A idade média teve início na Europa, com as invasões germânicas (barbaras) no século V sob o Império Romano do ocidente, esta época estende-se ate ao século XVI, com a retomada comercial e o renascimento urbano. A idade média caracteriza-se pela economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da igreja católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada

Sistemas de alqueive e tracção animal leve

Os cereais ocupavam as terras lavráveis em alternância com o alqueive para formar uma rotação de curta duração, enquanto o rebanho obtinha sua subsistência das pastagens naturais periféricas e desempenhava assim, um papel capital nos trabalhos dos campos e na renovação da fertilidade das terras cerealíferas. Entretanto, o cultivo com tracção animal pesada distingue-se nitidamente do cultivo com tracção animal leve pelo uso, no primeiro caso, de meios de transporte e de trabalho do solo muito mais potentes: as carretas com rodas substituem o transporte no lombo de animal, e o arado charrua, ao contrário do arado escarificador, permitia realizar uma verdadeira lavoura do solo.

Nas regiões temperadas frias, esses novos materiais permitem ampliar as práticas de cultivo e de criação até então limitadas, a saber, o uso do feno, da estabulação do gado durante a estação fria e o emprego da estrumação.

O desenvolvimento dessas práticas deu origem a um novo ecossistema cultivado, que comportava mais campos para ceifa e terras cultiváveis lavráveis mais extensas, mais bem estrumadas, geralmente cultivadas em rotação trienal. Dessa forma aparece um novo sistema agrário que, apesar do custo elevado dos materiais de cultivo com tracção pesada, se propagou amplamente nas regiões temperadas frias e permitiu um aumento considerável da produção e da produtividade agrícola. Nas regiões mediterrâneas, ao contrário onde a falta de forragem durante o inverno não era um factor limitante, o cultivo com tracção pesada era muito menos rentável. Essas regiões seguiram, então, outras vias de melhoria mais apropriadas, como a arboricultura, o nivelamento das encostas e a irrigação.

Mas foi apenas na Idade Média central – dos séculos XI ao XIII – que os sistemas com alqueive e tracção pesados tiveram amplo desenvolvimento no norte da Europa. Graças ao desenvolvimento do cultivo com tracção pesada, a revolução agrícola da Idade Média conduziu a economia rural do Ocidente ao limiar

dos tempos modernos. Durante três séculos, essa revolução agrícola alimentou uma expansão demográfica, e económica e urbana sem precedentes.

Sistema de tracção animal pesado

A eficiência dos sistemas de cultivo com alqueive e tracção leve era limitada pela fragilidade dos meios de lavrar e de transporte. A lavração manual, com uso de pá ou enxadão, tomava muito tempo e era tão penosa que se tornava impossível estendê-la para a totalidade dos alqueives. Resulta daí a má preparação do solo antes da semeadura. Por outro lado, o transporte de carga em lombo de animal não permitia transferir grandes quantidades de matéria orgânica (forragem, cama e esterco) das pastagens até as terras cultivadas. Ora, as transferências de fertilidade por simples confinamento nocturno eram pouco eficientes, pois uma grande parte de dejectos animais se perdia no percurso e ao longo dos caminhos e os dejectos depositados nos alqueives eram frequentemente mal misturados. Finalmente, no cultivo com tracção leve, a reprodução da fertilidade das terras cultivadas era mal garantida.

No final das contas, nesse género de sistema, os cultivos de cereais deviam ser pouco extensos, mal adubados, mal preparados, mal estrumados e de fraco rendimento.

Transportes pesados, estabulação e esterco

Para escapar das dificuldades do deslocamento quotidiano durante o inverno, foram construídos, perto dos locais de moradia, galpões destinados a abrigar os animais (estábulos, estrebarias, currais) e as reservas de feno (granjas ou celeiros). Graças a essas instalações, o rebanho podia passar toda a estação fria estabulado, o que permitia recolher a totalidade das dejecções, nocturnas e diurnas. Como esses dejectos eram húmidos e pouco manejáveis, eles passaram a ser misturados com uma base composta de folhas ou palhas de cereais, produzindo um tipo de composto, o esterco ou estrume facilmente manipulável com o gadanho e também transportável.

O uso do esterco constituía um modo de transferência da fertilidade dos tapetes herbáceos para as terras de cultivo, algo bem mais eficiente que o confinamento nocturno. O esterco apresentava, além do mais, a vantagem de poder ser conservado e aplicado no momento mais favorável.

Estábulo onde se recolhe o esterco

A imagem ilustra a estabulação do gado o que contribuiu para o encurtamento de distâncias para a recolha de estrume.

O arado charrua e a grade

Para proporcionar resultados plenamente satisfatórios, o esterco, obtido pelo uso do feno e pela estabulação durante a estação fria, devia ser cuidadosamente enterrado em toda a superfície das terras a semear. Ora, nem a aração, que não revirava o solo, nem a lavração a braço, que só podia ser realizada numa pequena parte dos alqueives, permitiam concluir completamente esse trabalho e em tempo hábil. Para resolver o problema, era preciso dispor de um equipamento novo, o arado charrua, capaz de realizar um verdadeiro e rápido trabalho de lavração, todos os anos, enterrando dezenas de toneladas de esterco em toda a extensão dos alqueives.

