigos do povo, o que fez dele o sinónimo de revolução. Os movimentos de libertação nacional oferecem um espectáculo pouco homogéneo, raramente foram de inspiração democrática, mesmo que tenham sido apoiados por correntes de opinião democrática (na verdade mais revolucionárias) nas metrópoles coloniais

O retorno do político


O autor afirma que o nacionalismo é um projecto puramente político e que procura inventar uma nação dando a um estado poderes não controladores para fazer emergir uma nação e mesmo uma sociedade. O estado nacional deixa de ser uma componente da sociedade quando é devorado pelo nacionalismo e corre o perigo de ser destruído. O nacionalismo esta muito afastado da modernidade, e é duplamente perigoso para a democracia. Portanto, os nacionalismos contribuíram fortemente para destruir a sociedade impondo-lhe uma lógica de guerra, uma divisão do mundo entre amigos e inimigos que bloqueia o funcionamento da sociedade. Segundo o autor o retorno do político não é um regresso ao paradigma político que precedera o paradigma social.

Adeus à sociedade


A noção de sociedade com a ideia de que o social não tem outro fundamento senão ele próprio, esta pois em vias de extinção, se bem que alguns dos seus aspectos reapareçam outros modos de desenvolvimento. O modelo europeu não propôs uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, mas estes dois tipos de gestão económica é que surgiram como formas particulares e opostos do modelo europeu.

A guerra acima de nós


A auto-produção das sociedades nacionais europeias que impediu a formação de um sistema europeu integrado e favoreceu a entrada em vigor de uma sucessão de tratados fundados na necessidade de regular a concorrência entre os principais países.

A guerra do dia 11 de Setembro de 2001, mudou de estatuto, na qual tinha um papel central na formação dos estados racionalizados e burocráticos, feitos actores centrais de uma modernização que constitui desde logo na imposição à nobreza da autorização do rei e da sua administração civil e militar. A guerra deixou de ser continuação da política e uma forma extrema de mobilização dos recursos permitindo o confronto das armas e das nações e o triunfo dos fortes sobre os fracos, das armas sobre o bem-estar. Portanto, a guerra esta hoje acima das sociedades, ela significa a destruição, não o combate, a morte, não a vitória, por isso que o mundo sofre ameaças de destruição e de caos que não defende os interesses de um grupo social ou de uma nação, ainda menos as suas necessidades em petróleo, mas uma político- religiosa que se confronta com uma outra.

As sociedades modernizadas davam cada vez mais importância à sociedade civil ou seja, aos actores sociais. De tal modo que a política se tornava cada vez mais próxima dos conflitos e dos movimentos sociais.

Quando sistema e actores se separam

A decomposição da sociedade nos países mais modernizados atinge as suas formas externas quando se rompe o elo entre o sistema e o actor, quando o sentido de uma norma para o sistema já não corresponde ao que ela tem para o actor.

Tudo assume então um duplo sentido e o indivíduo quer afirmar-se pela sua oposição à linguagem da sociedade. Esta ruptura é menos fácil de perceber do que as distribuições materiais ou a extensão da criminalidade, mas é necessário lá chegar se quisermos compreender até onde pode levar a queda da ideia de sociedade e por conseguinte, em que necessidade podemos construir uma outra representação da vida colectiva e da nossa vida pessoal.

A mais importante e a mais visível destas crises é a que concerne o lugar dp trabalho na vida de cada um. A diminuição do tempo de trabalho é vivida pelq maioria como uma libertação e não mais como a privação de uma experiência criadora.

De facto, estamos a viver uma mudança de situação e de atitudes tão profunda que não a percebemos espontaneamente. Era nas relações de trabalho que tinham a sua origem os conflitos sociais principais, agora é ao nível da economia globalizada, cujas consequências se fazem sentir sobre o emprego local e que suscitam uma oposição que liga a defesa do local à critica do global.

Em resumo, o trabalho não perde nada da importância que ele tinha na vida da maioria das pessoas em pleno período industrial. O que se dilui à nossa vista é a civilização do trabalho.

