Capítulo II: A Civilização Grega: da cidade dos deuses à cidade dos homens
Agora que já sabemos onde e quando nasceu a Filosofia, investigaremos as circunstância sócio-políticas que contribuíram para o seu florescimento. Trarei para a nossa discussão acerca da sociedade grega dois importantes especialistas em história do pensamento Ocidental: Marvin Perry e Jean-Pierre Vernant.
Infelizmente, não teremos tempo para estudar todos os períodos que marcaram a civilização grega antiga – Pré-homérico (2.000 a 1.800 a.C.), Homérico (1.100 a 800 a.C.), Arcaico (800 a 500 a.C.), Clássico (500 a 338 a.C.) e Helenístico (338 a 146 a.C.) –, pois demandaria ao menos cinco artigos e o nosso mini curso se estenderia demais e, consequentemente, ficaria cansativo. Portanto, o nosso foco será o período Clássico (que marca o surgimento da Filosofia).
Mas afinal de contas, por que os gregos e não os egípcios, assírios, sumérios ou babilônios?
Para o historiador Marvin Perry, a resposta está na “pólis”, a cidade-estado grega. Diferentemente dos egípcios, que se organizavam politicamente em um Estado forte, centralizado e teocrático, os gregos desenvolveram pequenas cidades que proporcionavam maior liberdade individual à população. Enquanto todo o povo egípcio se curvava diante do poder divino do faraó, os cidadãos gregos gozavam de uma considerável autonomia para deliberar sobre os assuntos concernentes à vida pública. Nas palavras de Perry, “A pólis era uma comunidade com governo próprio que expressava a vontade de cidadãos livres, não aos desejos de deuses, monarcas hereditários ou sacerdotes.” Uma das principais cidades-estados do mundo grego antigo foi sem dúvida Atenas, onde a Democracia foi inventada e desenvolvida por homens brilhantes como Drácon, Clístenes e Péricles.
Na pólis grega, os cidadãos livres se reuniam na Ágora (praça pública) para discutir os destinos da cidade. Jean-Pierre Vernent considera o nascimento da cidade-estado grega como uma verdadeira revolução que forneceu a liberdade adequada para o surgimento da Filosofia.
Sem a liberdade individual concedida ao cidadão e sem a secularização e democratização da vida política, a razão humana muito provavelmente continuaria submissa às crenças fantásticas criadas por governantes teocratas – que concebiam toda a realidade do mundo como um produto do sobrenatural, de deuses com características humanas que controlavam a chuva, o sol, o dia, a noite, a vida e a morte – e a Filosofia poderia não ter vingado. Nos diz ainda Perry que, “ao descobrir o raciocínio teórico, definir a liberdade política e conformar o valor potencial da personalidade humana, os gregos romperam com o passado e criaram a tradição racional e humanista do Ocidente”.
Como podemos ver, o ambiente forjado pelos gregos na pólis foi fundamental para o florescimento da Filosofia. Mas não podemos nos esquecer que embora geniais e revolucionários, os gregos também mataram, escravizaram e torturaram tanto quanto os outros povos da antiguidade. A Democracia Direta ateniense, embora concedesse cidadania e liberdade aos homens adultos, excluía mulheres, crianças, estrangeiros e escravos. No entanto não se trata de amar ou odiar, condenar ou absolver os gregos, mas sim de reconhecer a importância que eles tiveram para a construção da nossa Civilização.
Texto de: Tiago Augusto Volante