A evolução capitalista, através da revolução Industrial na Europa, iniciada pela Inglaterra, tornou inevitável a divisão do continente africano entre as grandes potências europeias. A própria lógica do desenvolvimento capitalista continha essa necessidade de expansão e anexação de outros territórios, sobretudo dos territórios onde a exploração capitalista não tinha ainda assentado arraiais. Tal desenvolvimento levou ao aumento das necessidades para fazer face a revolução industrial e aos produtos fabricados. leia também Invasão, partilha e ocupação efectiva de África

Porém, quanto mais o capitalismo se desenvolve, mais se faz sentir a falta de matérias-primas, mais encarniçada se torna a concorrência e a procura de fontes de matérias-primas no mundo inteiro e mais brutal é a luta pela posse de colónias.

No entanto, essas necessidades antes eram satisfeitas dentro da Europa pela anexação de certas zonas ricas entre as potências, como ocorreu entre a França e a Prússia, quando a Alemanha anexou as províncias de Alsácia e Lorena. Devido ao nacionalismo europeu que decorreu no século XIX e acompanhado pelo agravamento das rivalidades entre as grandes potências, fez com se recorre a África.

A expansão e anexação foi, regra geral, precedida por “viagens de reconhecimento” levadas a cabo por missionários, aventureiros, etc, com frequências patrocinadas por organizações científicas ou filantrópicas, financiadas por associações e organizações científicas e filantrópicas.

Com o desenvolvimento da actividade comercial e das rotas terrestres e marítimas de transporte a Europa sentiu necessidade de encontrar novos horizontes, sendo realizadas as primeiras viagens levadas a cabo por: Vasco da Gama, Marcopolos, Ferrão de Magalhães, Cristóvão Colombo entre outros.

Estas viagens foram realizadas com certas motivações de carácter económicos, político, social, religioso e cultural que a seguir far-se-ão menção:

Económicas

No final do século XIX e começo do século XX, a economia mundial viveu grandes mudanças. A teoria da Revolução Industrial aumentou ainda mais a produção, o que gerou grandes necessidades de mercado consumidor para esses produtos pela saturação dos mercados europeus devido a concorrência no mercado e uma nova corrida por matérias-primas como o Ferro, Carvão, Alumínio e Petróleo.

Assim, no final do século XIX e o começo do século XX, os países imperialistas se lançarem numa louca corrida pela conquista global o que desencadeou rivalidades entre os mesmos e concretizou o principal motivo da Primeira Guerra Mundial, dando princípio à “nova era imperialista” onde os EUA se tornaram o país cardeal.

Políticas

O nacionalismo europeu do século XIX fez crescer as rivalidades entre as nações da Europa. Com fronteiras bem definidas, territórios unificados, política centralizada e com governos fortemente estabilizados, a busca de prestígio só seria possível fora das fronteiras europeias e assim a primeira cobiça foi a África e Ásia.

Religiosas

Entre as causas desta expansão destaca-se a necessidade de expandir a fé cristã e salvar as almas dos infiéis (africanos) e contrapor a expansão do islamismo na Ásia. Havia entre outras ideias a consideração de que os europeus eram mais civilizados em relação aos outros povos do mundo. Assim, era necessário civilizar os africanos. Havia uma grande necessidade de querer entravar o avanço do islamismo que era uma religião cujos objectivos eram semelhantes com os do cristianismo que consistiam em expandir a adoração de um só deus. No entanto, era lógico que estes rivais caminhassem em direcção à região de expansão e civilização.

Sociais

Procurava-se espaços em África para acomodar a população desempregada europeia a fim de se evitar tensões sociais causadas pela explosão demográfica.

Culturais

Os europeus por se considerarem mais civilizados vinham com a intenção de civilizar os africanos considerados povos não civilizados.

Tratava-se duma nova fase, o imperialismo, consequência do desenvolvimento do modo de produção capitalista. A acumulação do capital, a procura de matérias-primas e a exportação de capitais constituíram momentos gerais e fundamentais do referido desenvolvimento. Entre 1886 e 1930, os capitais foram predominantemente investidos no comércio e na extracção de matérias-primas. A partilha e exploração do continente africano foi precedida de viagens de reconhecimento geralmente acobertadas sob motivos científicos e ou filantrópicos, formalizados na conferência de Berlim.

 

Foi neste clima que os europeus iniciaram a enviar missionários e aventureiros para o interior do continente africano, testemunhado por seguintes exemplos:

– David Livingstone, Missionário Inglês que entre 1840 e 1873 em sucessivas viagens percorreu o curso do rio Zambeze, o Lago Niassa e a região de Tanganhica, atingindo as nascentes do rio Zaize, descobrindo o lago Ngoni.