Vivemos pois em sociedades descontentes de si mesmas, mas onde cada um forma para ele mesmo projectos e expectativas mais positivas. Assistimos a uma transformação dos valores da sociedade para os indivíduos e entramos quando podemos numa nova figura do mundo económico.

O que estamos a viver não é a derrocada de um castelo de areia, é o esgotamento da política social centrada na sociedade, nas suas funções e na sua integração. Já estamos todos metidos na passagem que conduz de uma sociedade fundada sobre ela mesma à produção de si pelos indivíduos, com ajuda de instituições transformadas e é esse o sentido de fim do social.

A ruptura dos laços sociais


Os grupos de proximidade, os amigos, o meio escolar ou profissional parecem estar em crise geral, deixando o indivíduo sobretudo jovem ou idoso sem cônjuge e sem família, estrangeiro ou migrante, numa solidão que conduz à depressão, ou à procura de relações artificiais perigosas.

As consequências negativas deste vazio social atingem sobretudo as camadas mais frágeis e as mais dependentes e em primeiro lugar as que são excluidas do mundo do trabalho ou atiradas para as suas margens: desempregados e assalariados.

A decomposição do velho sistema bem pode preparar a vinda de novos actores e de novos tipos de cultura e de sociedade, que nem por isso deixa de conduzir a uma submissão cada vez mais completa à dominação do mercado.

É tão fácil censurar o indivíduo actual pelo seu egoismo e falta de sentido histórico, tão fácil como era criticar à sociedade e o seu gosto pelas normas e pela razão instrumental. É preciso ver de que forma o indivíduo é manipulado pela propaganda e pela publicidade.

Capítulo 1

O sujeito

O sujeito e a identidade

A decomposição dos quadros sociais faz triunfar o indivíduo, dessocializado mas capaz de combater a ordem social dominante e as forças da morte. O individualismo explodiu rapidamente em múltiplas realidades, um dos seus fragmentos revelou-nos um frágel, mutável, sujeito a todas as publicidades, a todas propagandas e as imagens da cultura de massas. O indivíduo nessas condições mais não é do que um ecrã sobre o qual se peojectam desejos, necessidades, mundos imaginários fabricados pelas novss indústrias da comunicação.

Esta imagem do indivíduo que deixou de se definir por grupos de pertença, está cada vez mais enfraquecido e já não encontra garantia da sua identidade.

O sujeito forma-se na vontade de evitar as forças, as regras, os poderes que nos impedem de ser nós mesmos, que tentam reduzir-nos ao estado de componente do seu sistema e da sua influência sobre a actividade, as intenções e as interacções de todos. Não há sujeito que não seja rebelde

A ideia de sujeito envoca uma luta social como o de consciência de classe ou consciência de noção em sociedades anteriores. O sujeito nunca se identifica completamente consigo mesmo e continua colocado na ordem de direitos e deveres, na ordem da moralidade e não na ordem da experiência.

Os deveres para consigo mesmo e para com os direitos que marcam a presença do sujeito em cada indivíduo estão acima de todas as relações. O sujeito é o contrário da identidade e perde-se na intimidade. O indivíduo não só não se reduz nunca a si mesmo, mas é acompanhado por ideias pelo seu duplo, que se situa na ordem do direito enquanto ele próprio evolui na ordem da experiência, da percepção, do desejo. Quanto menos forte for a capacidade de uma sociedade para se transformar, menos forte é a historicidade.

Defesa da sociologia


Hoje, a nossa moral é cada vez menos social. Ela desconfia cada vez mais das leis da sociedade, dos discursos de poder, dos preconceitos pelos quais cada grupo protege a sua superioridade ou sua diferença. O que cada um de nós procura no meio dos acontecimentos, é construir a sua vida individual, com a sua diferença relativamente a todos os outros e a capacidade de dar um sentido geral a cada acontecimento particular. Esta procura não pode ser a de uma identidade, visto que nós somos cada vez mais compostos de fragmentos de identidades diferentes. Só pode ser a busca do direito de ser o autor, o sujeito da sua própria existência e da sua própria capacidade de resistir a tudo o que dela se priva.

