Texto Expositivo-Argumentativo

O texto argumentativo é um dos textos pertencentes à tipologia de textos expositivos, no qual o autor apresenta as suas ideias ou opiniões acerca do que vê, pensa ou sente, ao contrário do que acontece com o explicativo – texto que apresenta factos sobre uma realidade.

Conceito da Argumentação

A argumentação visa persuadir o leitor acerca de uma posição. Quanto mais polémico for o assunto em questão, mais dará margem à abordagem argumentativa. Pode ocorrer desde o início quando se defende uma tese ou também apresentar os aspectos favoráveis e desfavoráveis posicionando-se apenas na conclusão.

Argumentar é um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro ligado à razão, supõe ordenar ideias, justificá-las e relacioná-las; o segundo, referente à paixão, busca capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo.

Os argumentos devem promover credibilidade. Com a busca de argumentos por autoridade e provas concretas, o texto começa a caminhar para uma direcção coerente, precisa e persuasiva. Somente o facto pode fortalecer o texto argumentativo. Não podemos confundir facto e opinião. O facto é único e a opinião é variável. Por isso, quando ocorre generalização dizemos que houve um “erro de percurso”.

Segundo Rei (1990:88) “Um argumento é um raciocínio destinado a provar ou refutar uma afirmação destinada a fazer admitir outra.

Ainda de acordo com o mesmo autor, a teoria da argumentação estuda as técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que apresentamos ao seu consentimento. Sem se afastar da dialéctica, da lógica e da retórica. A argumentação investiu no campo da psicologia, da sociologia e da teoria geral da informação, indo nestes campos procurar alguma luz sobre como reage o homem, quando exposto às mensagens persuasivas, como altera as suas convicções e o seu comportamento.

Argumentos e Provas

Já definimos o argumento como um raciocínio destinado a provar ou refutar uma afirmação ou, ainda, uma afirmação destinada a fazer admitir outra. Os argumentos são, portanto, elementos abstractos, cuja disposição no discurso dependerá da sua força argumentativa, aparecendo, assim, no texto, numa disposição crescente, decrescente ou dispersa.

Ordens das Provas

As provas têm a função de sustentar os argumentos e são de três ordens (Jules Verest, 1939: 468-471):

  • Naturais - incluem os textos das leis, o testemunho das autoridades, as afirmações das testemunhas e os documentos de qualquer espécie;
  • Verdades e princípios universais - são reconhecidos, deste modo, por todos e apresentados sob a forma de raciocínio reduzido.
  • O Exemplo – é um caso particular, real ou fictício, que tem uma analogia verdadeira com o caso que nos ocupa. A intenção é, a partir dele, inculcar uma verdade geral da qual deduzimos uma proposição que queremos estabelecer.

Percurso da Argumentação

Segundo Rei (1990:90), são caminhos do pensamento para "justificar uma opinião, desenvolver um ponto de vista, reflectir para chegar a uma decisão". Bellenger (1988: 16) define que “são processos de organização das ideias, segundo a natureza dos laços que unem os elementos ou as etapas do edifício persuasivo: onde operam os argumentos, escolhidos e dispostos, tendo em vista uma argumentação concreta”.

No processo de argumentação, usam-se com frequência os seguintes termos, de acordo com o contexto, como a seguir se apresentam:

  • Adversidade: (oposição, contraste): mas, porém, todavia, contudo, entretanto, senão, que.
  • Alternância: ou; e as locuções ou... ou, ora...ora, já...já, quer...quer...
  • Conclusão: logo, portanto, pois.
  • Explicação: que, porque, porquanto...
  • Causa: que, como, pois, porque, porquanto; e as locuções: por isso que, pois que, já que, visto que...
  • Comparação: que, do que (depois de mais, maior, melhor ou menos,menor, pior), como; e as locuções: tão... como, tanto... como,mais...do que, menos...do que, assim como, bem como, que nem...
  • Concessão: que, embora, conquanto. Também as locuções: ainda que,mesmo que, bem que, se bem que, nem que, apesar de que, por maisque, por menos que...
  • Condição: se, caso. Também as locuções: contanto que, desde que,dado que, a menos que, a não ser que, exceto se...
  • Finalidade: As locuções para que, a fim de que, por que...
  • Conseqüência: que (precedido de tão, tanto, tal) e também as locuções:de modo que, de forma que, de sorte que, de maneira que...

 

Na argumentação é necessário ter-se sempre em atenção os seguintes aspectos:

  • a correcta estruturação e ordenação das frases
  • o uso correcto dos conectores de discurso.
  • o respeito pelas regras da concordância
  • o uso adequado dos pronomes, que evitam as repetições do nome.
  • a utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinónimos, antónimos, hiperónimos e hipónimos.

