Ao ouvirmos a palavra “filosofia” imaginamos, muitas vezes, estar diante de um conjunto de teorias sem sentido, sem relação com o quotidiano. Alguns dirão: “A filosofia é coisa de louco” ou “é coisa de gente que não tem mais nada o que fazer”. Estaria mesmo a filosofia distante do quotidiano? Seriam os filósofos seres lunáticos preocupados com coisas absurdas? O que teríamos a ver com a filosofia?
 
Em nossa vida quotidiana, afirmamos, negamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas ou situações. Fazemos perguntas como” que horas são ou que dia é hoje?
 
Esta pergunta sustenta uma crença: a crença que o tempo existe e pode ser medido. Assim como afirmações do tipo “A professora foi injusta” traz em si a crença em nossa idéia de justiça. No entanto, nunca paramos para indagar o que entendemos por “tempo” ou “justiça”. Acostumados com o quotidiano, deixamos nossas idéias e crenças sem fundamentação e vamos aceitando o mundo como se ele fosse óbvio em si mesmo.
 
A Universalidade e Particularidade da Filosofia
Duas principais razões revelam a universalidade e particularidade da Filosofia:
 

 

  • Ela abrange todos os homens: todos os homens são filósofos na medida em que todos se deparam com a realidade material e ou imaterial que lhes exija filosofar (ainda que tenhamos que distinguir o filosofar espontâneo do filosofar sistemático);
  • Há questões que, de um modo ou de outro, preocupam todos os homens embora situados em diferentes espaços e tempo; Essas questões são imprescindivelmente abordadas de maneira filosófica.

 

A particularidade da Filosofia reside no facto do que cada filósofo aborda uma realidade dada baseando-se na sua própria razão: tantos filósofos, tantas maneiras de abordar uma realidade, isto é, tantos filósofos, tantas filosofias.
 
Qual é a utilidade da Filosofia
 
A Filosofia não pode ser vista como uma actividade geradora de riqueza material, mas sim como um esforço constante para compreender o mundo, interpretar a realidade que afecta a vida humana e para o homem saber pensar e saber agir.
 
Graças à Filosofia, o homem sabe pensar e é capaz de:

 

  • Ordenar as ideias de forma coerente;
  • Questionar de forma inteligível, isto é, formular com clareza uma pergunta susceptível de uma resposta clara;
  • Ordenar um discurso argumentativo;
  • Tomar consciência da amplitude, complexidade e profundidade do real;
  • Questionar-se sobre a coerência, a inteligibilidade do seu próprio pensamento e sobre os princípios em que se baseam os seus argumentos.

 

Graças à Filosofia, o homem sabe agir e é capaz de aplicar o seu saber na sua vida quotidiana, isto é, capaz de tomar atitudes racionais e críticas perante a realidade que o rodeia.
 
Aspectos que caracterizam atitude filosófica 

 

  • O espanto 
  • A dúvida 
  • O rigor e por fim a insatisfação 

 

 
Espanto: a origem do pensar 
 
Acordamos em nossa casa, em nossa cama, tudo está no seu devido lugar. As coisas da casa são as coisas conhecidas de sempre, e nos preparamos para ir à escola, ao trabalho ou para prosseguir nosso quotidiano. Os problemas enfrentados são quase sempre os mesmos,  a linguagem usada é a mesma, com a inclusão de uma ou outra palavra nova.
 
O trânsito segue seu fluxo com engarrafamentos, barbeiragens e pequenas alegrias (como encontrar um bom lugar para estacionar).  Encontramos nossos amigos e familiares, contamos piadas, brigamos e nos divertimos. Tudo acontece conforme previsto. De certa forma, essa vida previsível é um conforto que nos agrada. Mas, de repente, surge um evento inesperado, um acidente trágico, um pássaro que pousa em nossa janela, um beijo roubado, um garoto na rua lhe implora: “estou com fome, me ajude”. Um espanto assombroso toma conta de nós, mas não de todos, apenas daqueles que levam consigo um incômodo misterioso. No espanto, nasce o filósofo.
 
Espantados, passamos a questionar. Por que isso é assim e não de outra forma? Por que essa flor nasce e morre tão rapidamente? Por que ninguém ajuda esse garoto?  O que é a morte? E o que é viver? O que é amar?  Aquele que se espanta muitas vezes fica assombrado com algo que, para as outras pessoas, é absolutamente normal. 
 
