```Contos da Mana Ancha```

❤️ *ESTADO CIVIL* 💔

_*Capítulo 6*_

Os padrinhos interviram com aquele discurso que os casais muito bem conhecem.

— Todos os casais brigam. O casamento não é um mar de rosas. É necessário construírem o vosso lar na base de diálogos. Todos temos defeitos, e precisamos saber conviver com eles.

Estava confirmado que não havia condições para o casal conversar. Inácio estava impaciente, e Stela estava implicante. 

 

Os padrinhos decidiram conversar com eles em separado. Aconselharam Stela a ser paciente e calma, cuidar do marido, da casa, e ajudar Inácio no que fosse possível. Aconselharam Inácio a arranjar formas de melhorar as condições de vida da sua família.

Sublinharam na importância do casal ser amigo e companheiro, pois, só dessa forma conheceriam as vontades e sonhos, e também, limitações de cada um.

Inácio, mesmo consciente de que não estava a fazer nada de errado concordou em melhorar sua prestação para o bem da sua família.

Stela, mesmo certa de que Inácio é que estava errado, e que sua atitude era apenas em resposta ao poço em que Inácio a colocou, comprometeu-se a ser mais compreensiva e atenciosa para seu marido.

Os conselhos são precisos, pois nos mostram outra forma de ver as coisas porém, não infalíveis, pois quem dá o conselho não vive a realidade do aconselhado, e numa roda de conversa, cada um procura camuflar a verdade.

 

Cada conselheiro tem sua origem, seus valores, e os aconselhados também têm sua forma de ver, e quando elas não comungam, por melhor que seja o conselho, dificilmente será aplicado, a não ser que o aconselhado mude seu ser.

Alguns conselheiros vivem outras realidades, em outros tempos, com outro tipo de pessoas.

 

A sociedade, hoje, cria uma mulher que pode ser como homem para opinar, ditar, ordenar, mas não ensina que ser homem é, também, colocar ao dispôr da família seu rendimento.

 

A sociedade está a criar uma mulher forte, mas tão forte, que chega a torná-la tão dura, e acaba perdendo a leveza de dar carinho e amor, tão dura que já não tem sutileza em suas palavras, tão dura que até seu corpo está rijo como uma pedra, e já não é assim tão aconchegante como as almofadas de penas de ganso.

 

A sociedade hoje está baseada na mistura, onde homem pode ser mulher e mulher pode ser homem, não respeitam e nem conhecem os seus devidos lugares, e não fala dos homossexuais.

 

Se marido não assume seu papel, e mulher quer dominar, existe um lar?

Se vive em uma eminente cobrança e atribuição de culpa, existe espaço para um lar?

Se prometem estar juntos, se apoiarem na alegria na doença, na pobreza e na riqueza, em todos os dias de suas vidas, mas cada um puxa para seu lado, que estado civil é esse?

 

No casamento, o ideal seria priorizar o que é melhor para a família e os interesses individuais, mas, vivemos lares egoístas, onde a regra base é primeiro eu, segundo eu, depois eu, e no fim eu, também.

 

Imagine, se o seu lado esquerdo tivesse seu cérebro, e o seu lado direito outro cérebro, certamente que ambos lados teria suas vontades, e entrariam em disputa. Nesse dilema para onde irias? Claramente, para lado nenhum.

 

É assim que estão muitos casais, não vão a lado nenhum, pois cada um tem suas vontades mesmo sabendo que são um só.

 

Voltemos a história.

Depois daquela conversa toda, cada um tinha sua missão, mas não era o mais importante, o que importava mesmo, era o que cada um tinha dentro do seu coração. O que fracassa a nossa missão logo no inicio é a falta de vontade.

 

Stela e Inácio fizeram as pazes, e à maneira deles, passaram a conviver num ambiente melhorado, cada um fazendo um esforço para manter o clima.

 

Depois de alguns dias Bento arrefeceu, Sófia esclareceu o sucedido e ele acabou relevando, até porque era a verdade.

 

— Podias pelo menos registar a nossa menina com seu nome. - Disse Sófia.

— Não insiste com isso. Não posso. Já falamos sobre isso. - Disse Bento.

 

Bento era um homem respeitado, assumir um filho fora de casamento mancharia sua imagem, e isso não era discutível.

 

Tatiana estava animada, naquele sábado, que preparou o almoço cedo.

 

— Meninos coloquem os pratos na mesa. - Disse Tatiana.

— Almoço já está pronto? - Perguntou Nélio. 

 

Era normal num sábado almoçarem às catorze horas, e eram precisamente doze e onze.

 

— Sim meninos! Vamos almoçar rápido, depois de lavarem a louça, vou levar-vos a um lugar.

 

Tatiana estava a fazer suspense e os filhos estavam ansiosos. Treze e trinta já estavam despachados e dentro do carro à espera da mãe.

 

Tatiana conduziu por mais ou menos dez minutos, até que estacionou em uma casa, meio em pedaços.

 

— Meninos adivinhem o que fazemos aqui. - Disse Tatiana.

— Mãe, não faça isso. Já estamos curiosos demais. - Reclamou Nélio.

— Compramos esta casa.

— Mãe. - Disse Márcio, encantado.

— Precisamos reabilita-lá, mas está bem localizada.

— Mas mãe disse que iria comprar um terreno e construir uma casa. - Disse Nélio.

— Apareceu esta oportunidade, o dono quer se desfazer da casa, está a viver fora do país, e está com algumas dificuldades, por isso paguei um bom preço.

 

Nélio sabia que a mãe não tinha dinheiro para comprar uma casa na cidade.

 

— Calma filho! Vendi um dos camiões, também já estava a dar-me problemas.

— Então, mãe agora só tem um camião?

— Sim, mas temos uma casa, nossa.

 

Tatiana recebeu um abraço dos filhos, estavam na cidade que gostavam e já tinham uma casa.

 

— Já percebi, mas quero saber quando? - Insistiu Dina.

— Não me pressiona. Eu já te disse que próximo mês vou iniciar minha obra. - Disse João.

— Estamos juntos há quatro anos, achas que é justo? Percebo que não há condições para nos casarmos, mas pelo menos fazermos noivado.

— No ano passado fizemos apresentação. Tua família me conhece e a minha te conhece.

— Aquilo foi apresentação? Ires para minha casa com teu amigo e aquele seu tio que nem apelido dele conhece.

— Amor, relaxa.

— Não vou relaxar. Esperei fechares assuntos da sua empresa, esperei comprares carro.

— Comprei carro para ti também.

— Não te pedi, compraste porque quiseste. Agora tenho que esperar construíres casa. Vamos morar onde? Na casa de aluguer? Ou em casa da minha mãe?

— Perceba Dina, estou a preparar o futuro. Tenha paciência.

 

Dina estava farta. No seu grupo era a única que não estava casada, não tinha filhos, as perguntas dos sociais, a pressão familiar, associada à vontade própria estavam a levá-la ao ponto de ebulição.

 

Continua...

_Escrito por: Ancha Douglas_