Estrutura do Texto Argumentativo

O texto argumentativo, oral ou escrito, estrutura-se basicamente num plano tripartido:

  1. Exórdio– é a primeira parte de um discurso, preâmbulo, a introdução do discurso que consiste em:
  • a) Exposição do tema;
  • b) Exposição das ideias defendidas (pode recorrer-se à explicitação de determinados termos, à apresentação de esquemas da exposição, à referência de outras opiniões, etc.
  1. Narração /confirmação– é a parte do discurso em que o orador desenvolve as provas, consiste na utilização de argumentos (citação de factos, de dados estatísticos, de outros exemplos, de narração de acontecimentos, etc.).
  2. Peroração/epílogo– é a parte final de um discurso, a sua conclusão, o remate, síntese, recapitulação.

Vias de Argumentação

  1. Via Lógica

Trata-se, neste primeiro percurso, de modelos de raciocínios herdados das disciplinas ligadas ao pensamento: a indução, a dedução, o raciocínio causal.

  1. A Indução– é a forma habitual de pensar do singular ao plural, do particular ao geral. Pode tomar duas formas: totalizante, quando se estabelece a partir do recenseamento de um todo, adquirindo o estatuto de prova - como quando, depois da chamada, afirmamos "os alunos estão todos"; generalizante, quando o recenseamento completo não é possível e o raciocínio indutivo nos leva de uma parte ao todo, por generalização - por exemplo quando se afirma: "Os portugueses são hospitaleiros". Este é o procedimento mais usual, mas o menos rigoroso, pois a generalização implica simplificação, e com ele vem o engano, o idealismo e a teorização.
  2. A Dedução- dois princípios estão na sua base: o da não contradição - quando duas afirmações se contradizem uma delas é falsa - e o da progressão do geral para a particular - através de articulação lógica expressa por "assim", "portanto" ou "logo".

Por exemplo, o silogismo - constituído por três proposições ou afirmações - chamadas premissas as duas primeiras (apelidada uma de "major" e outra de "menor", confome o termo que contém, e conclusão, a terceira - deve possuir três termos e combiná-Ios dois a dois. Veja:

Os Homens são mortais

Sócrates é um homem

Sócrates é mortal.

  1. O raciocínio causal- "Asseguremo-nos bem do facto, antes de nos inquietarmos com a causa" aconselhava Fontenelle (L. Bellenger, 1988: 27), o papel preponderante do raciocínio causal, na argumentação, assenta em duas transposiões constantes: da causa para o efeito e do efeito para a causa, conduzindo ao pressuposto de que "o conhecimento das causas permitirá remediar o facto constatado" (ibid. 27), quer dizer, suprimamos as causas e o problema estará resolvido, o que leva as pessoas a preocuparem-se mais com as razões do presente do que com o modo de melhorar o futuro.

Via Explicativa

A Via Explicativa à semelhança da anterior procura fazer compreender e tornar inteligível a informação da argumentação. Para Bellenger (ibid.: 36-45), via explicativa usa as definições, as comparações, a analogia, a descrição e a narração. O explicar pretende convencer com o máximo de objectividade.

  1. A definição– definir é dizer a verdade e responde à necessidade de compreender. A necessidade de definir aumenta a credibilidade de quem quer convencer.
  2. A comparação – usa-se a comparação para provar a utilidade, a bondade, o valor de uma coisa, um resultado, uma opinião. A técnica comparativa é simples, fácil de compreender, inscrita nos nossos hábitos, levando-nos a usá-la, activa e passivamente, de forma natural e sem disso nos darmos conta. A comparação procura fazer passar identidades entre factos, pessoas ou opiniões diferentes e transpor valores de sistemas independentes e autónomos: estas passagens e transposições são manipuladoras e pretendem chocar, colocar problemas de consciência, questionar os modelos culturais e as normas vigentes.
  3. A analogia– “é a imaginação em auxílio da vontade de se explicar e de convencer.” (L. Belllenger, 1988: 41). Trata-se de uma semelhança estabelecida pela imaginação entre pensamentos, factos, pessoas. Simboliza a vontade de bem se exprimir e bem se fazer entender. Simplifica a caricatura, prestando-se, assim, a uma fácil fixação e a uma compreensão imediata, daí o seu uso frequente na publicidade. Os antigos olhavam-na com alguma reserva, aconselhando, por isso, a introduzi-la com expressões como: de certo modo, quase como, uma espécie de…
  4. Descrição e narração– para convencer alguém, podemos descrever ou narrar uma situação ou um acontecimento. São o ponto de partida da indução socrática: narra uma história, uma experiência, uma anedota, desencadeia um processo de inferência que a partir de um facto nos conduz ao princípio ou à regra. É o peso do concreto, do vivido e do testemunho que passa através delas. Ambos os processos criam a ausência, a falta de um complemento, de um remate, de um "E depois?" - ouvido sempre que alguém, ao narrar algo, aparenta parar ou desviar-se do enredo.