Introdução

O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Teoria Organizacional e tem como tema: Efeitos da pandemia da Covid-19 na Microeconomia Moçambicana. O crescimento económico, o desemprego e a inflação são as variáveis mais importantes que mostram o desempenho de uma economia. A qualidade da relação entre essas variáveis é de extrema importância na aplicação das políticas económicas.

Assim, pode haver harmonia ou contradição entre as políticas a serem implementadas sobre as questões. Por outras palavras, as políticas de desemprego para o crescimento económico também conduzem a uma diminuição do desemprego, enquanto a tentativa de reduzir a inflação pode colocar pressão negativa sobre o desemprego. Portanto, o alinhamento ou as contradições entre os objectivos pretendidos e os instrumentos a serem implementados devem ser levados em consideração ao fazer propostas de políticas.

 

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Covid-19

A COVID-19 é uma doença respiratória causada pelo vírus SARS-CoV-2 e apresenta como principais sintomas febre, tosse seca e dificuldade respiratória. Essa doença pode iniciar como um simples resfriado, mas pode se agravar e levar à morte.

Os primeiros casos surgiram na China, no final de 2019. Em seguida, espalhou-se para diversos outros países, o que levou a Organização Mundial de Saúde a decretar, no dia 11 de Março de 2020, estado de pandemia.

Transmissão da Covid-19

Essa doença é transmitida, principalmente, de uma pessoa para outra por meio das gotículas respiratórias. Além disso, ao tossir ou espirrar, o doente pode contaminar objetos. Uma pessoa pode infectar-se ao tocar objetos contaminados e levar a mão à boca, nariz e olhos sem antes higienizá-la. Dentre as medidas para prevenir o contágio e evitar a disseminação da doença, podemos citar a importância de se higienizar a mão frequentemente com água e sabão ou álcool em gel 70%, além de evitar aglomerações.

Sintomas da Covid-19

A COVID-19 apresenta um período de incubação (período entre o contágio e o surgimento dos sintomas) de cerca de 14 dias. Os principais sintomas da doença são  febre, tosse seca e dificuldade respiratória. Além disso, alguns pacientes podem apresentar também dores no corpo, coriza, fadiga, dor de garganta e diarreia.

Os sintomas surgem, geralmente, de forma leve e gradual, e muitos doentes podem se curar sem a necessidade de tratamento especial. No entanto, algumas pessoas podem apresentar agravamento da doença, desenvolvendo dificuldade respiratória e podendo, inclusive, morrer. As pessoas idosas e indivíduos que apresentam certos problemas de saúde, como pressão alta, problemas cardíacos e diabetes, estão mais propensas ao agravamento da doença.

Economia

A Economia é uma ciência social, que estuda o funcionamento da Economia Capitalista, sob o pressuposto do comportamento racional do homem económico, ou seja, da busca da alocação eficiente dos recursos escassos entre inúmeros fins alternativos. Nesse sentido, a Ciência Económica visa compreender como a Economia resolve os três problemas económicos básicos: 1) O quê e quanto produzir? 2) Como produzir? e 3) Para quem produzir? Ou seja, o estudo da eficiência e da equidade.

Em suma, pode-se dizer que, a Economia é o conjunto de actividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida.

Divisão ou níveis da Economia

A Ciência Económica, possui diversas correntes e divisões. Do ponto de vista da corrente neoclássica, a Economia é estudada em dois níveis: a Microeconomia e a Macroeconomia. Porém, importa-nos destacar a microeconomia que será o foco do estudo desta pesquisa.

Microeconomia

Microeconomia é parte da economia que estuda as características e o comportamento de cada unidade económica (produtores e consumidores) e as relações que ocorrem entre elas (mercados).

É o ramo da Ciência Económica voltada ao estudo do comportamento das unidades de consumo representadas pelos indivíduos e/ou famílias, do estudo das empresas, suas respectivas produções e custos e ao estudo da geração de preços dos diversos bens, serviços e factores produtivos. Trata-se de uma análise parcial e estática do mercado.

Analisa como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o melhor preço e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos, portanto o funcionamento da oferta e demanda na formação de preços.

A Economia de Moçambique

A economia de Moçambique desenvolveu-se desde o fim da Guerra Civil Moçambicana (1977-1992). Em 1987, o governo embarcou em uma série de reformas macroeconómicas destinadas a estabilizar a economia. Essas medidas, combinadas com a assistência dos doadores e com a estabilidade política desde as eleições multipartidárias em 1994, levaram a melhorias dramáticas na taxa de crescimento do país.

A inflação foi reduzida para um dígito durante o final dos anos 1990, embora tenha voltado para dois dígitos em 2000-02. As reformas fiscais, incluindo a introdução de um imposto sobre o valor acrescentado e a reforma do serviço alfandegário, melhoraram a capacidade do governo de arrecadar receitas.

Apesar destes ganhos, Moçambique continua dependente da assistência externa para grande parte do seu orçamento anual. A agricultura de subsistência continua a empregar a grande maioria da força de trabalho do país. Um desequilíbrio comercial substancial persiste, embora a abertura da fundição da Mozal alumínio, o maior projecto de investimento estrangeiro do país até hoje, tenha aumentado as receitas de exportação. Projectos de investimento adicionais na extracção e processamento de titânio e na fabricação de roupas devem fechar ainda mais a lacuna de importação / exportação.

