Educação como Reprodução 

 
 
Segundo Saviani a educação reprodutora considera-se de teoria crítico-reprodutivista da educação, uma vez que aborda a educação a partir de seus determinantes, mas a vê somente como elemento destinado a reproduzir seus próprios condicionantes, sem agir ou propor ações à educação (p. 19-20). A educação reprodutora exibe como actua a educação dentro da sociedade e não como ela deve atuar.
 
A educação constitui, então, um processo de transmissão cultural no sentido amplo do termo (valores, normas, atitudes, experiências, imagens, representações) cuja função principal é a reprodução do sistema social. Isto é claro no pensamento durkheimiano, ao afirmar:
 
Em resumo, longe de a educação ter por objeto único e principal o indivíduo e seus interesses, ela é antes de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência. A sociedade só pode viver se dentre seus membros existe uma suficiente homogeneidade. A educação perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando desde cedo na alma da criança as semelhanças essenciais que a vida coletiva supõe. (DURKHEIM, 1973, p. 52).
 
Louis Althusser, NA sua obra Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado”. A obra configura um estudo sobre o papel da escola como um dos aparelhos do Estado, como uma das instâncias da sociedade que veicula a sua ideologia dominante para reproduzi-la. Para Althusser toda a sociedade, para perenizar-se, necessita reproduzir-se em todos os seus aspectos, do contrário desaparece.
 
reprodução cultural de que nos fala o autor, é a reprodução de um dos aspectos mantenedor da sociedade classicista: as classes sociais. Para que a classe dominante assegure a sua dominação, é necessário, por exemplo, a reprodução da força de trabalho, ou seja, reprodução de mão-de-obra, tal como Marx preconizava.

A escola, segundo Althusser, é o instrumento criado para otimizar o sistema produtivo e a sociedade a que ele serve. Em sua análise, o autor explica que a escola ao tempo que qualifica para o trabalho (socialmente pré-definido), a escola se ocupa em introjetar os valores que garantirão a reprodução comportamental compatível com a ideologia dominante. Assim, a educação como reprodução, na visão do autor, é o instrumento de manutenção do sistema social vigente e o poder do sistema dominante é tão forte na sociedade que não há como a escola trabalhar sua transformação.
“peço desculpa aos professores que, em condições terríveis, tentam voltar contra a ideologia, contra o sistema e contra as práticas em que este os encerra, as armas que podem encontrar na história e no saber que ‘ensinam’. Em certa medida são heróis. Mas são raros e quantos (a maioria) não têm sequer vislumbre de dúvida quanto ao trabalho que os sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer; pior, dedicam-se inteiramente e em toda consciência à realização desse trabalho (os famosos métodos novos). Têm tão poucas dúvidas, que contribuem até pelo seu devotamento a manter e a alimentar a representação ideológica da Escola que a torna hoje tão ‘natural’, indispensável-útil e até benfazeja aos nossos contemporâneos, quanto a Igreja era ‘natural’, indispensável, para os nossos antepassados de há séculos” (ALTHUSSER, p. 67).
Então, na visão um tanto quanto pessimista do autor, o trabalho dos professores é em vão. Por mais que tentem, se esforcem, busquem alternativas e pensem ações que possibilitem a transformação do ensino, de nada adianta, pois na concepção da tendência reprodutivista, estão fadados a reproduzir a ideologia dominante e, por consequência, legitimar a sociedade vigente.
 
Angela Francisca Mendez de Oliveira
 
Referências
 DELVAL, Juan. Crescer e Pensar. POA: Artmed, 1998.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. SP: Cortez, 1987.
BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento. POA: Artmed, 2001.
BECKER, Fernando. O que é Construtivismo? Disponível em:
https://culturadetravesseiro.blogspot.com/2010/12/educacao-como-reproducao-da-sociedade.html