Isso é o filósofo: aquele que vê no óbvio algo incrível. Quando ele consegue dar voz ao seu espanto, as pessoas se surpreendem. Se é algo que fere gravemente as verdades estabelecidas, então o filósofo é chamado de louco ou condenado à morte como Sócrates ou Giordano Bruno. Uma vez que o espanto toma conta de nós, todas as demais “coisas importantes” de nossa vida tornam-se insignificantes ou assumem um significado mais profundo.
 
Sócrates, Aristóteles, Schopenhauer e até grandes cientistas como Einstein entregaram-se ao maravilhamento. Admirar-se com aquilo que ninguém vê é o primeiro sinal de que estamos pensando com mais profundidade. Para os pensadores gregos, a  origem do pensar é aquilo que eles chamaram de thauma (trauma, espanto, perplexidade).
 
A necessária insatisfação filosófica
 
 O estado filosófico é aquele descolado da realidade dada, e se instala quando o homem, de repente, se espanta com as coisas que lhe rodeiam e doravante não consegue privar-se de problematizá-las com a finalidade de melhor entendê-las. 
 
De certa forma, tudo o que existe em uma consciência é fruto de um movimento filosófico, profundo ou superficial, visto que, segundo George Berkeley, “não existem corpos não pensados”. Partindo, então, do pressuposto de que todas as coisas que existem para nós decorrem dos nossos pensamentos acerca delas, o trabalho do pensamento é que confere qualidade à existência. Do contrário, estaremos sedentariamente entregues “ao pensamento fechado, à coisificação idealista onde a ideia ocupa o lugar do real”, propôs Edgar Morim.
 
Num texto anterior a este citei a afirmação de Mário Quintana de que “um poeta satisfeito não satisfaz” para melhor pensar quão insatisfatória pode ser a satisfação. Parafraseio aqui o poeta alegretense sugerindo que um filósofo satisfeito também é incapaz de satisfazer a si mesmo e ao mundo, porquanto “toda a riqueza se funda na insuficiência, toda a satisfação na falta, toda a presença na ausência, todo o presente no imperfeito”, sugere Morin.
 
 A filosofia, portanto, é movida por uma grave reação à ação do ‘maravilhamento’ que, apesar do gracioso nome, instaura um espanto provocador em relação às particularidades do cosmos. É no surpreendente desconhecimento do já conhecido, ou seja, no estranhamento em relação ao corriqueiro que ressurge o salutar repensar do já pensado que paulatinamente nos afasta da ignorância acerca do misterioso real. 
 
A Reflexão Filosófica 
 
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo. 
A reflexão filosófica é tida como radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. 
 
Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações. 
 
A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações. A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões: 
 
1. por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? 
 
2. o que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 
 
3. para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? 
 
Essas três questões podem ser resumidas em: o que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? A atitude filosófica inicia-se indagando: o que é?, como é?, por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
 
A reflexão filosófica, por sua vez, indaga: por quê?, o quê?, para quê?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir. 
 
A reflexão filosófica busca responder a três grandes grupos de perguntas:
 
 
  • Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?  Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?
  • O que queremos pensar quando pensamos, que queremos dizer o que dizemos, o que queremos fazer quando agimos?   Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
  • Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?  Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?

 

 
Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir?
 
Estas três perguntas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças quotidianas sou ou não um saber verdadeiro, um conhecimento?
 
A atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por que é? Estas perguntas se dirigem ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vive e com ele se relacionam. Estas perguntas refletem a essemcoa, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
 
Na Reflexão Filosófica se indaga: Por que? O que? Para que? Dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.
 
 
CONCLUSÃO
 
De acordo com a pesquisa feita e a matéria apresentada no presente trabalho, concluo que A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si, é como se tivesse sendo reflectido, afinal cabe a filosofia observar e questionar tudo ao redor dela, inclusive ela própria.
 
Alguns pensadores acreditam que a ideia de espanto faz parte do surgimento da filosofia como disciplina. Na origem da filosofia ocidental, os primeiros filósofos gregos (os pré-socráticos) observavam a natureza com uma nova visão. Deixaram de pensar que os elementos místicos era a causa dos fenômenos naturais e viam a natureza com uma atitude de espanto. Esta atitude significa surpreender-se por tudo o que acontecia, pois de alguma maneira tudo tem uma dimensão espantosa.
 
BIBLIOGRAFIA

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