Espaço e Tempo verso Lugar e Movimento


Antes de mais, procuraremos compreender a característica do debate travada na antiguidade sobre cada conceito que compõe o tema. Começando com “espaço” de acordo com o dicionário Abbagnano, a noção do espaço deu origem a três ordens de problemas; primeira ordem, a respeito da natureza do espaço, a segunda ordem a respeito da realidade do espaço, e por fim a terceira ordem diz respeito a estrutura métrica do espaço. Mas neste trabalho a reflexão do tema espaço e tempo versus lugar e movimento, que está na ordem da realidade do espaço, que se pretende falar está inclinado directamente na concepção de Henri Bergson.

De acordo com Real e Antiseri (2006) Henri Bergson nasceu na França no ano de 1859 e morreu em 1941. Das suas diversas obras, podem se destacar as seguintes: o Ensaio sobre os dados imediatos da consciência (1889) até o pensamento e o movente (1934), passando por Matéria e memória (1896), A evolução criadora (1907) e As duas fontes da moral e da religião (1932).

Relativo ao problema do tempo, Bergson (2005) constatou que a ciência, de modo especifico a física e a matemática, concebe o tempo como sendo um conjunto de instantes consecutivos, numericamente apreendidos, que se resumem a extremidades de intervalos ou de momentos, de paragens e não de paragem. Ou seja, a ciência para Bergson, não se ocupavam do “tempo real”, da “duração real” que o tempo de que elas tratavam era um tempo que “não servia para nada, não fazia nada”.

Idem apud coelho (2004), a ideia de que o tempo dos físicos não faz nada, não serve para nada, segundo o filósofo, está implicada na crença de que, se houvesse uma inteligência sobre-humana, ela seria capaz de calcular o futuro e o passado a partir dos elementos do presente. Trata-se de um tempo no qual a mesma causa sempre produz o mesmo efeito e é isso que torna possível o estabelecimento de leis que permitem a previsão, o cálculo antecipado dos fenómenos futuros que preexistiriam de certa forma à sua realização.

Além do mais, o tempo dos físicos e matemáticos é reversível, ou seja, as equações que descrevem os acontecimentos passados e futuros permaneceriam as mesmas ainda que os invertêssemos. Consideremos agora o tempo real,

o tempo vivido ou que poderia o ser”.


De acordo com Modenesi (2011) o tempo de Bergson não é o tempo espacial, esse “vazio” no qual os acontecimentos se sucederiam. O filósofo propõe que desvia-se olhar e considerar os próprios acontecimentos, sejam eles psíquicos ou físicos. É aí que descobriremos o tempo real, cujas propriedades fundamentais são a sucessães, a continuidade, a mudança, a memória e a criação. Embora esses aspectos da duração estejam intimamente relacionados, trataremos cada um deles em separado.

Primeiro, temos como propriedade fundamental do tempo real a sucessão. Ou seja, as vivências interiores, assim como os acontecimentos no mundo físico, embora possam ser simultâneos ou contemporâneos uns dos outros, são também sucessivos, ou seja, ocorrem uns após os outros, constituem uma história.

Bergson propõe que pensamos no tempo em termos da sucessão passado, presente e futuro e que consideramos como acontecimentos passados aqueles que antecederam os acontecimentos presentes, não estando mais se realizando; como acontecimentos presentes os que substituem o passado, precedem o futuro e estão ainda se realizando; e como acontecimentos futuros aqueles que substituirão os presentes, que ainda se realizarão.

Em outras palavras e de forma sintética, pode-se afirmar que para Bergson, o tempo é “continuidade indivisa de mudança heterogénea”. A sucessão temporal é uma mudança ou fluxo contínuo incessante, uma transformação ininterrupta. Bergson entende que o tempo por causa da experiencia concreta escapa à mecânica, porque no seu ver a mecânica estabelece o tempo como uma serie de instantes, um ao lado do outro, como se vê a sucessivas posições dos ponteiros do relógio.

Pôs, este tempo de mecânica é um tempo especializado que compreende que, medir o tempo seria comprovar o movimento de um determinado objecto que coincide com o movimento de um ponteiro no interior daquele espaço. Para além disso, a mecânica, todo momento é externo ao outro e é igual ao outro, um instante se sucede ao outro e não há um instante diferente do outro, mais intenso ou mais importante do que o outro. Comecemos pelo movimento tem a mão no ponto A. Transporto-a para o ponto B, percorrendo o intervalo AB. Digo que esse movimento de A para B é algo simples.