– Stanley, que em 1871 parte zanzibar em direcção ao lago Tanganhica à procura de Livingstone, atravessando a África Equatorial, da Costa Oriental (Zanzibar) à Costa Ocidental (foz do Zaire), entre 1875-1877.

– Savogan Brazza, que em 1873, empreendeu o reconhecimento da região equatorial na Costa Ocidental Africana, a norte do rio Zaire e Niassalândia.

– Serpa Pinto e Roberto Ivans Brito, fizeram viagens para o interior africano, partindo de Moçãmedes em Angola até Quelimane em Moçambique.

– Carl Peters (1856-1881) explorou a região dos grandes lagos.

A certeza da existência de riquezas africanas, fez nascer neste período uma série de associações e sociedades de patrocínio a estas viagens. Teoricamente definidas como associações científicas e filantrópicas, organizadas com o objectivo de promover a exploração e a “civilização” africana, elas tiveram essencialmente fins políticos e não surgiram desligadas das rivalidades entre as potências europeias. Destacou-se aqui a Associação Internacional Africana, criada depois da Conferência Geográfica de 1876, que decorreu sob os auspícios do rei Leopordo II da Bélgica.

Entretanto, em Portugal que acompanhou o movimento, surgiu em 1875, a Sociedade de Geografia de Lisboa. Pouco tempo depois, em 1877, Serpa Pinto atravessou o continente de lés-a-lés e capelo e Ivens partindo de Moçâmedes até Quelimane, seguindo grande parte do rio Zambeze e centrando as suas atenções entre Angola e Moçambique, eixo das rivalidades luso-britânico.

Após o reconhecimento, seguiu-se o processo de ocupação dos territórios reconhecidos, segundos os objectivos de cada potência. Esta corrida colonial ocorrida no último quartel do século XIX, veio agravar os conflitos já existentes entre as potências imperialistas, pela posse de zonas de influência para explorar mão-de-obra barata, matérias-primas e mercados consumidores dos produtos industrializados da Europa.

O primeiro passo foi dado pela França, pela ocupação da Argélia, Tunísia, África Equatorial Francesa, Madagáscar e África Ocidental Francesa. Este processo foi seguido pela Bélgica de Leopordo II, com a tomada do Congo. A Inglaterra conquista na mesma sequência a região do Cabo na África do Sul, provocando o descontentamento dos bóers, obrigando-os a deslocarem para a região norte onde foram fundar o estado Livre do Órange e a República do Transval. Este processo ficou na História conhecido por Great Treck (grande marcha).   Portugal conquista Moçambique, Cabo-Verde, Angola, Guiné-bissau e São Tomé Príncipe. A Espanha conquista o Marrocos, Guiné Espanhola. A Itália conquista a Eritreia, Somália e Líbia. A Alemanha conquista o Tanganhica e Namíbia.

Principais conflitos internacionais entre as potências na conquista de colónias em África

Mapa cor-de-rosa

No final do século XIX e inícios do século XX, os países imperialistas lançaram-se numa louca corrida pela conquista global da África, o que desencadeou rivalidades entre os mesmos.

A Inglaterra com a compra do cabo em 1815, tendo originado o conflito Anglo-boer, entre 1899-1902, disputando o controlo total de todas as regiões mineiras da África do sul. Entre Portugal e Inglaterra rebentou a guerra Luso-britânica, causada pela coincidência de projectos entre os dois países, pois Portugal pretendia materializar o seu projecto mapa-cor-de-rosa, segundo o qual Moçambique e Angola estariam geograficamente unidos, projecto este que ia contra os interesses de Cécil Rhodes, então comissário britânico, que pretendia construir uma linha férrea ligando o cabo ao cairo, para facilitar o escoamento das matérias-primas e dos produtos industrializados das colónias para a metrópole e vice-versa. Assim, a Inglaterra enviou um ultimato a 11 de Janeiro de 1890, num prazo de 48 horas pedindo a retirada das tropas portuguesas ali estacionadas. O não cumprimento deste ultimato implicaria o corte das relações diplomáticas entre os dois países. Com o eventual recurso ao uso da força e perante a impossibilidade de Portugal de enfrentar um inimigo tão poderoso, o governo português cedeu as regiões em causa na tarde do mesmo dia, principalmente nas regiões da Machonalândia e do Chire.

