Contextualização dos Estados afro-islâmicos da Costa

Os reinos afro-islâmicos são resultado da chegada dos Árabes a Moçambique no século IX, proveniente do golfo Pérsico e instalando-se progressivamente na costa moçambicana, concretamente em Quelimane, numa primeira fase, e, mais tarde, no vale de Zambeze e planalto do Zimbabwe (século XIII). Os reinos afro-lslâmicos eram: o Sultanato de Angoche; o Xecado de Sancul;  o Xecado de Quitangonha;  o Xecado de Sangage.

Numa primeira fase, estes reinos dedicavam-se ao comércio de ouro, marfim e peles de leopardo.  Do século XVIII, quando procura de escravos ultrapassou o comércio do marfim, os reinos afro-islâmicos especializam-se neste comércio.  No século XIX, quando medidas abolicionistas foram decretadas por Portugal, em 1836 e em 1842, ‘estes reinos continuaram a praticar a escravatura, assegurando o comércio.  Clandestino de escravos para Zanzibar, ilhas francesas do oceano Índico e golfo Pérsico.

Conceitos básicos

Compreende-se como Xeicado, a um sistema de governo dirigido por um xeque, chefe de tribo árabe, ao passo que;

Sultanato entende-se como um sistema de governo dirigido por um sultão, título dado a certos príncipes maometanos, senhores poderosos e despóticos.

XEICADO DE SANGAJE

O Xeicado de Sangaje

O Xeicado de Sangage desde s sua formacão esteve nominalmente sujeito ao sultanato de Angoche estabelecendo a sua autonomia nos primeiros quartel do século XIX e os seus dirigentes procurando se assegurar a sua independência estabeleceram suas alianças com a administração portuguesa e mesmo com os dirigentes de Sancul e com mercadores Baneanes da Ilha de Moçambique a aliança com os mercadores Baneanes provocou reacções na parte dos sultanato de Angoche e dos moradores de origem portuguesa cuja a sua hostilidade era conhecida de longa data.

Formação do Xeicado de Sangaje

O Xeicado de Sangaje parece ter estado sob o controlo do sultanato de Angoche desde a sua formação. Na tentativa de conseguir uma certa autonomia, os seus dirigentes estabeleceram alianças com os portugueses, com dirigentes de outros estados vizinhos e com mercadores baneanes da Ilha de Moçambique.

Estrutura social e aparato ideológico

Tal como nos demais Xeicados da costa de Moçambique, neste também se professava o Islão. A islamização influenciou a religião tradicional, a língua, o vestuário, os costumes e tradições. As formas de sucessão neste Xeicado eram definidas via linha matrilinear, pelo que se estabeleceram fortes laços económicos e de sangue entre poucas famílias do Xeicado.

À frente deste combate esteve o xeque Mussa-Phiri, aproveitando uma pequena desavença com os portugueses (prisão de um sobrinho seu), mobilizou os seus soldados e pediu apoio dos chefes Makuas do Mongicual e do Mogo volas.

Sucessão do Xeicado de Sangaje

De acordo com Bicá, (1988), na linha sucessória do Xeicado de sangage era definida por via matrilinear pois se estabeleceram fortes laços económicos e de sangue de um número reduzido de famílias de Xeicaddos entre dirigentes de um numero de mulheres macua.

Foi em 1912 que teve lugar em Sangage o ultimo movimento de resistência primmaria em terras da costa contra a ocupação portuguesa na altura o Xeiqueb era Mussa-Phiri, os xeiqies de sangage muitas vezes tinha obtido apoio dos portugueses contra os seus vizinhos mais fortes de sancul e angoche pois esse apoio permitiu-lhes uma certa independência e prosperidade com o comercio de escravos e com o avanço da ocupação colonial no inicio do mesmo século, Mussa-Phiri colocou-se ao lado dos portugueses cobrando impostos e contribuindo com os homens para as campanhas coloniais contra Farelai.

Instalou-se a fiscalização do comércio regional e sobre tudo do comércio de escravos por parte dos portugueses e dos ingleses bem como a penetração dos interesses capitalistas nas terras de Xeicados de tal que a instalação foi de (impostos, comercio, implementação da produção agrícola familiar) e para ale do domínio politico colonial tudo isso foi a causa do levante do Xeique e da aristocracia local em 1912.

Pois por outro lado Mussa-Phiri se aproveitando do pequeno conflito com os portugueses por causa da prisão do seu sobrinho mobilizou os seus homens e obteve auxilio dos chefes macua de Mogingual e Mogovolas depois de mandar cortar as linhas telegráficas na região lançou-se contra os tropas coloniais alastrando a luta de Mogingual a Moma ate as terras de Morrupula contudo foi preso e levado para Timor tendo sido morto, e as terras de Xeigado tendo sido ocupadas pelos portugueses e transformadas num regulado e frente foi colocado um chefe colaborador.

