Fenomenologia (do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que se mostra – e logos – explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos; tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua “significação”. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura.
Edmund Husserl é o fundador da Fenomenologia como método de investigação filosófica e estabeleceu os principais conceitos e métodos que seriam amplamente usados pelos filósofos desta tradição. Influenciado por Franz Brentano, seu mestre, lutou contra o historicismo e o psicologismo. Idealizou um recomeço para a filosofia como uma investigação subjetiva e rigorosa que se iniciaria com os estudos dos fenômenos como aparentam a mente para encontrar as verdades da razão. A Fenomenologia representou uma reação à eliminação da metafísica, pretensão de grande parte dos filósofos e cientistas do século XIX.
Edmund Gustav Albrecht Husserl foi um matemático, logico e filósofo alemão, conhecido como o fundador da fenomenologia. Husserl foi professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, e autor de A ideia da Fenomenologia”(1906). Husserl continua suas pesquisas e atividades nas instituições de Friburgo, até que seja definitivamente demitido por causa de sua ascendência judia, sob o reitorado de seu antigo aluno Heidegger.
Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, Husserl quis que a filosofia tivesse as bases e condições de uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao raciocínio filosófico em relação a coisas tão variáveis como as coisas do mundo real?
O êxito do método científico está no estabelecimento de uma “verdade provisória” útil, que será verdade até que um fato novo mostre outra realidade. Para evitar que a verdade filosófica também fosse provisória Husserl propõe que ela deveria referir-se às coisas como se apresentam na experiência de consciência, estudadas em suas essências, em seus verdadeiros significados, de um modo livre de teorias e pressuposições, despidas dos acidentes próprios do mundo real, do mundo empírico objeto da ciência.
A redução Fenomenológica
O interesse para a Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se realiza para cada pessoa. A redução fenomenológica ou “epoche” requer a suspensão das atitudes, crenças, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, eventos, memórias, sentimentos, etc constituem nossas experiências de consciência, não devemos nos preocupar se eles correspondem ou não a objetos do mundo externo à nossa mente. “Redução fenomenológica” significa, portanto, restringir o conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência, desconsiderar o mundo real, colocá-lo “entre parênteses”, se preocupar com o conhecimento do mundo na forma que se realiza e na visão do mundo que o indivíduo tem.
O Noesis é o ato de perceber e o Noema é o objeto da percepção como fenômeno de consciência, esses são os dois pólos da experiência.
Consciência e Intencionalidade
O elemento importante herdado por Brentano foi a noção de intencionalidade, que define a forma essencial dos processos mentais. Uma definição simples dirá que a principal característica da consciência é de ser sempre intencional: A consciência sempre é consciência de alguma coisa.
Isto equivale afirmar, como Husserl, que os objetos dos fenômenos psíquicos independem da existência de sua réplica exata no mundo real porque contêm o próprio objeto. A descrição de atos mentais, assim, envolve a descrição de seus objetos, mas somente como fenômenos e sem assumir ou afirmar sua existência no mundo empírico. O objeto não precisa de fato existir. Foi um uso novo do termo “intencionalidade” que antes se aplicava apenas ao direcionamento da vontade.
A Redução Eidética
Reconhecido o objeto ideal, o noema, o passo seguinte é sua “redução eidética”, ou seja redução à ideia: consiste na análise do noema para encontrar sua essência.
A redução eidética é necessária para que a filosofia preencha os requisitos de uma ciência genuinamente rigorosa de claridade apodítica, a certeza absolutamente transparente e sem ambigüidade, requisitos antes mencionados por Descartes. Os objetos da ciência rigorosa têm que ser essências atemporais, cuja atemporalidade é garantida por sua idealidade, fora do mundo cambiável e transiente da ciência empírica.
A Intuição do Invariante
Husserl distingue entre percepção e intuição. Alguém pode perceber e estar consciente de algo, porem sem intuir o seu significado. A intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido. O modo de apreender a essência é a intuição das essências e das estruturas essenciais. Aquilo que permanece imutável na multiplicidade, a essência – esse algo idêntico que continuamente se mantém durante o processo de variação, e que Husserl chamou “o Invariante”.
Não podemos acreditar cegamente naquilo que o mundo nos oferece. No mundo, as essências estão acrescidas de acidentes enganosos. Husserl definiu a Fenomenologia em termos de um retorno à intuição e a percepção da essência.
Redução Transcendental
Embora tenha trabalhado até o final de sua vida na definição do que chamou Redução Transcendental, Husserl não chegou a uma conclusão clara. Basicamente seria a redução fenomenológica aplicada ao próprio sujeito, que então se vê não como um ser real, empírico, mas como consciência pura, transcendental, geradora de todo significado. Para o fenomenólogo, a função das palavras não é nomear tudo que nós vemos ou ouvimos, mas salientar os padrões recorrentes em nossa experiência. Identificam nossos dados dos sentidos atuais como sendo do mesmo grupo que outros que já tenhamos registrado antes. Uma palavra não descreve uma única experiência, mas um grupo ou um tipo de experiências.
Em um período posterior, Husserl experimenta novos métodos para fazer entender aos seus leitores a importância da Fenomenologia para a investigação científica (especificamente para a Psicologia) e o que significa “pôr entre parênteses” a atitude natural.
A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental foi a última obra de Husserl, que lida mais diretamente com estas questões, onde descreve metodicamente duas vias para a redução transcendental, sendo uma por meio da reconsideração do “mundo-da-vida” já dado, e outra pela “psicologia”.