Para Mucale a grande semelhança entre os africanos do continente e os africanos da diáspora, como os afro-americanos, é a experiência histórica da opressão perpetuada por ocidentais, sobre tudo a escravatura e a colonização. A escravatura sofrida pelos africanos pode ter resultado dos preconceitos segundo os quais os africanos não tinham alma e eram animais muito mais fortes e habilitados a executar trabalhos muito mais duros do que os índios. A negrura não era reconhecida como fazendo parte da condição humana.

Segundo (Fieiro apud Mucale, 2013,P.44) a ponta a fragilidade e a instabilidade sociopolítica resultantes da decadência de duas potências imperiais africanas multi-étnica, songhay, em 1500, e yoruba, no final de 1700, como as que facilitaram que a Europa cometesse o seu maior crime humanitário, a escravatura, pela transformação de prisioneiros de guerra em escravos. Em 1808, surgiu nos Estados Unidos da América, a declaração do fim da escravatura e, paradoxalmente, ao invés da abolição, começou o processo de criação de escravos. Este processo incentivava a fecundidade e a reprodução: uma mãe que gerasse 10 filhos ganhava a liberdade, em troca da escravização dos seus filhos. Era uma táctica instrumentista que visava aumentar o número de escravos e perpetuar a escravatura. Outro problema enfrentado pelos afro-americanos foram a experiência histórica da segregação racial, que gradualmente foi substituindo a ideia de classe. O mesmo fenômeno se passou na áfrica do sul durante o ‘apartheid’ e um pouco por todos os outros países subjugados. Os afro-americanos estavam contra aos investimentos dos Estados Unidos na áfrica do sul, durante o sistema racista do ‘apartheid’.

Esta experiencia histórica negativa, caracterizada por um tratamento desumano de alguns ocidentais sobre os africanos, tornou urgente a criação da teoria afrocêntrica. A afrocentricidade como perspectiva de estudo, não seria nada sem o sistema esclavagista, o protesto pelos direitos civis, o nascimento do orgulho racial do black power. Neste contexto geral de luta pela auto-afirmação e liberdade dos negros espalhados pelo mundo, segundo Asante, foram avançados os três conceitos fundamentais que abordam as questões de negrura como um assunto filosófico nomeadamente: negritude, autenticidade e Afrocentricidade (Mucale, 2013, p.,47).

A negritude é precisamente o movimento de sensibilidades literária e artística dos intelectuais africanos falantes do francês; tem a ver com a criatividade. Portanto, é um movimento preocupado com a emancipação do povo africano, mas do qual nem todos podiam participar, uma vez que nem todos podiam ser intelectuais, nem artistas.

Autenticidade refere-se à história. Triunfou por apregoar que as pessoas se auto-realizam mediante a sua própria história e não por uma história alheia, como a do colonizador. Está explícito ou implicitamente patente, neste movimento, a ideia de que o africano deve ser o sujeito da sua própria história e não objecto.

Afrocentricidade é a mais completa totalização filosófica, que luta para o africano estar no centro da sua existência. O Afrocentrismo vai além da descolonização da mente dos africanos e dos oprimidos. A tarefa da educação afrocentrada deve ser sempre a descolonização contínua das mentes dos ex-oprimidos. A descolonização não consiste apenas em libertar-se da presença do colonizador, ela deve ser necessariamente completada pela libertação total do espírito do colonizado, ou seja, a descolonização deve consistir em todas as más consequências, morais, intelectuais e culturais do regime colonial.

Na visão de Mucale (2013:191), o que facilita o neo-imperialismo em áfrica é aquilo que ele chama de vestígios, malezas, sequelas ou saudade dos ex-colonizados da colonização. Algumas nações que foram colonizadas no passado mantém uma relação de dependência psicológica, para além da económica e política, com as suas ex-potências colonizadoras. O veículo dessa colonização mental foi a educação colonial. Os oprimidos, de tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber, que são enfermos, indolentes, que não produzem por tudo isto, terminaram por se convencer da sua incapacidade. Descolonizar a mente significa, apagar todos os preconceitos incutidos na mente dos oprimidos pelo sistema educacional racista branco, durante os cinco séculos de opressão. Pois, considerar-se livre apenas porque já não há aquela subjugação mais directa e bárbara do passado, mas continuar com preconceitos herdados da colonização é uma prova de que a libertação ainda não se plenificou. Os termos próprios de‘ oprimidos, condenados’, deviam ser substituídos por outros, como‘ libertos’ ou serem antecedidos pelo ‘ex’ exemplo ex-oprimidos ou ex-condenados. O outro factor que não permite completar a emancipação da mente dos ex-oprimidos é o facto de eles continuarem a considerar as suas línguas de dialectos e às vezes, se envergonharem de as falar em público; o outro problema é de denominarem as religiões africanas de religiões tradicionais africanas e as etnias africanas de tribos. Uma vez ao serviço da liberdade da espécie humana, a educação afrocentrada, liberta e libertadora, só atingirá o seu fim libertando-se continuamente das vertigens imperiais da educação eurocêntrica: bancaria, sectária, arquivista.

Numa educação ao serviço da liberdade não importa mais dicotomizar o educador e os educandos, transformando o primeiro em único agente e os restantes em passivos, arquivadores e repetidores da palavra vazia do educador ( Mucale, 2013, p., 192). Um dos males da educação colonial é o de ter eliminado o diálogo entre educador e educandos, de ter objectivado os educandos tornando-os recipientes onde se depositava conhecimentos já elaborados. O sistema educacional colonial impediu a criatividade imaginativa dos colonizados.

Referencia

MUCALE, Ergimino Pedro. Afrocentricidade: Complexidade e Liberdade. Maputo: Paulinas, 2013.