Organização de: A. M. Mendes

 

Créditos: José Rodrigues dos Santos.

  1. A Fraude da História da Adúltera
A lei judaica prevê que os adúlteros sejam apedrejados até a morte, não é verdade? Acontece que certa vez os fariseus foram ter com Jesus e levaram-lhe uma mulher que tinha sido apanhada em adultério. Queriam testar o respeito de Jesus pela lei de Deus. Os fariseus lembraram-lhe de que a lei que Deus entregou a Moisés previa o apedrejamento da adúltera…
 
É o que a Bíblia diz. Em Levítico, capítulo 20, versículo 10, Deus diz a Moisés: ‘Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, o homem e a mulher adúltera serão punidos com a morte’.
 
Os fariseus conheciam, claro, essa ordem de Deus, mas pretendiam primeiro saber o que Jesus tinha a dizer sobre o assunto. Deveriam apedrejá-la até a morte, como requeria a lei, ou deveriam lhe conceder o perdão, como Jesus pregava? Esta pergunta era evidentemente um ardil, uma vez que, se recomendasse o apedrejamento, Jesus estaria contradizendo tudo o que havia ensinado sobre o amor e o perdão. Mas se a libertasse estaria contradizendo a lei de Deus. O que fazer?
 
Todo mundo conhece a resposta a esse dilema. Sem levantar a cabeça, e sempre rabiscando coisas na areia, Jesus lhes disse que atirasse a primeira pedra quem nunca tivesse pecado. Os fariseus ficaram confusos, porque evidentemente todos eles já haviam cometido pecados, mesmo que mínimos, e foram embora, deixando a adúltera com Jesus. Quando ficou a sós com ela, Jesus a mandou também embora, dizendo-lhe: ‘Vai e doravante não tornes a pecar.’
 
Essa história é lindíssima, só tem um problema: ela nunca aconteceu. A história da adúltera é forjada. No entanto, não basta apenas afirmar isso sem provar. Vamos às provas. Para começar, existem quantos textos não cristãos do século I relatando a vida de Jesus? Muitos? Quais? Onde estão? Zero! Não há sequer um único texto não-cristão do século I sobre Jesus. Nem manuscritos, nem documentos administrativos, nem certidões de nascimento ou de óbito, nem vestígios arqueológicos, nem alusões de passagem, nem referências crípticas. Nada. Sabe o que os romanos do século I tinham a dizer sobre Jesus? Um grandíssimo zero!
 
A primeira referência de um romano a Jesus foi feita apenas no século II, por Plínio, o Jovem, numa carta ao imperador Trajano, na qual menciona a seita dos cristãos e diz que eles ‘veneram Cristo como um deus’. Antes de Plínio, o silêncio é absoluto. Há, porém, um historiador judeu, Josefo, que num livro sobre a história dos judeus escrito no ano 90 menciona Jesus de passagem. De resto, é um deserto. Isso significa que as únicas fontes de que dispomos sobre a vida de Jesus são as cristãs. E sabe que textos fazem parte do Novo Testamento? Na verdade, os textos mais antigos do Novo Testamento não são os Evangelhos. São as Epístolas de Paulo. Porém, não temos nenhum dos originais desses textos hoje. Os manuscritos originais do Novo Testamento foram perdidos. Ninguém nunca os viu.
 
Não temos nem as cópias dos originais do Novo Testamento. Na verdade, não temos as cópias das cópias, nem sequer as cópias das cópias das cópias. O primeiro evangelho que chegou até nós foi o de Marcos, escrito por volta do ano 70, isto é, ainda no século I. Ora, o Codex Vaticanus, embora seja um dos mais antigos manuscritos que sobreviveram com o texto do Novo Testamento, é datado de meados do século IV! Ou seja, este códice é uns trezentos anos mais recente do que o original do Evangelho segundo Marcos, o que faz dele a enésima cópia da cópia dos originais escritos pelos autores dos textos agora canônicos.
 