Sujeito individual

A morte de Deus não levou ao triunfo da razão e do cálculo, ou inversamente à libertação dos desejos, ela conduziu também cada indivíduo a afirmar-se como o criador de si mesmo, como sendo a finalidade da sua própria acção.

Para o sociólogo, o sujeito não é só uma noção construída através de um esforço intelectual geral, ele deve ser observável, isto é, apresenta-se à consciência dos actores sociais.

O sujeito tal como hoje o concebemos e defendemos, não é uma figura secularizada da alma, a presença de uma realidade supra-comunitária, em cada indivíduo.

A história do sujeito é pelo contrário a de reivindicação de direitos cada vez mais concretos que protegem as particularidades culturais cada vez menos geradas pela acção colectiva voluntária e por instituições criadoras de pertença e de dever .

O sujeito não se afirma fora das características sociais e culturais dos que não se consideram e querem ser reconhecidos como sujeitos.

Todos somos sujeitos?

Consideramo-nos todos como sujeitos? A resposta é negativa, o sujeito é o seu próprio fim, em segundo lugar o sujeito só se forma, hoje como ontem, se entrar conscientemente em conflito com as forças dominsntes que lhe negam o direito e a possibilidade de agir como um sujeito. Finalmente, cada um enquanto sujeito, propõe uma certa concepção geral do indivíduo.

O sujeito não é um puro exercício de consciência: ele tem necessidade de conflito para que a acção colectiva se forme. O sujeito não é a pessoa que se realiza como se diz, ou que cumpre bem as funções que lhe são confiadas - bom trabalhador, cidadão, pai e mãe.

A negação do sujeito


Nenhum indivíduo, nenhum grupo é inteiramente um sujeito. É sempre mais justo dizer-se: Há algo de sujeito em tal conduta ou tal indivíduo.

Só quando são postas à luz do dia as diferentes figuras dp sujeito e as formas da subjectividade é que se pode adquirir um conhecimento justo das relações sociais. Em todas as épocas encontramos figuras do sujeito e ao mesmo tempo forças ou organizações que o destroem.

Nas nossas sociedades contemporânes é o mundo dos media que deforma e manipula de maneira mais constante o sujeito presente em cada indivíduo.

A importância deste debate deve-se precisamente ao facto de ele envolver a questão da ideologia e poder por isso contribuiu para clarificar a opinião entre duas maneiras de ver. De um lado, explicam-se as condutas por ardis do poder, o que remete a explicação para uma ordem econômica e política muito distante dos actores, que estariam por seu turno, encerrados na falsa consciência. Do outro, opoē-se ao mundo das imagens manipuladas pelos media o indivíduo vivo, concreto, que se sente privado do sentido da sua experiência e dos seus projectos. De um lado, sobe-se ao sistema económico e sua estrutura, do outro desce-se ao sujeito intensamente presente, lá onde ele se sente privado do sentido de si mesmo.

O sujeito, tal como ele emerge em muitas partes do mundo, não se reduz nem a encarnar a esperança um progresso redentor, nem a figura a vontade de que seja dada assistência a todos quanto atingem as lógicas da dominação. Ele chega finalmente à liberdade e à transparência através da relação mais directa de si a si que a modernidade permite e impõe, e que se forma sobretudo na sexualidade.

Este movimento de viragem para si que o sujeito constrói começa o mais próximo possível do indivíduo, na sua relação com o seu próprio corpo. O sujeito é também destruido pela paixão, quando esta arrasta o indivíduo tal como um furacão destroi os edifícios. É nas lutas pelos direitos culturais que se opera melhor a viragem de si para si onde emerge a figura do sujeito.

Questões/ Dúvidas

    • Qual seria a compreensao de “Decomposição do paradigma social”

 

  • Até que ponto o modelo de modernização toma forma diferente em cada um dos países onde é aplicado.