A lavração com o arado charrua é relativamente rápida, mas, geralmente deixa o terreno coberto

por grandes torrões e por ervas indesejadas mal extirpadas. É por isso que se deve completar o trabalho da charrua, pela passagem de um novo instrumento, a grade. Puxada por animais, a grade é constituída por uma armação de madeira na qual são fixadas longas pontas, ou dentes, que sacarificam o solo, distorçam e afinam a terra, arrancando as ervas adventícias residuais. Ela é também utilizada para preparar o leito de semeadura, e, depois desta, para enterrar os grãos.

Arado charrua e grade

Estes instrumentos da tracção pesada contribuíram bastante para a eficiência da preparação da terra para a sementeira.

Vantagens da tracção pesada

Com o cultivo com tracção pesada, a contribuição dos animais de tracção aos trabalhos agrícolas aumentou muito. Dia após dia, em todas as estações do ano em todos os terrenos, os animais trabalhavam, puxando a charrua e a grade, ou pesados carroções de feno, de feixes de cereais, de esterco e de lenha. Nessa condição, os cascos dos cavalos e dos bovinos se desgastavam, a menos que fossem ferrados. A ferragem dos animais de tracção, com ferraduras fixadas com pregos, foi um procedimento que começou a ser praticado na Europa a partir do século IX, aproximadamente. Ela permitiu eliminar o último factor limitador do desenvolvimento do cultivo com tracção pesada.

Tipos de paisagens agrícolas (Hortas, vinhedos e pomares ampliados)

As terras cultiváveis eram geralmente reservadas ao cultivo de cereais, praticados nas hortas ou nos pequenos cercados próximos às moradias. Essas hortas, eram livres de vegetação arbórea, capinadas, destituídas de pedras, melhoradas, abundantemente estercadas. Nelas encontravam-se leguminosas alimentares e outras verduras, algumas plantas aromáticas, medicinais ou mesmo ornamentais, plantas têxteis (linho, cânhamo), oleaginosas e plantas próprias para pintura (pastel, ruiva dos tinteiros, urzela, lírio dos tinteiros), que foram muito valorizadas em certas regiões na Idade Média.

A vinha, sob a influência da conquista romana e da Igreja católica, ganhou terreno em toda a Europa durante a Idade Media. Ela estava em todos os vilarejos onde seu cultivo fosse possível, inclusive na parte setentrional.

A vinha podia ser encontrada na forma de trepadeira, cultivada em associação com as árvores frutíferas das hortas e dos pomares. Era também instalada em encostas inclinadas e pedregosas, bem organizada a fim de proporcionar bons vinhos. Em certas épocas, a vinha mais rentável que os cereais estendiam-se até mesmo sobre as planícies de trigo.

A associação entre cultivo e criação

As práticas de cultivo e de criação que se desenvolveram na Idade Média, com o uso de equipamentos de cultivo com tracção animal pesada conduziram, a um ecossistema cultivado diferente do antigo, composto por terras lavráveis aumentadas, mais bem adubadas e preparadas, de pastagens naturais reduzidas, devidamente divididas entre pastagens e campos de ceifa, e que continha um rebanho aumentado e mais bem alimentado.

A criação do cavalo de tracção também se desenvolveu relacionada ao uso dos novos equipamentos. A força de tracção do cavalo é semelhante à do boi, mas, como ele avança uma vez e meia mais rápido, a sua capacidade de tracção é superior. Além disso, ele pode trabalhar, diariamente, duas horas mais que o boi. Por essa razão, a criação do cavalo de tracção ganhou importância na Idade Média em certas regiões da Europa, apesar de seu custo elevado, já que um cavalo custava de três a quatro vezes mais que um boi.

Consequências da revolução Agrícola

Do século XI ao XIII, a revolução agrícola traduziu-se ao mesmo tempo pelo aumento da produção, que permitiu o desenvolvimento da população, e pelo crescimento da produtividade, que permitiu melhorar a alimentação e proporcionar um aumento dos excedentes. Esse excedente condicionou o desenvolvimento das actividades não agrícolas, artesanais, industriais, comerciais, militares, intelectuais e artísticas; em contrapartida, a indústria e o artesanato forneciam à agricultura novos meios de produção mais eficientes, e a demanda crescente de produtos agrícolas proveniente desses sectores de actividade estimulava o desenvolvimento da produção agrícola. Estima-se que a população da Europa ocidental tenha se multiplicado por três ou quatro na Idade Média central. Ninguém duvida que a melhoria do regime alimentar contribuiu bastante para esse acréscimo demográfico rápido.

 

Bibliografia

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NOÉME, Carlos. Importância da Agricultura nas Sociedades Modernas. Lisboa. ISA. 2010.

PIERRE, George. Geografia Económica. 4 edição, São Paulo.1983.