Isto cria um problema, conforme podemos perceber. Como podemos ter a certeza de que a enésima cópia é igual ao original? á me aconteceu certa vez contar uma história a uma amiga, essa amiga contar a história a outra pessoa e essa outra contar a uma terceira, que depois veio me contar. Quando a história voltou a mim, após ter passado por três filtros sucessivos, já chegou diferente. Agora imagine o que é estarmos falando de uma história que foi copiada inúmeras vezes por escribas, os primeiros dos quais eram decerto amadores pouco qualificados. Que alterações não sofreu ela? Tem ideia de quantos erros já foram detetados nos mais de cinco mil manuscritos antigos da Bíblia que sobreviveram? 400.000 (quatrocentos mil)! Na verdade, são ainda mais do que isso.
 
É verdade que a esmagadora maioria é composta por coisas pequenas tais como palavras mal copiadas, linhas saltadas, esse tipo de coisas acidentais. Mas há outros erros que são propositais. Coisas que os autores dos Evangelhos inventaram, por exemplo. Veja, logo no segundo versículo do Evangelho segundo Marcos, o texto diz: ‘Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio, à Tua frente, o Meu mensageiro, a fim de preparar o Teu caminho.’ O problema é que o autor do Evangelho se enganou, porque essa citação não é de Isaías, mas de Malaquias, capítulo 3, versículo 1. Muitos copistas perceberam este erro e emendaram para ‘Conforme está escrito pelos profetas’. Ora, isso é uma alteração fraudulenta do texto original.
 
É uma alteração intencional e não está fiel ao original. E, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, é uma alteração importante. O erro nos revela algumas limitações teológicas do autor do Evangelho. Ao apagar o erro, adulterou-se a percepção da qualidade do seu autor.
 
Leia o que está escrito em Mateus, capítulo 24, versículo 36. Jesus profetiza o fim dos tempos e diz: ‘Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai.’ Este versículo traz problemas óbvios ao conceito de Santíssima Trindade, que, entre outras coisas, estabelece que Jesus é Deus. Se é Deus, é onisciente. No entanto, neste versículo, Jesus admite que não sabe quando será o dia e a hora do Juízo Final. Como é possível? Jesus não é Deus? Ele não é onisciente? Para resolver este paradoxo incômodo, muitos copistas eliminaram a expressão ‘nem o Filho’, e assim resolveram o problema. Esta, caro leitor, é uma alteração intencional típica feita por motivos teológicos. Não sendo inocente, também não é inconsequente, como estou certo que perceberá.
 
Mas, essa adulteração se mantém ainda hoje? Esta alteração foi denunciada e, após grande polêmica, as traduções mais fiéis decidiram recuperar o texto original. Assim sendo, mantêm o paradoxo e rezam para que os fiéis não o notem. Mas o importante é sublinhar que os copistas não cometem apenas erros acidentais. Há muitas alterações que são intencionais. Por exemplo, quando encontravam pequenas alterações de uma história nas diferentes cópias, muitos deles eliminavam as diferenças e harmonizavam os textos, alterando assim intencionalmente o que copiavam. Chegaram o ponto de inserir histórias que não se encontravam nos evangelhos que copiavam. É o caso da história da adúltera e da narrativa da ressurreição no Evangelho segundo Marcos.
 
O episódio da adúltera se encontra numa única passagem, do Evangelho segundo João. Mais exatamente do versículo 53 do capítulo 7 até o 12 do capítulo 8. Mas é importante que perceba que esse episódio não constava originalmente desse evangelho. Aliás, nem desse nem de qualquer outro. Foi acrescentado por escribas. A história da adúltera não se encontra nos manuscritos mais antigos do Novo Testamento, considerados mais fiéis ao texto original. Só aparece nas cópias posteriores. Além disso, o estilo de escrita difere marcadamente do existente no resto do Evangelho segundo João, incluindo as narrativas que se situam nos versículos imediatamente antes e depois. Por fim, este episódio inclui um grande número de palavras e frases que não são usadas no resto deste evangelho. Por tudo isto, há um consenso no mundo acadêmico de que este trecho foi acrescentado. É uma fraude.
 
É possível que tenha sido inserido por teólogos cristãos que, num debate com judeus sobre a lei de Deus, se sentissem embaraçados pelas regras divinas estabelecidas em Levítico. Não encontrando nada em Jesus contrariando a ordem de apedrejar as adúlteras, inseriram esse episódio no Evangelho segundo João.
 