Ora, disso cada um de nós tem a sensação imediata. Sem dúvida, enquanto levamos nossa mão de A para B dizemo-nos que poderia detê-lo num ponto intermediário, mas então já não haveria, por hipótese, dois movimentos com intervalo de parado. Nem de dentro, pelo sentido muscular, nem de fora, pela vista, teríamos a mesma percepção. Se deixamos nosso movimento de A para B tal como ele é, sentimo-lo indiviso e devemos declara-lo indivisível. ( Bergson,2006)


O primeiro problema do espaço concerne a verdadeiro problema da natureza da exterioridade em geral, ou seja daquilo que torna possível a relação extrínseca entre os objectos. Trata-se de uma análise sobre os conceitos espaço-tempo movimento e mudança, percepção sensação.

Assim, no entender de Bergson (2005), o que a ciência considera de Tempo é nada a mais do que o espaço. O espaço no entender deste pensador, é aquilo que serve para separar os instantes do tempo, aniquilando a duração que é a passagem. O espaço é a consciência que dura e une a sucessão na indistinção qualitativa.

Bergson, o espaço é uma ilusão, e mais, consiste numa fonte de outras ilusões, na proporção em que afecta o conhecimento, ao relativizar aquilo que, para ele, consiste no próprio absoluto, a saber, o Tempo e a mudança.

O autor vê o Movimento como sendo a passagem de um repouso a um outro repouso, isto é, a passagem de um ponto a outro e, consequentemente em atravessar o espaço" (BERGSON, 1999: 219-220).


Nesta perspectiva, o autor mostra a questão de movimento como sendo um trajecto pelo qual um determinado corpo segue, passando por assim dizer de um dado espaço para um outro, mas como ilustra Bergson este movimento é inseparável e, a indivisibilidade do movimento implica portanto a impossibilidade do instante, isto é,

a visão capta o movimento como um todo indivisível, e que, se ela divide alguma coisa, é a linha supostamente percorrida e não o movimento que a percorre" (idem).


Na mesma ordem de ideias, Hegel (1997: 62) define o movimento como sendo “o desaparecimento e regeneração do espaço no tempo e do tempo no espaço”, por tanto, é essa rejuvenescência contínua do espaço no tempo e do tempo no espaço, é este vir-a-ser que o movimento se efectua, ou seja, movimento é um gerar constante entre o tempo e o espaço e vice-versa. Nisto Hegel concorda com Bergson movimento é o processo, o passar do ponto do espaço. Sendo assim, é apenas a imaginação que repousa aqui, porque o papel do móvel, ao contrário, é se mover. Mas também é compreender a imaginação pode se deter numa certa etapa enquanto o móvel para. Bergson chama a atenção neste ponto para não se confundir entre os dados dos sentidos que percebem o movimento com os artifícios do espírito que o recompõe, isto é, não substituir a trajectória pelo trajecto.

CONCLUSÃO


Durante o trabalho, procurou-se compreender os conceitos tempo, espaço, versos lugar e movimento no pensamento de Henri Bergson. E durante isso, mencionou-se que o tempo é a memória da pessoa que receber movimentos internos advindos do mundo externo (as sensações), assim como a de devolvê-los ao lugar do qual vieram (as reacções), o que acena para uma operação circunscrita ao âmbito do presente.

E abordou-se que Bergson considera que o tempo não é um vazio homogéneo no qual os acontecimentos se sucederiam semelhante à ideia do espaço vazio no qual os objectos estariam colocados simultaneamente, e finalmente falou-se que ao dizer que o tempo é o tecido do real, Bergson estabelece que o tempo compreendido como sucessão, continuidade, mudança, memória e criação não pode ser separado dos acontecimentos, sejam eles psicológicos ou físicos. Nesse sentido, o tempo é único, ou seja, essa é a natureza da infinidade de fluxos ou durações temporais contemporâneas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


COELHO, Jonas Gonçalves. (2004). Ser do tempo em Bergson.

Bergson, Henri (2005). Evolução criadora. São Paulo. Bento Prado Neto (2005). São Paulo. Martins Fontes.

HEGEL, G. W. Friedrich(1997). Enciclopédia das ciências filosófica.Trad. José Nogueira. São Paulo, Loyola.

MODENESI, Jean Calmon (2011). Tempo e espaço, mudança e movimento, percepção/sensação e lembrança em Henri Bergson. Rio de Janeiro/UFRJ.