A outrora substancial dívida externa de Moçambique foi reduzida através do perdão e reescalonamento no âmbito das dívidas de Países pobres altamente endividados (HIPC) e das iniciativas HIPC Reforçada do Fundo Monetário Internacional e está agora a um nível administrável. O desenvolvimento é dificultado pela existência de minas terrestres não desactivadas, porém ainda fica no grupo dos países subdesenvolvidos.

De acordo com a consultora FocusEconomics, Moçambique registou um crescimento negativo, na ordem de 1,3 por cento em 2020 por causa dos impactos nefastos da pandemia de Covid-19, e devido à queda das exportações dos recursos minerais, como carvão e alumínio nos mercados internacionais. Foi a primeira vez em 30 anos que Moçambique entra em recessão.

Relação entre Desemprego, Inflação e Produto na Economia

Quando o nível de desemprego aumenta, a tendência do aumento da inflação é maior e consequentemente.

Relação entre Desemprego e Produto na Economia

Dizer que existe uma relação estável entre a taxa de crescimento económico e mudanças na taxa de desemprego é o argumento mais famoso do economista Arthur Okun. Tornou-se uma de uma série de “ideias centrais” que são amplamente aceites na profissão de Economia.

A chave para a relação entre a taxa de crescimento económico e a taxa de desemprego é a taxa de crescimento do que os economistas chamam de “potencial resultado.” A produção potencial é uma medida da capacidade da economia de produzir bens e serviços dados os recursos disponíveis, nomeadamente trabalho e capital.

Assim como o nível de produto potencial depende da quantidade de trabalho e capital disponíveis, a taxa de crescimento do produto potencial depende das taxas de crescimento de trabalho e capital. Mas as contribuições de trabalho e capital não são fixas. Cada estoque de capital aumenta a produção que uma dada quantidade de trabalho é capaz para produzir. O progresso tecnológico melhora a contribuição do trabalho e capital para a produção. O crescimento do produto potencial é a soma do crescimento da mão-de-obra e aumento na capacidade de produção do trabalho, ou produtividade do trabalho.

A taxa de crescimento da contribuição do trabalho para a produção económica é determinada pelo tamanho da população, a distribuição etária da população, a parcela do população em idade activa que está na força de trabalho (a taxa de participação na força de trabalho), a parcela da força de trabalho efectivamente empregada e as horas trabalhadas por aqueles que estão empregados.

Relação entre Desemprego e Inflação

Por algum tempo, o crescimento económico tem sido estável, o desemprego tem sido baixo, e a inflação foi controlada. Ausentes outras considerações, crescimento económico mais rápido desejável, assim como menores taxas de desemprego e inflação. No entanto, pode haver limites para o quão compatíveis esses objectivos são. O sucesso da política macroeconómica não pode ser medido por apenas uma dessas variáveis isoladamente, porque elas são interdependente.

No longo prazo, quanto mais rápido a economia crescer, melhor será para as pessoas materialmente. No curto prazo, porém, a taxa de crescimento tem consequências para outros variáveis económicas. Se o crescimento persistir em uma taxa muito rápida, há o risco de que a inflação pode acelerar. Se o crescimento for muito lento, existe o risco de aumento do desemprego.

Embora o aumento do desemprego esteja tipicamente associado a contracções económicas ou recessões, é inteiramente possível que a economia esteja crescendo, mas não rapidamente o suficiente para evitar o aumento da taxa de desemprego.

Relação entre desemprego e inflação

Em um famoso artigo publicado em 1958, o economista AW Phillips afirmou ter encontrarado evidências de uma relação inversa entre a taxa de aumento dos salários e a taxa de desemprego. Phillips descobriu que o mercado de trabalho apertou, e a taxa de desemprego caiu, os salários nominais tendem a subir mais rapidamente.

Como os aumentos salariais estão intimamente relacionados aos aumentos de preços, essa relação foi amplamente interpretado como um trade-off entre inflação e desemprego. A implicação era que os formuladores de políticas poderiam “comparar” uma menor taxa de desemprego por tolerar uma maior taxa de inflação.

A curva que descreve essa compensação que ficou conhecida como “curva de Phillips”. Uma curva estável para Phillips significaria que os, formuladores de políticas poderiam escolher entre várias combinações de taxas de inflação e desemprego a que parecia mais palatável e defini-lo como o objetivo da política macroeconômica.

A Economia de Moçambique, Desemprego, Inflação x Covid-19

O coronavírus está a ter um impacto desastroso no tecido empresarial de Moçambique, país onde não existe almofada para minimizar os efeitos duma pandemia desta dimensão, porque, segundo analistas, o Governo, a braços com o escândalo das dívidas ocultas, não faz reservas há bastante tempo.