Atenção, isto é apenas uma teoria. Naquele tempo as pessoas acreditavam que certas ideias religiosas que lhes ocorriam eram verdadeiras porque lhes tinham sido implantadas na mente pelo Espírito Santo. Jesus é citado por Marcos no capítulo 13, versículo 11 dizendo o seguinte: ‘Quando vos levarem para serdes entregues, não vos inquieteis com o que haveis de dizer, mas dizei o que vos for dado nessa hora, pois não sereis vós a falar, mas sim o Espírito Santo.’ Ou seja, acreditavam que o Espírito Santo os guiava quando lhes vinha à cabeça qualquer conceito teológico. Se a inspiração não fosse divina, como poderiam ter lhes ocorrido essas ideias? Daí até inserir a narrativa da adúltera, que convenientemente desautorizava uma ordem incômoda de Deus estabelecida de maneira inequívoca em Levítico, foi um passo.” Tomás comprimiu os lábios. “Outra hipótese é que um escriba tivesse anotado esse episódio na margem de um manuscrito, baseado numa tradição oral qualquer sobre Jesus. Décadas depois um outro escriba que estivesse copiando o texto poderia ter achado que a anotação na margem pertencia à narrativa e a inseriu no meio do Evangelho. É curioso notar que o episódio da adúltera aparece nos diversos manuscritos em diferentes pontos da narrativa: nuns casos em João, capítulo 8, versículo 1, noutros após João, capítulo 21, versículo 25, e em outros ainda em Lucas, capítulo 21, versículo 38. Isso dá uma certa credibilidade a esta hipótese.
 
Seja como for, o que interessa é que a história é comprovadamente uma falsificação da Bíblia.
 
 
  1. A Fraude da Ressurreição de Cristo
No caso da ressurreição de Cristo, olhemos ao evangelho de Marcos. Mais precisamente nos últimos versículos. O final deste evangelho não constitui um trecho que pareça familiar às pessoas em geral, mas tem grande peso na interpretação bíblica, como irá notar.
 
O final de Marcos aborda, claro, a morte de Jesus. Ele foi crucificado, como sabe, e, uma vez morto, José de Arimateia pediu o seu corpo e foi depositá-lo num sepulcro cavado na rocha, cuja entrada selou com uma pedra. Ao amanhecer de domingo, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, desceram ao sepulcro para besuntar o cadáver de óleo, como era a tradição. Quando chegaram ao local, porém, encontraram a entrada aberta e um jovem de túnica branca sentado à direita, que lhes disse: ‘Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou, não está aqui.’ As três mulheres fugiram do sepulcro, tremendo, ‘e não disseram nada a ninguém porque tinham medo.
 
A fraude está nos doze versículos seguintes. No capítulo 16, dos versículos 9 ao 20. Diz Marcos que, depois de as três mulheres fugirem apavoradas do sepulcro, Jesus ressuscitado apareceu primeiro a Maria Madalena e depois aos apóstolos. E lhes disse: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado. Depois Jesus foi arrebatado para o Céu e sentou-se à direita de Deus – Isso é uma fraude. Os versículos da ressurreição de Jesus estão ausentes dos dois melhores e mais antigos manuscritos que contêm o Evangelho segundo Marcos.
 
É uma situação em tudo semelhante ao episódio da adúltera. Além de não constarem nos textos mais antigos, e consequentemente mais próximos dos originais, o estilo de escrita destes versículos é diferente do utilizado no resto do Evangelho. Ainda por cima, muitas das palavras e frases que são usadas nestes doze versículos da ressurreição não se encontram em outras partes do texto de Marcos. Ou seja, esta narrativa da ressurreição não pertence ao texto original e foi acrescentada por um escriba posterior. É uma intrusão.
 
