Na experiência e no conhecimento nos consideramos comumente que nos encontramos diante de obietos diferentes de nós e que agem sobre nós.

Como se explica o fato de o sujeito considerar o objeto diferente de si, a ponto de sentir-se "afetado" pela acção dele?

Fichte procura resolver o problema retomando de Kant a figura teórica da "imaginação produtiva" e transformando-a de modo muito engenhoso.

Em Kant, a imaginação produtiva determinava a priori a forma pura do tempo, fornecendo os "esquemas" as categorias.

Em Fichte a imaginação produtiva torna-se criadora "inconsciente" dos objetos. A imaginação produtiva, portanto, é a atividade infinita do Eu que, delimitando-se continuamente, produz aquilo que constitui a materia de nosso conhecimento.

Precisamente por se tratar de produção inconsciente, o produto nos aparece como "diferente" de nós. Mas a imaginação produtiva fornece, por assim dizer, um material bruto, do qual, em etapas sucessivas, a consciência se reapropria através da sensação,  da intuição sensível, do intelecto e do juízo.

Ora, se nós nos colocarmos no ponto de vista da reflexão comum, pelas razões explicadas, formamos "a sólida convicto de que as coisas tem realidade fora de nós" e que, portanto, elas existem sem nossa intervenção.

Todavia, quando, com a razão filosófica, refletimos sobre as etapas do processo cognoscitivo e suas condições, então adquirimos consciência do fato de que tudo deriua do Eu e, em nossa autoconsciência, nos aproximamos sempre mais da "autoconsciência pura". E evidente que, em todo esse percurso, o não-eu se revelou como condição necessária para que nascesse a consciência, que é sempre consciência de alguma coisa diferente de si, e que, entretanto, pressupõe sempre uma alteridade.

E também é evidente que a autoconsciência pura permanece como limite do qual podemos nos aproximar, mas que nunca podemos atingir, exatamente por razões estruturais (derrubar todo limite significaria derrubar a própria consciência).