Capítulo VI: Sócrates, um marco na Filosofia
Considerado por muitos historiadores da Filosofia como o mais brilhante filósofo grego, Sócrates nasceu em Atenas por volta de 470 a.C. Era filho de um pedreiro e de uma parteira. Passava grande parte dos seus dias perambulando pelas ruas e praças da cidade, rodeado de discípulos.
Sócrates, assim como Jesus Cristo e Sidarta Gautama (o Buda), nada escreveu. Tudo o que sabemos a seu respeito está contido nos diálogos de seus discípulos Platão e Xenofonte.
Ao contrário dos sofistas, Sócrates discordava da relativização da verdade. Para ele, a verdade era universal e poderia ser alcançada por qualquer um, através do uso da reflexão racional que conduziria ao autoconhecimento. O método para se chegar à tal verdade era chamado por Sócrates de “maiêutica”, que significa parto em grego.
Através de diálogos, Sócrates fazia perguntas aos seus interlocutores sobre o que seriam “o bom”, “o belo” e o “justo”, de modo que eles expusessem o seus pontos de vista. Mais adiante o filósofo confrontava as respostas dadas com outras perguntas, apontando as suas falhas e contradições. Desse “confronto” de ideias – que o filósofo chamou de processo dialético –, os interlocutores faziam o “parto” que dava luz à verdade.
Vejamos um exemplo da maiêutica socrática:
Sócrates: Você acha que os deuses sabem tudo?
Interlocutor: Sim, porque eles são deuses.
Sócrates: Alguns deuses discordam de outros?
Interlocutor: Sim, claro que sim. Eles estão sempre brigando.
Sócrates: Então, os deuses discordam daquilo que é verdadeiro e correto?
Interlocutor: Imagino que sim.
Sócrates: Então, alguns deuses podem às vezes estar errados?
Interlocutor: Imagino que sim.
Sócrates: Então os deuses não podem saber tudo!
Interlocutor: Você tem razão!
Note, leitor, que a cada pergunta de Sócrates o seu interlocutor chega à conclusões mais profundas, e com o choque de ideias ele consegue enxergar, através do uso da razão, a verdade.
Por seus ensinamentos e seu pensamento crítico, Sócrates ganhou fama em toda a Atenas. Conta a lenda que um de seus amigos, Querofonte, teria ido até o Oráculo de Delfos para saber da sacerdotisa Pitonisa quem era o homem mais sábio de Atenas. Ela teria respondido que Sócrates era o mais sábios do homens. Quando soube disso, Sócrates teria ficado surpreso, pois não se julgava nem de longe sábio. “Tudo que sei é que nada sei”, era a sua máxima filosófica. No entanto, após anos e anos discutindo com os cidadãos de Atenas, Sócrates compreendeu o porquê de a sacerdotisa tê-lo considerado o mais sábio entre os homens: É que enquanto os outros diziam saber tudo sobre todas as coisas, Sócrates tinha humildade o suficiente para saber que não sabia tudo, o que o tornava sábio.
Ao ensinar o pensamento crítico aos cidadãos de Atenas, Sócrates desagradou a elite política local. Ele foi levado a júri, sendo julgado e condenado por um tribunal popular sob a alegação de conspiração contra os deuses da cidade e também por corromper a juventude ateniense. Coube a ele a pena capital e no ano de 399 a.C. Sócrates comete um suicídio induzido, tomando um veneno chamado cicuta. Foi o preço pago por uma vida autêntica e dedicada ao exercício da Filosofia. Nos conta Platão que, antes de tomar a taça de cicuta, Sócrates teria dito: “Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto para os deuses”.
Texto de: Tiago Augusto Volante