Classificação dos juízos: quantidade e qualidade dos juízos

Quanto à quantidade, os juízos podem ser universaisparticulares ou singulares.

  • Os juízos são universais quando o predicado se aplica a toda extensão do sujeito.

(Todos) os homens são mortais.

Nenhum homem tem asas.

 

Juízos como «As minhocas são animais.» e «O avarento é egoísta.» são necessariamente universais porque se referem a toda a extensão do sujeito: «todas as minhocas»; «todos os avarentos».

  • Os juízos são particulares quando o predicado se aplica apenas a uma parte da extensão do sujeito.

Alguns moçambicanos são médicos.

 

Juízos como «PeIo menos, uma criança é obediente.», «Certos atletas mundiais são africanos.», «Existem homens honestos.», são particulares porque em cada um deles o sujeito refere-se só a «algumas crianças», «alguns atletas», «alguns homens».

  • Os juízos são singulares quando o predicado se refere a um único individuo.

A Maria é costureira.

 

Todavia, no caso do juízo «Sócrates é mortal.», pode considerar-se que o predicado se aplica ao sujeito em toda a sua extensão — Sócrates na sua totalidade é mortal, da mesma forma que os homens na sua totalidade são mortais, ao contrário de apenas «alguns homens serem violentos» — costuma reduzir-se o juízo singular ao juízo universal.

 

Convém notar que as proposições singulares referem-se a universos constituídos por um só individuo no conjunto de tantos outros, isto é, universos particularizados. Por isso, rigorosamente falando, as proposições singulares são redutíveis a proposições particulares.

 

Quanto à qualidade, os juízos podem ser:

  • Afirmativos: quando o predicado é afirmado em relação ao sujeito.

Nkahimany é um menino obediente.

  • Negativos: quando a cópula indica que o predicado não é aplicável ao sujeito.

O Mataka não é um bom estudante.

 

Quanto inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito, os juízos podem ser:

  • Analíticos: quando o predicado está compreendido no sujeito.

 

O quadrado tem quatro lados iguais.

  • Sintéticos: quando o predicado não está contido na noção do sujeito.

Os bitongas são avarentos.

 

Quanto à dependência ou não da experiência, os juízos podem ser:

  • a priori: quando a sua veracidade pode ser conhecida independentemente da experiência.

O quadrado tem quatro lados iguais.

  • a posteriori: quando a sua veracidade só pode ser conhecida através da experiência. 

Os coreanos são baixos.

 

Quanto à relação ou condição, os juízos podem ser:

  • Categóricos: quando há afirmação ou negação sem reservas. Exprimem uma correspondência clara e sem condições entre o enunciado e aquilo que referem.

O Homem é mortal.

  • Hipotéticos: quando há afirmação ou negação sob condição (condicional).

Se não fores, também não vou.

  • Disjuntivos: quando a afirmação de um predicado exclui os outros (incompatibilidade).

Kwessane estuda ou vê televisão.

 

Quanto à modalidade, os juízos podem ser:

  • Assertórios: quando enunciam uma verdade de facto, embora não necessária logicamente.

A Lurdes Mutola é uma atleta exemplar.

  • Problemáticos: quando enunciam uma possibilidade.

Os bitongas são provavelmente bons apreciadores de mathapa.

 

  • Apodíticos: quando são necessariamente verdadeiros; o predicado convém necessariamente ao sujeito.

O triângulo tem três lados.

 

Quanto à matéria, os juízos podem ser:

  • Necessários: quando o predicado convém e não pode não convir ao sujeito.

O círculo é redondo.

  • Contingentes: quando o predicado convém de facto ao sujeito, mas poderia também não convir.

O Pedro passou com distinção no exame.

  • Impossíveis (ou absurdos): quando o predicado não pode convir ao sujeito.

O círculo é quadrado.

 

Os quatro tipos de proposições categóricas

Ao combinarmos a qualidade e a quantidade, encontramos quatro tipos de juízos que irão desempenhar um papel importante na teoria das inferências, que abordaremos mais adiante.

A sua importância justifica que sejam simbolizados pelas vogais A, E, I, O.

 

Antes de definir estes juízos, importa ainda dar a conhecer a forma como se trabalham os argumentos em lógica, ou seja, a lógica trabalha com argumentos formalizados, substituindo por símbolos os conteúdos das proposições ou juízos que compõem o argumento, abstraindo-se do conteúdo das mesmas e trabalhando apenas a sua forma. Na lógica aristotélica, que vamos estudar de seguida, Aristóteles definiu que cada um dos elementos de uma proposição seria substituído por um só símbolo.

 

Observa:

                             A Clara               é             uma menina muito bondosa.

                            (Sujeito)         (Cópula)                      (Predicado)

 

Pala formalizar este juízo, substituem-se os termos do mesmo por letras ou símbolos e obtém-se a forma de proposição:

 

Sujeito          Cópula         Predicado

                                                S               é/não é               P

 

As formas «S» e «P» podem ser utilizadas em substituição do Sujeito e Predicado de qualquer proposição, independentemente do conteúdo da mesma. (S é P / S não é P)

Vejamos agora, então, a classificação da combinatória das proposições categóricas juízos no que se refere à quantidade e qualidade.

 

Universais afirmativos (A): são da forma "Todo S é P»

Ex.: «Todos os moçambicanos São africanos.»

 

Universais negativos (E): são da forma «Nenhum S é P.»

Ex.: «Nenhuma ave tem quatro patas»

 

Particulares afirmativos (I): da forma «Algum S é P.»

Ex.: «Alguns filósofos são loucos.»

 

Particulares negativos (O): são da forma «Algum S não é P.»

Ex.: «Alguns filósofos não são loucos.»

 

Estas vogais são tomadas das duas primeiras vogais da palavra AFIRMO e das duas únicas vogais da palavra «NEGO».

 

Em resumo:

Tipo

Qualidade

Quantidade

Exemplo

A

Afirmativa

Universal

Todo o S é P.

Todos os cães são companheiros.

E

Negativa

Universal

Nenhum S é P.

Nenhum cão é companheiro.

I

Afirmativa

Particular

Algum S é P.

Alguns cães são companheiros.

O

Negativa

Particular

Algum S não é P.

Alguns cães não são companheiros.

 

Bibliografia

GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçamique, Maputo, 2010

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