Em todos casos o termo estética diz respeito à maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos, e à maneira como elas nos impressionam, favorável ou desfavoravelmente, pela sua mera aparição diante de nós.

Estética, poderíamos então concluir, tem a ver com a aparência imediata das coisas, em seu efeito de agrado ou desagrado sobre nós. Isto está de acordo com o sentido original do termo grego "aesthesis", do qual provém nosso vocábulo estética.

Pois, em grego, "aesthesis" diz respeito à nossa capacidade de receber impressões sensíveis dos objetos que nos cercam, nossa capacidade de sermos afetados, através dos cinco sentidos, por esses objetos.

Esse significado também está implicado no sentido filosófico de estética, que é, na verdade nosso alvo principal aqui – aliás, esse termo dá a impressão de ter trilhado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosóficos: ao invés de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum, a palavra estética, parece ter nas últimas décadas descido das alturas filosóficas para circular livremente pelas calçadas das cidades.

Mas, por falar em filosofia, eu, que tenho cá meus informantes, sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano, não é mesmo? Então com certeza já tem alguma familiaridade com o sentido filosófico de estética. Terá tido em mãos compêndios de estética, em cujas páginas leu coisas sobre a estética de Hegel, a estética platônica ou a de Nietzsche.

Se sua graduação foi em filosofia, terá frequentado disciplinas com o nome de estética e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadêmicas específicas de estética. Sabe também que anualmente realizam-se congressos de estética e que há periódicos especializados nesta estética filosófica.

Sabe, portanto, que estética em filosofia delimita um campo teórico, um terreno específico de investigação filosófica. Estética é de fato uma disciplina filosófica, assim como a teoria do conhecimento, a ética, a filosofia da linguagem, a filosofia política etc.

Aqui está uma primeira e importante diferença entre os sentidos filosófico e popular do termo “estética”: em filosofia esse termo não designa características ou propriedades das coisas comuns nem dos objetos artísticos, mas sim um campo de investigação que contém um conjunto de teorias, questões e conceitos filosóficos.

Mas há relações de proximidade também importantes entre os dois sentidos: a estética filosófica (daqui em diante vamos designá-la como Estética) também trata da forma como as coisas se apresentam a nós e da maneira como reagimos a essa apresentação; e é exatamente a esse tema que se referem as teorias, questões e conceitos que a compõem.

Como filosofia, ou seja: como âmbito de investigação teórica e conceitual sobre nossas rea- ções à forma pela qual as coisas se apresentam a nós, a Estética fala do belo e do feio, mas não para me ensinar que isto é belo e aquilo é feio, nem para me recomendar o belo e condenar o feio – muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que não são belas venham a sê-lo. Se fosse assim, não seria teoria, mas um guia prático, e, o que é mais importante, já daria como conhecido o sentido do termo belo, quando é exatamente isto que se trata de determinar: na Estética, precisamente esse sentido está em aberto e torna-se objeto de debate.

Como filosofia, a Estética quer saber o quê é uma coisa bela. Pergunta-se pelo porquê de que a aparência de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que são belas, e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o são. Ela quer explicitar conceitualmente os critérios pelos quais julgamos a aparência das coisas.

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2012, by Unesp - Universidade estadual Paulista

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