 
  1. Maria: a virgem que não era virgem
Sabe onde está a informação de que a mãe de Jesus era uma virgem? Apenas em dois evangelhos: Mateus e Lucas. Marcos ignora por completo a questão do nascimento de Jesus e João diz, no capítulo 1, versículo 45: ‘É Jesus, o filho de José, de Nazaré’. Ou seja, declara diretamente que José é pai de Jesus, afirmação que implica contradizer Mateus e Lucas. Mas o mais importante é o testemunho de Paulo, mais antigo que os Evangelhos. Diz Paulo na Carta aos Gálatas, no capítulo 4, versículo 4: ‘Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher.’ Paulo, escrevendo mais perto dos acontecimentos, pelo visto se esqueceu de mencionar que a dita mulher era virgem. Não me parece possível que tenha achado esse detalhe irrelevante. Uma virgem que dá à luz não é coisa normal, não? Se tivesse acontecido com Maria, decerto Paulo não se esqueceria de mencionar. Ora, se Paulo não o afirma, é porque tal nunca lhe foi dito. E por quê? Porque provavelmente essa tradição não existia ainda naquele tempo. Foi inventada mais tarde.
 
Diz um anjo a Maria, no Evangelho segundo Lucas, no capítulo 1, versículo 35: ‘O Santo que vai nascer há de chamar-Se Filho de Deus.’ E esclarece Mateus no capítulo 1, versículos 22 e 23, ao apontar as razões pelas quais Jesus nasceu de uma virgem: ‘Tudo isto sucedeu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor e anunciado pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho; e chamá-Lo-ão Emanuel, que quer dizer Deus connosco’.
 
Lucas relaciona o fato de Jesus ter nascido de uma virgem com a afirmação de que é o Filho de Deus. O mais importante é que Mateus atribui isso ao ‘que foi dito pelo Senhor e anunciado pelo profeta’. Dito pelo Senhor? Anunciado pelo profeta? O profeta revelou que o Messias nascerá de uma virgem? E chamar-se-á Emanuel? Que profeta escreveu tal coisa?
 
Na verdade, consultando o Antigo Testamento, descobre-se que há de fato um profeta que fez a previsão mencionada por Mateus. Trata-se do profeta Isaías. Repare o que diz Isaías no… no capítulo 7, versículo 14: ‘Por isso, o mesmo Senhor por sua conta e risco, vos dará um sinal: Olhai: A virgem está grávida e dará um filho, por-lhe-á o nome de Emanuel’. No entanto, você sabe em que língua foi originalmente escrito o Novo Testamento? Resposta: aramaico. É verdade que o aramaico é uma língua muito próxima do hebraico. O Antigo Testamento foi de fato escrito em aramaico e em hebraico. Mas o Novo Testamento, criado em torno da figura e dos ensinamentos de Jesus, foi originalmente redigido em grego. Isso explica muita coisa. A palavra chave deste enigma é esta: parthenos, ou seja, virgem em grego. ‘A virgem está grávida e dará um filho’. Essa supostamente seria a linha em que o profeta Isaías profetiza o nascimento do messias a partir de uma virgem. Porém, o profeta Isaías nunca profetizou tal coisa! Na tradução grega do Antigo Testamento, de facto encontra-se a palavra grega que significa “virgem”. Acontece que o Antigo Testamento foi originalmente escrito em hebraico e aramaico. No caso das profecias de Isaías, o texto foi redigido em hebraico. E a minha pergunta agora é esta: que palavra hebraica usou Isaías quando mencionou a mulher que daria um filho que seria o Messias? Seria a palavra “virgem” em hebraico? Aí é que está o problema! É que a palavra usada originalmente por Isaías em hebraico neste versículo do Antigo Testamento não foi “virgem”, mas sim foi “alma”, que em hebraico significa “mulher jovem”. Ou seja, o que Isaías originalmente escreveu em hebraico foi: “‘A mulher jovem está grávida e dará um filho.’”.
 
