Segundo Jonas, o enquadramento antigo da ética tradicional era antropocêntrico, centrado no plano das relações humanas entre si, sem lugar para questões ligadas a um mundo “extra-humano”. Agora é ineficaz porque o alto grau de poder adquirido pela técnica moderna e os problemas deles advindos, demandariam novas formulações éticas. Para tal, o antropocentrismo precisaria ser deixado de lado, a técnica e natureza precisariam ser pensadas como fazendo parte do campo da ação humana e o futuro precisaria ser encarado de outra forma.

Hans Jonas

A responsabilidade frente à existência do futuro é vista como um dever ético e coletivo, fugindo do campo de comportamento do indivíduo privado, “o novo imperativo ético não se dirige (como o imperativo categórico de Kant) ao comportamento do indivíduo privado, mas ao agir coletivo”.

Colocadas estas questões, Hans Jonas parte para a discussão de como “implantar” uma ética da responsabilidade. Na sua visão, é preciso despertar a consciência humana para a responsabilidade mediante a conciliação do corpo com o espírito, do pensamento com a matéria, do social com o biológico, para fundar a ética da responsabilidade no próprio Ser. Sua proposta é, pois, ontológica. Para Jonas, a percepção do mal a evitar é mais evidente e direta do que a do bem a escolher. Diante do mal (perigo) a reação do Ser é mais rápida do que diante do bem (que implica em reflexão).

Assim sendo, devemos nos preocupar mais com o mal que criamos do que com o bem que pode advir da técnica. Jonas refuta a crença de que a própria tecnologia resolverá os problemas que cria, tal crença é por ele considerada irresponsável. O medo é um sentimento moral que visa auto-proteção e que leva à tomada de decisões mais acertadas. Para tanto, precisamos visualizar as conseqüências da sociedade industrial e tecnológica, antecipando mentalmente suas condições desastrosas. Diante dos novos fenômenos tecnológicos, a política e a ação coletiva passam para o centro da ética da responsabilidade.

A responsabilidade proclama o apelo de renúncia à utopia da técnica. Além disso, sua proposta não vai no sentido de abandonar ou rejeitar as conquistas tecnológicas. O que ele propõe é uma tomada de consciência dos efeitos nocivos e irresponsáveis contidos nessa “utopia do progresso”.

Embora tenha-se atribuído a O Princípio da Responsabilidade o papel de catalisador do movimento ambiental na Alemanha, sua obra O Fenômeno da Vida (1966) forma a espinha dorsal de uma escola de bioética nos Estados Unidos. Profundamente influenciado por Heidegger, O Fenômeno da Vida tenta sintetizar a filosofia da matéria com a filosofia da mente, produzindo um rico entendimento da biologia, abrindo caminhos para a reflexão sobre a precariedade da vida e a temática da dependência humana da natureza e suas demais formas de vida. A questão da ética passa a ser abordada como parte da filosofia da natureza. Para ele, somente uma ética fundada na amplitude do ser teria algum significado.

Também escreveu abundantemente sobre Gnosticismo, pelo que é igualmente conhecido, interpretando a religião como um ponto de vista existencial filosófico. Jonas foi o primeiro autor a escrever uma história detalhada do antigo gnosticismo. Além disso, foi um dos primeiros autores a relacioná-lo com questões éticas nas ciências naturais.