Hans Jonas foi um filósofo alemão, estudou filosofia e teologia  e se doutorou em Marburg, onde fez estudos sobre Martin Heidegger e Rudolf Bultmann. Lá conheceu Hannah Arendt, quem também estava fazendo doutorado, iniciando uma amizade que duraria o resto de suas vidas.

Em 1933, Heidegger uniu-se ao Partido Nazista, algo que Jonas tomou pessoalmente, já que era de origem judia e sionista. O fato do grande filósofo cometer tal ato político fez Jonas questionar o valor da filosofia.

Deixou a Alemanha e foi para a Inglaterra nesse mesmo ano, e de lá viajou para a Palestina em 1934. Em 1940 retornou à Europa para participar do Exército Britânico, que havia formado uma brigada especial para judeus alemães que quisessem lutar contra Hitler. Durante a guerra escreveu numerosas cartas. Imediatamente após a guerra ele descobriu que sua mãe havia sido enviada à câmaras de gás de Auschwitz. Sabendo disto, rechaçou a idéia de viver outra vez na Alemanha.

Retornou à Palestina, e tomou parte na Guerra árabe-israelense de 1948. Apesar disso, sentiu que seu destino não era ser um sionista, mas ensinar filosofia. Jonas deu aulas na Universidade Hebraica de Jerusalém, brevemente, antes de mudar-se para a América do Norte. Em 1950 foi para o Canadá, ensinando na Universidade de Carleton, e de lá mudou-se para New York, em 1955, onde viveu o resto de seus dias. Trabalhou para a Nova Escola de Investigações Sociais entre 1955 e 1976, e morreu aos 89 anos.

È conhecido principalmente devido à sua influente obra O Princípio da Responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (1979) Seu trabalho concentra-se nos problemas éticos sociais criados pela tecnologia. Jonas quer sustentar que a sobrevivência humana depende de nossos esforços para cuidar de nosso planeta e seu futuro. Formulou um novo e característico princípio moral supremo, um novo imperativo categórico:

“Agir de tal modo que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína sobre a terra”.

Jonas inicia seu livro argumentando que a técnica moderna tem equipado o agir humano com novas e imensas possibilidades, dando-lhe um poder de ação sem igual sobre o mundo em que vive. As intervenções técnicas na natureza, antes superficiais e inofensivas, passam a ter efeitos irreversíveis, podendo fugir ao controle humano, capaz de agir no sentido de alterar a essência das coisas e de extingui-las por completo. Dá-se um paradoxo: a

natureza é controlada por meio de um poder técnico que foge do controle.

Para evitar tais riscos, é preciso “domesticar” a técnica. Tal raciocínio, aplicado ao campo da ação humana, implicaria em determinadas posturas éticas que, por sua vez, não encontrariam paralelo na ética tradicional.

Segundo Jonas, o enquadramento antigo da ética tradicional era antropocêntrico, centrado no plano das relações humanas entre si, sem lugar para questões ligadas a um mundo “extra-humano”. Agora é ineficaz porque o alto grau de poder adquirido pela técnica moderna e os problemas dela advindos, demandariam novas formulações éticas. Para tal, o antropocentrismo precisaria ser deixado de lado, a técnica e natureza precisariam ser pensadas como fazendo parte do campo da ação humana e o futuro precisaria ser encarado de outra forma.

A responsabilidade frente à existência do futuro é vista como um dever ético e colectivo, fugindo do campo de comportamento do indivíduo privado, “o novo imperativo ético não se dirige (como o imperativo categórico de Kant ao comportamento do indivíduo privado, mas ao agir colectivo”.

Colocadas estas questões, Jonas parte para a discussão de como “implantar” uma ética da responsabilidade. Na sua visão, é preciso despertar a consciência humana para a responsabilidade mediante a conciliação do corpo com o espírito, do pensamento com a matéria, do social com o biológico, para fundar a ética da responsabilidade no próprio Ser. Sua proposta é, pois, ontológica. Para Jonas, a percepção do mal a evitar é mais evidente e direta do que a do bem a escolher. Diante do mal (perigo) a reacção do Ser é mais rápida do que diante do bem (que implica em reflexão).

Assim sendo, devemos nos preocupar mais com o mal que criamos do que com o bem que pode advir da técnica. Jonas refuta a crença de que a própria tecnologia resolverá os problemas que cria, tal crença é por ele considerada irresponsável. O medo é um sentimento moral que visa auto-proteção e que leva à tomada de decisões mais acertadas. Para tanto, precisamos visualizar as consequências da sociedade industrial e tecnológica, antecipando mentalmente suas condições desastrosas. Diante dos novos fenómenos tecnológicos, a política e a ação coletiva passam para o centro da ética da responsabilidade.

A responsabilidade proclama o apelo de renúncia à utopia da técnica. Além disso, sua proposta não vai no sentido de abandonar ou rejeitar as conquistas tecnológicas. O que ele propõe é uma tomada de consciência dos efeitos nocivos e irresponsáveis contidos nessa “utopia do progresso”.

Embora tenha-se atribuído a O Princípio da Responsabilidade o papel de catalisador do movimento ambiental na Alemanha, sua obra O Fenómeno da Vida (1966) forma a espinha dorsal de uma escola de bioética nos Estados Unidos.

Profundamente influenciado por Heidegger, O Fenómeno da Vida tenta sintetizar a filosofia da matéria com a filosofia da mente, produzindo um rico entendimento da biologia, abrindo caminhos para a reflexão sobre a precariedade da vida e a temática da dependência humana da natureza e suas demais formas de vida. A questão da ética passa a ser abordada como parte da filosofia da natureza. Para ele, somente uma ética fundada na amplitude do ser teria algum significado.

Também escreveu abundantemente sobre Gnosticismo, pelo que é igualmente conhecido, interpretando a religião como um ponto de vista existencial filosófico. Jonas foi o primeiro autor a escrever uma história detalhada do antigo gnosticismo. Além disso, foi um dos primeiros autores a relacioná-lo com questões éticas nas ciências naturais.