Para além dos dois conflitos do extremo centro e sul, também no extremo norte Portugal envolveu-se em guerra com a Alemanha que ocupava o Tanganhica, actual Tanzânia, a chamada guerra Luso-germânica sobre a fixação da fronteira norte de Moçambique. A Alemanha hasteou a sua imperial bandeira em ambas margens do rio Rovuma tendo penetrado em 1894, na margem sul, expulsando a reduzida guarnição portuguesa ali estacionada, substituindo-a por uma alemã. Entretanto, este projecto alemão não se efectivou em virtude da Alemanha ter saído derrotada na primeira guerra, pois havia uma cláusula definida na SDN segundo a qual, todas as potências derrotadas na primeira guerra Mundial deveriam perder todas as suas colónias e assim sendo, a Alemanha retirou-se nos territórios em causa.

Em 1904-1905, rebentou a guerra Russo-japonesa, envolvendo países como a Rússia e o Japão pelo controlo da Manchúria chinesa e da correia. A anexação da Bósnia e da herzegovina pela Áustria Hungria, levou a eclosão da guerra de 1912-1913, as chamadas duas guerras balcânicas. Nesta guerra, a Rússia choca-se com a Alemanha que pretendia construir uma linha férrea Berlim-Bisáncio-Bagdad (B-B-B). As rivalidades agudizavam cada vez mais, levando a formação de alianças militares.

Esta crescente luta era causada pela obtenção de zonas de influências donde poderia se obter matérias-primas a preço mais baixo, mão-de-obra barata e mercado para a venda dos seus produtos industriais. Porém, temendo a eclosão de um conflito de grande envergadura, os países europeus realizaram de 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885 a conferência de Berlim, para a partilha da África, convocada por Otto Von Bismark da Alemanha, por ter-se lançado tarde na corrida imperialista devido a sua tardia unificação, pretendendo obter colónias em África, aproveita-se do conflito entre a Bélgica e a França sobre a região do Congo para convocar de 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885 a conferência de Berlim.

Referir que esta conferência foi um processo para se chegar na mesa de conversações sobre o delineamento de fronteiras com a finalidade de evitar futuros conflitos armados. Todavia, a partilha de África aquela que passou a vigorar nos mapas não se fez na conferência de Berlim, mas ela principiara antes e concretizou-se depois. O que se fez na conferência de Berlim foi uma série de conversações para se obter regras e princípios para uma ocupação efectiva oficial.

Causas da conferência de Berlim

A causa primordial da conferência de Berlim, foi o conflito entre a Bélgica e a França sobre a região do Congo e a intenção da Alemanha em criar um império colonial em África.

Objectivos da conferência de Berlim

– Obter um acordo de princípios entre as potências imperialistas/europeias para uma ocupação efectiva oficial;

– Regular o comércio e a navegação nas bacias dos rios Níger e Congo.

Principais deliberações tomadas na Conferência de Berlim

– Decidiu-se que o comércio de todas as nações passaria a gozar de uma completa liberdade nas bacias dos rios Níger e Congo;

– Reconhece-se o estado Congo-Belga;

– Decidiu-se que todas as potências consignatárias deveriam abolir nas suas colónias o comércio de escravos;

– Decidiu-se que em caso de dúvidas sobre a delimitação de fronteiras, devera-se resolver por meio de conversações;

– Estabeleceu-se o princípio de ocupação efectiva, segundo o qual todas as potências que tivessem colónias em África deveriam ocupar político e administrativamente as suas colónias sob risco de perdê-las. Assim, os territórios africanos deverão pertencer aos países que tivessem meios para os ocupar de facto.

Nesta conferência participaram 15 países, designadamente: Alemanha, Império Austro-Húngaro, Bélgica, Dinamarca, França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Itália, Reino dos países baixos, Rússia, Suécia, Noruega, Turquia e os EUA.

Após a conferência, seguiu-se o processo de ocupação efectiva da África, segundo a cláusula de ocupação da África definida. Assim, a ocupação da África pelas potências europeias resultou numa autêntica partilha e divisão de África sem respeitar nem a história, nem as relações étnicas ou mesmo familiares do continente.

Formas usadas pelas potências imperialistas para a penetração e ocupação de África

Para a ocupação dos territórios africanos, as potências coloniais usaram diferentes formas de penetração, destacando-se as seguintes:

– Companhias militares (França e Portugal);

– Companhias comerciais (Inglaterra).

Métodos de Ocupação

– Tratados de amizades;

– Conquistas militares;

– Diplomacia.