Decadência do Estado de Sangaje

O último acto de resistência primária contra os portugueses dá-se em 1912. Foi o início do fim do Xeicado. Mas este combate não foi a causa da decadência, foi a gota de água numa insatisfação que já vinha de trás.

A principal causa da decadência do Xeicado de Sangaje era o processo de ocupação feito pelos portugueses no quadro da ocupação colonial. A penetração dos interesses capitalistas nas terras do Xeicado e a consequente introdução de impostos e outras imposições agressivas aumentaram as contradições e criaram as condições para o conflito.

XEICADO DE TUNGUE

Formação do Xeicado de Tungue

O sultanato de Tungue surgiu nos meados do séc. XVIII. No fim do século XVIII ou no início do século XIX, os sultões mandaram construir um pequeno palácio térreo de pedra que foi uma ou duas vezes reconstruído e do qual sobrevivem ruínas imponentes na península do Cabo Delgado. Do intenso tráfico de escravos com os franceses sobrevivem restos de cerâmica importada deste país por volta de 1850-55. Pouco depois, o sultão de Zanzibar conseguiu impor ali o seu domínio.

Estrutura sociopolítica do Xeicado de Tungue

Na visao de Pinto (2015, p. 134), no Xeicado de tungue para a realização das suas actividades administrativas também estava organizado de uma forma burocrática mais ou menos estruturada, portanto também havia cobrança de tributos; pagamento de direitos aduaneiros; lançamento de multas por coisas como nascimento anormais e prática da bruxaria; recolha de impostos que eram pagos pelos reinos de pequenas dimensões e pela comunidade estrangeira.

Atividades Económicas

Os povos de Tungue da faixa costeira deixaram de depender da agricultura doméstica tradicional baseada no cultivo de cereais, passaram a praticar o comércio de escravos que os integrava nos circuitos internacionais, desenvolvendo outras actividades económicas como: a construção naval e a navegação de cabotagem; a pesca e secagem de peixe; a extracção de sal e o artesanato de metais preciosos.

Aparato ideológico

No xeicado de Tungue, a religião dominante era o Islamismo, que garantia a unidade e a coesão desta sociedade.

Declínio ou decadência do Xeicado de Tungue

Em 1854, as tropas de Zanzibar ocuparam a aldeia Tungue, onde eles estabelecem um posto alfandegário, empurrando a fronteira de trinta quilómetros ao sul. Por trinta anos, tentativas de negociar. No início do século XIX, o xeque do Tungue é um “vassalo” pensionado pelos portugueses. Portanto, o Xeicado de Tungue terá decaído e tendo sido dominado pelos portugueses durante a ocupação efectiva, após uma longa disputa com o Zanzibar, Alemanha e ingleses.

Relações do Xeicado de Sangaje e Tungue com os portugueses

Com a presença portuguesa na baía de Sofala iniciou-se uma nova era que se caracterizou pelo permanente confronto entre estes estados e portugueses. A relação entre estes dois povos não foi linear nem idêntica em todos os xeicados e sultanatos. Aparentemente, os xeicados e sultanatos da costa estavam subordinados à administração portuguesa, mas, na prática, a situação não era essa. A subordinação existia e parecia ser do foro comercial quando as autoridades portuguesas não se envolviam em questões de soberania dos mesmos.

 

Conclusão

Terminado o trabalho, concluiu-se que, o xeicado de Tungue surgiu nos meados do séc. XVIII. No fim do século XVIII ou no início do século XIX, os sultões mandaram construir um pequeno palácio térreo de pedra que foi uma ou duas vezes reconstruído e do qual sobrevivem ruínas imponentes na península do Cabo Delgado. Tungue foi um grande porto de tráfico de escravos. De Tungue os escravos eram levados para Madagáscar, Zanzibar e Golfo Pérsico A sucessão de poder neste Xeicado era por linhagens e a religião dominante era o Islamismo, que garantia a unidade e a coesão desta sociedade.

Portanto, o Xeicado de Tungue terá decaído e tendo sido dominado pelos portugueses durante a ocupação efectiva, após uma longa disputa com o Zanzibar, Alemanha e ingleses. os portugueses tentaram regulamentar e ganhar o seu apoio na luta contra os chefes macuas agradando-lhes com cargos administrativos-militares, subalternos, capitão-mor do mesmo jeito que haviam feito com a nobreza escravocrata dos estados militares do vale do Zambeze, bem como as remunerações pelo exercício desses cargos, mas os xeiques e os sultões encararam essas remunerações como tributo que lhes eram devidos pelos portugueses.

 

Bibliografia

NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013

BICÁ, Firoza; MAHILENE, Ilídio. Saber História. Longman Moçambique, Lda., Maputo,           2010.

DH/UEM. História de MoçambiqueParte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos Mercadores 200/3001886. Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1930. 2ª Edição, Maputo, vol. I. 2000, 508 p.