Efeitos da pandemia da Covid-19 na Microeconomia Moçambicana

De acordo com os dados pulicados pelo Banco de Moçambique a 28 de Fevereiro de 2021, os efeitos nefastos da Covid-19 fazem se sentir em dois principais sectores (socioeconómicos) afectando negativamente os seguintes sectores: Hotelaria e Turismo e a Restauração e de forma geral os sectores orientados para exportação (sector extractivo, sector agrícola, nomeadamente produções de caju e de açúcar) afectados pela redução global da procura e quebra de preços, a subida do custo de vida devido a depreciação do metical e escassez de alguns produtos da primeira necessidade.

Efeitos Sociais (subida do custo de vida)

De acordo com os dados publicados pelo Banco de Moçambique, o preço dos produtos domésticos subirá cada vez em 2021. Os preços deverão subir em Moçambique no próximo ano, mas a inflação vai manter-se em “um dígito”, prevê o banco central.

Perspectiva-se um incremento de preços domésticos devido ao término da vigência das medidas de contenção de preços decretadas pelo Governo, sublinhou o Comité de Política Monetária, para além de efeitos dos choques de oferta.

Ainda assim, em face da fraca procura por bens e serviços, “prevê-se que a inflação permaneça na banda de um dígito, em linha com as expectativas dos agentes económicos inquiridos em Outubro de 2020”.

O aumento do desemprego

Segundo, Paulo Correa, economista principal do Banco Mundial, estima-se que Moçambique tenha perdido 120.000 postos de trabalho devido à pandemia de covid-19.

Paulo Correa disse que “Temos o registo da perda de 120.000 postos de trabalho, com maior incidência no norte do país, o que vale a pena mencionar pela sensibilidade da região“, A crise afectou com maior incidência os sectores de hotelaria e turismo, transportes e educação, sem contar com a perda de oportunidades de trabalho no sector informal.

Ainda assim, Correa considerou que a flexibilidade da lei laboral moçambicana está a permitir uma maior capacidade de resistência ao impacto da covid-19 por parte do sector privado do país africano.

Efeito da covid-19 para as microempresas

As autoridades moçambicanas canalizaram, pelo menos, 40.6 milhões de dólares para apoiar as micro, pequenas e médias empresas no mês de Agosto de 2020, através de uma linha crédito, a responderem ao impacto da Covid-19.

Mas nem todas as empresas conseguiram aproveitar essa oportunidade, o que para o economista Caldas Chemane está relacionado com a organização das mesmas. Um outro efeito constrangedor está relacionado com a desvalorização do metical em relação a moeda estrangeira.

Magaia & Dique (2020) dizem que, por conta dos impactos do COVID-19, muitas microempresas enfrentam grandes dificuldades para continuar com as suas actividades. Pelo que, grande parte destas empresas, sobretudo, as do sector do Turismo, ponderam a possibilidade de encerrar as suas actividades (algumas inclusive já o fizeram), o que implica consequentemente a paralisação do funcionamento das suas instalações. Por decorrência, durante o período em que situação perdurar, estas empresas não terão capacidade de suportar os seus custos operacionais, como é o exemplo do custo com o pagamento de salários.

De acordo com Magaia & Dique (2020), estima-se que, por conta da COVID-19, o sector empresarial moçambicano sobre tudo as Mircro e Pequenas Empresas ja registaram perdas entre USD 234 Milhões e USD 375 Milhões, sendo que o sector do Turismo figura como o mais afectado com perdas estimadas entre USD 53 Milhões e USD 71 Milhões.

 

Considerações finais

Chegado ao fim da pesquisa constatou-se que, a pandemia da Covid-19 fez recuar, mais uma vez, as perspectivas económicas de um Moçambique que tentava recuperar de dois grandes choques: a crise da dívida oculta e os efeitos devastadores dos ciclones Idai e Kenneth em 2019.

A pandemia ensombra o potencial de crescimento de curto prazo de Moçambique. A crise da Covid-19 tem um pesado impacto na actividade económica com o distanciamento social e as restrições às viagens (internas e mundiais) que afectam a procura de bens e serviços.

Ao mesmo tempo, a redução da procura e do preço das matérias-primas estão a abrandando o ritmo do investimento no gás e carvão, duas indústrias centrais para Moçambique. Esses e outros factores tem efeitos totalmente negativos tanto na macroeconomia assim como na microeconomia de Moçambique.

 

Bibliografia

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NABAIS, C., & NABAIS, F. (2007). Prática Financeira II – Gestão Financeira (2.ª ed.). Lisboa: Lidel; diaponivel em: /W-Campo%202021/Efeitos%20da%20pandemia%20do%20Covid-19%20na%20Microeconomia%20Mo%C3%A7ambicana1.pdf

ROQUE Magaia & SAMO Dique Impacto do covid-19 na sector empresarial moçambicano e propostas de medidas para a sua mitigação. Março, Maputo 2020;

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MUSSAGY Ibraimo Hassane. Os Efeitos do COVID-19 em Moçambique: A Economia em Ponto Morto, Beira, 2020. Disponível em:  https://www.researchgate.net/publication/340502011_Os_Efeitos_do_COVID-19_em_Mocambique_A_Economia_em_Ponto_Morto/link/5e8d6cd1a6fdcca789fdf488/download, acessado as 07:21 de 23 de Setembro de 2020