Por: Marchal
KWAME ANTHONY APPIAH
O presente trabalho tem em vista trazer a ideia central do filosofo africano, KWAME ANTHONY APPIAH. No seu livro "na casa do meu pai." Appiah procura revisar todos os conceitos em que são construídas as identidades que hoje brilham no continente africano, no objectivo de demonstrar a real face e o eminente perigo que isto pode trazer aos povos da África.
O que o autor aqui propõe é a análise da formação dos Estados Africanos contemporâneos baseado na compreensão do passado pré-colonial, do colonialismo e da transição de poder da metrópole para os recém formados Estados independentes. O autor começa em um retroceder pelo tempo, diagnosticando a formação de novas identidades na junção da colonização com os costumes tradicionais de seu povo, a luta pela independência.
Em sua análise trabalha, com conceitos de Estado e de sua permanência junto as tradições de vários povos. As tradições são legitimadas pelas sociedades e portanto mais próximas as mesmas, permitem que (no caso específico ele se refere da etnia de seu pai, Achanti) estas sociedades possam exercer algum tipo de autonomia com relação ao Estado, sociedades estas unidas por convicções éticas, laços de afeição e mundos compartilhados de significações.
Já o Estado, como herança colonial, é legitimado através da coerção (citando exemplos como o os impostos e o alistamento obrigatório e o direito criminal que não é optativo) estigmatizado na repressão no aspecto amplo de exploração.
No caso de Gana, e note-se que o autor usa Gana para auxiliar na compreensão do que ocorreu em grande parte da África, o Estado que surge após a independência, possui os mesmos vícios e conjunturas do Estado colonial, em suma, perpetuando muitos aspectos do sistema económico colonial, além de serem suplantadas e ignoradas as diferenças étnicas, muitas vezes encobertas pelos discursos nacionalistas no que diz respeito a junção dos povos no processo de independência.
Quais as consequências da perpetuação de aspectos deste Estado colonial e a crença em uma igualdade étnica que de certa forma não existia? O Estado colonial visava a manutenção do poder, através da coerção e, ainda mais, o “retorno” de capitais investidos na colónia, principalmente sob a forma de impostos. Restringia o acesso a educação por parte dos nativos e tratava-se de um estado de exclusão social não participativo (neste ponto há que se abrir um precedente para as distinções entre as colonizações francesas e inglesas que ele mesmo diferencia).
Um estado independente que nascia para a gerar condições para o desenvolvimento e criação de infra-estrutura não poderia jamais apoiar-se nas bases de um estado que visava ganhos para a metrópole e a manutenção da ordem vigente. Ao herdarem o aparelho de Estado colonial, os governantes pós-coloniais herdaram as rédeas do poder, poucos repararam, no princípio, que elas não estavam ligadas a um bocal de freio (p. 230).
Em muitos casos, o que se observa depois da independência, são mecanismos que favorecem determinadas elites dentro do Estado, e a formação destes Estados sob bases frágeis, o que explica os vários golpes de estado sucessivos em muitos países recém independentes, que acabavam por comprometer a formação de estruturas que viabilizassem o desenvolvimento dos mesmos.
Quanto as etnias, como próprio Appiah cita: Uma vez passado o momento de coesão contra os britânicos, o registro simbólico da união nacional confrontou-se com a realidade de nossas diferenças, e mais, no caso de Gana o entusiasmo real que um dia existira, ainda que limitado, tinha-se evaporado; as complicações começaram a reter nossas atenções O que o autor aqui demonstra, é a fragilidade com que se da a formação destas “unidades nacionais” que logo depois da euforia, frente as complicações geradas pela administração do Estado, o que tende a se romper é exatamente o precário elo entre estes povos.
Há que se levar em conta ainda que os Estados geográficos europeus na África ignoraram qualquer diferença entre povos, adequando os territórios conforme sua vontade e lógica de exploração. Mas na independência a mesma Europa deixou a África com Estados a procura de nações.Mas a visão de Appiah que em uma primeira impressão possa parecer pessimista, traz a compreensão de possibilidades que possam proporcionar a alguns.
Estados africanos o crescimento e a criação de estruturas e mecanismos que possam alavancar o desenvolvimento e principalmente, gerir um estado de participação dos povos na gestão do Estado como um todo. Mas como ? O autor cita o exemplo das organizações e associações não governamentais que gradualmente passaram a exercer papéis anteriormente de função do Estado, como administração de creches, instituições de ensino e na área de saúde.
O funcionamento destas organizações, auxiliado em sua maioria por naturais da região, de certa forma, torna-se um aprendizado no exercício da organização e no que diz respeito a mobilização das pessoas
eles dão às pessoas a oportunidade de exercer modos participativos de organização da vida comunitária, proporcionam uma experiência de autonomia (p. 239).
Para Appiah, a democracia não deve ser baseada apenas em questão de parlamentos e eleições, mas no desenvolvimento de mecanismos pelos quais os governantes possam ser cerceados pelos governados.
Appiah encerra o capítulo de uma forma que deixe o leitor a imaginar que nada está pronto e que tudo se assemelha a uma fase de transição á qual nem ele mesmo consegue prever o que de certo irá ocorrer, mas nos deixa sub entendido de que, se alguns aspectos forem mantidos e não houver um pensamento racional comum que possibilite a superação das estruturas coloniais e as diferenças étnicas que impeça a orientação de vários povos como um todo e não fragmentado, aquilo que se pode esperar como um
Estado participativo de uma nação unificada torna-se inviável sob muitos aspectos e principalmente, a África se tornando um fragmentado território de muitas “identidades” e pouco conjunto, coesão, comum.
Bibliografia
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. 1 ed. Contraponto Editora, Rio de Janeiro,1997.