O que aconteceu foi que, na antiguidade, o tradutor do Antigo Testamento em grego se enganou neste versículo e, em vez de traduzir mulher jovem, traduziu virgem. Acontece que os autores dos dois evangelhos, Lucas e Mateus, leram a profecia de Isaías na sua tradução grega, e não no original em hebraico. Querendo associar Jesus às profecias das Escrituras, para o legitimar enquanto Messias e Filho de Deus, escreveram que Maria era virgem, coisa à qual aliás Marcos, João e Paulo nunca afirmaram. Além do mais, é bom não esquecer que Jesus teve vários irmãos. Escreveu Marcos no capítulo 6, versículo 3: ‘Não é Ele o carpinteiro filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e Simão? E as Suas irmãs não estão aqui entre nós?’ Se a mãe de Jesus era de fato virgem, como pretendem Lucas e Mateus, como concebeu ela essa filharada toda? Também por obra e graça do Espírito Santo?
 
Os teólogos cristãos teorizaram e arranjaram várias desculpas. Uma é que os irmãos são, na verdade, meios-irmãos, todos filhos de José, mas não de Maria. Outra é que não se trata de irmãos, mas de primos. E outra é que a expressão irmãos era muito abrangente e podia ser aplicada a companheiros.
 
A frase de Marcos, ‘Não é Ele o carpinteiro filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e Simão? E as Suas irmãs não estão aqui entre nós?’, torna evidente pelo seu contexto que está se referindo a irmãos de sangue. O resto não passa de esforços desesperados para adaptar os fatos à teologia.
 
Meta isto na cabeça: Maria não era virgem. O relato da sua maternidade enquanto virgem resulta de um erro de tradução do Antigo Testamento em grego e da vontade de Lucas e Mateus de associar Jesus às profecias de Isaías, para reforçarem a ideia de que ele era o Filho de Deus e sem consciência de que o trecho de Isaías que leram em grego estava maculado por um erro de tradução.
 
E o pior é que este erro desencadeou uma sucessão de adulterações do texto bíblico ao longo dos séculos. Por exemplo, quando Lucas diz que José e Maria levaram Jesus ao Templo e Simeão o identificou como o Senhor, escreve o evangelista no capítulo 2, versículo 33: ‘Seu pai e Sua mãe estavam admirados com o que se dizia d’Ele’. Seu pai? Como pode Lucas dizer que José é pai de Jesus se ele nasceu de uma virgem? Confrontados com este problema, muitos copistas alteraram o texto para ‘José e Sua mãe estavam admirados…’O mesmo aconteceu uns versículos mais à frente, no 43, quando Lucas diz que José e Maria ‘regressaram a casa e o Menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem’. Pais? José volta aqui a ser apresentado como pai de Jesus. Novamente os copistas corrigiram o texto, escrevendo ‘sem que José e a mãe soubessem’. No versículo 48, Maria repreende o pequeno Jesus por ter ficado para trás, dizendo: ‘Teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura.’ Os copistas mudaram para ‘Andamos à tua procura’, evitando assim de novo chamar a José pai de Jesus. Enfim, estamos perante uma coleção de adulterações do texto original, nascidas de um simples erro de tradução de Isaías do hebraico em grego.
 
 
  1. A Fraude do Segundo Nascimento
No Evangelho segundo João está descrita uma conversa entre Jesus e um fariseu chamado Nicodemo. No capítulo 3, versículo 3, Jesus lhe diz: ‘Quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.’Ao que Nicodemo responde, no versículo seguinte: ‘Como pode nascer um homem sendo velho? Poderá entrar pela segunda vez no seio de sua mãe e voltar a nascer?’Jesus esclarece que não está falando de um nascimento pela segunda vez, mas de um nascimento de origem divina. Este equívoco de Nicodemo é perfeitamente natural, uma vez que a expressão outra vez tem, em grego, um duplo significado: quer dizer uma segunda vez, mas também do alto. Nicodemo pensava que Jesus tinha usado a palavra no sentido de nascer uma segunda vez, mas o Messias esclareceu que queria dizer nascer do alto, isto é, nascer de Deus. Acontece que, ao ter ocorrido, esta conversa teria forçosamente de ter sido em aramaico, a língua de Jesus. O problema é que, em aramaico, a palavra outra vez não tem esse duplo sentido. O duplo sentido existe apenas em grego. Assim sendo, esta conversa não pode ter ocorrido. É uma invenção.


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Créditos: José Rodrigues dos Santos. Fonte: O Último Segredo. Obra disponível em PDF.