Vida e Obra de L. S. Vygotsky

Lev Semenovich Vygotsky (ou Vygotsky) nasceu em 1896 na Bielo-Rússia, que depois (em 1917) ficou incorporada a União Soviética, e mais recentemente voltou a ser Bielo-Rússia.

Lev Semenovich Vygotsky

O objectivo de suas pesquisas iniciais foi a criação artística. A partir de 1924 que sua carreira mudou drasticamente, passando Vygotsky a dedicar-se a psicologia evolutiva, educação e psicopatologia. A partir daí ele concentrou-se nessa área e produziu obras em ritmo intenso até sua morte prematura em 1934, devido a tuberculose. Apesar de ter vivido pouco tempo, Vygotsky alcançou vastos conhecimentos não apenas na área da psicologia, mas também das ciências sociais, filosofia, linguística e literatura.

Foi pioneiro ao sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são um produto de actividade cerebral. Conseguiu explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos dentro da história.

Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interacção do sujeito com o meio. O sujeito é interactivo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.

A Teoria de Vygotsky

Leontiev dizia que as crianças dão sentido as coisas principalmente através de suas acções com o ambiente, Vygotsky destacou o valor da cultura e o contexto social, que acompanha o crescimento da criança, servindo de guia e ajudando no processo de aprendizagem. Vygotsky partia da ideia que a criança tem necessidade de actuar de maneira eficaz e com independência e de ter a capacidade para desenvolver um estado mental de funcionamento superior quando interage com a cultura.

A criança tem um papel activo no processo de aprendizagem, entretanto não actua sozinha. Aprende a pensar criando, sozinha ou com a ajuda de alguém, e interiorizando progressivamente versões mais adequadas das ferramentas “intelectuais” que lhe apresentam e lhe ensinam activamente os adultos a sua volta.

As interacções que favorecem o desenvolvimento incluem a ajuda activa, a participação guiada ou a construção de pontes de um adulto ou alguém com mais experiência. A pessoa mais experiente pode dar conselhos ou pistas, servir de modelo, fazer perguntas, ensinar estratégias, para que a criança possa fazer aquilo que inicialmente não saberia fazer sozinho. Para que a promoção do desenvolvimento das acções auto-reguladas e independentes da criança sejam efectivas, é preciso que a ajuda que se ofereça esteja dentro da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), uma região psicológica hipotética que representa a diferença entre as coisas que a criança pode sozinha e as coisas para as quais necessita ajuda. Isto provavelmente pode ser diferente em função do sexo, das características da escola, etc.

Um destaque importante nas ideias de Vygotsky é dado a linguagem, que é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, demonstrando que as crianças dispõem de palavras e símbolos, as crianças são capazes de construir conceitos muito mais rapidamente. Acreditava que o pensamento e a linguagem convergiam em conceitos úteis que ajudavam o pensamento.

Níveis de desenvolvimento da teoria de Vygotsky

1 – Nível de desenvolvimento real – Nível de desenvolvimento real é determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, ou, é aquele que já foi consolidado pelo indivíduo, de forma torna-lo capaz de resolver situações utilizando seu conhecimento de forma autónoma. Esse nível é dinâmico aumenta dialecticamente com os movimentos do processo de aprendizagem.

2 – Nível de desenvolvimento potencial – é determinado através de resolução de um problema sob orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro, isto é, é a série de informações que a pessoa tem a potencialidade de aprender mas ainda não completou o processo, conhecimento fora de seu alcance actual, mas potencialmente atingíveis.

Zona de Desenvolvimento Proximal

O conceito de ZDP é talvez o conceito mais original e de maior repercussão, em termos educacionais, da teoria de Vygotsky. Trata-se de uma espécie de desnível intelectual avançado dentro do qual uma criança, com o auxílio directo ou indirecto de um adulto, pode desempenhar tarefas que ela, sozinha, não faria, por estarem acima do seu nível de desenvolvimento.

O conceito de Vygotsky sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) tem, primeiramente, um alcance teórico. Na concepção sociocultural do desenvolvimento, não se pode considerar a criança como um ser isolado de seu meio sociocultural. Não se pode analisar o desenvolvimento da criança nem avaliar suas aptidões, nem sua educação, se omitirmos seus vínculos sociais. O conceito de ZDP ilustra precisamente esse ponto de vista.

Numa visão dialéctica das relações entre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky assinala que este último seria mais produtivo se a criança fosse submetida a novas aprendizagens precisamente na ZDP. Nesta zona, e em colaboração com o adulto, a criança poderia adquirir com maior facilidade o que seria incapaz de conseguir se limitar-se a suas próprias forças.

São muitas as possibilidades de ajuda que um adulto pode oferecer na ZDP, destacando-se a imitação de atitudes, os exemplos apresentados a criança, as perguntas de carácter maiêutico (método socrático onde o mestre, mediante perguntas, faz com que o discípulo descubra noções que estavam latentes nele), o efeito da vigilância por parte do adulto e também, acima de tudo, a colaboração em actividades compartilhadas como factor construtor do desenvolvimento.

Processo de Mediação segundo Vygotsky

O ser humano não tem acesso directo aos objectos. É através da mediação e do processo de internalização que ele consegue adquirir conhecimento e desenvolver-se, portanto, Vygotsky, enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interacção do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interactivo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.

O teórico pretendia uma abordagem que buscasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Ele sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim, sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da dimensão sócio histórica e na interação do homem com o outro no espaço social. Sua abordagem sócio-interacionista buscava caracterizar os aspetos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da história do indivíduo.

As teorias pedagógicas de Vygotsky

A implicação pedagógica mais relevante deste conceito reside na forma como é vista a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Ao contrário de outras teorias pedagógicas, como a piagetiana, que sugerem a necessidade de o ensino ajustar-se a estruturas mentais já estabelecidas, para Vygotsky, o aprendizado orientado para níveis de desenvolvimento que já foram atingidos é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança.

Ele não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas, ao invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de zona de desenvolvimento proximal capacita-nos a propor uma nova fórmula, a de que o “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento.

É destacada, portanto, a importância da figura professor como identificação/modelo e como elemento chave nas interacções sociais do estudante. Os sistemas de signos, a linguagem, os diagramas que o professor utiliza têm um papel relevante na psicologia vygotskyana, pois a aprendizagem depende da riqueza do sistema de signos transmitido e como são utilizados os instrumentos. O objectivo geral da educação, na perspectiva vygotskyana, seria o desenvolvimento da consciência construída culturalmente.

Vygotsky participou activamente numa série de actividades pedagógicas. Foi educador e comenta-se que era óptimo professor. Fez parte de alguns órgãos governamentais na área de educação. Para ele, o problema da relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem constitui antes de tudo um problema teórico. Porém, como sua teoria, a educação não era de modo algum a parte do desenvolvimento e que este teria lugar no meio sócio-cultural real.

Para Vygotsky a educação não se reduz a aquisição de um conjunto de informações, mas constitui uma das fontes do desenvolvimento, e a educação de define como o desenvolvimento artificial da criança. A essência da educação consistiria em garantir o desenvolvimento proporcionando a criança instrumentos, técnicas interiores e operações intelectuais.

Vygotsky atribuiu a grande importância aos conteúdos dos programas educacionais, porém enfatizava os aspectos estruturais e instrumentais desses conteúdos. Infelizmente ele não aprofundou muito o desenvolvimento dessas ideias.

A existência da escola implica numa estruturação do tempo e do espaço e está baseada num sistema de relações sociais (entre alunos e professores, entre alunos e alunos, entre o estabelecimento de ensino e o meio ambiente, etc.). Os efeitos da escolarização são o resultado desse “meio escolar”.

Ele criticava a escola, pois nem sempre ensina sistemas de conhecimento, mas frequentemente, oprime os alunos com factos isolados e carentes de sentido. Os conteúdos escolares não carregam em si mesmos os instrumentos e as técnicas intelectuais e, muito frequentemente, não existem na escola interacções sociais capazes de construir os diversos saberes.

Bibliografia

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