O quadro Político-Geográfico
Nas vésperas da conquista a Líbia compreendia duas principais regiões:
• Tripolitânia – na parte ocidental do território, até ao limite com
Tunísia e Marrocos
• A Cirenaica – a oriente fazendo limite com o Egipto

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A Tripolitânia, sob domínio do Império Otomano, foi invadida pela Itália
a partir de 1911. Nesta altura dois factores jogavam a favor dos intentos
italianos:
• Enfraquecimento do Império Otomano resultante da revolução
dos jovens turcos e;
• A neutralidade da Inglaterra e da França diante do avanço
italiano.
Neste contexto, a 28 de Setembro a Itália lançou um ultimato contra a
Constantinopla e, apesar da Turquia ter feito uma resposta conciliadora, a
Itália desembarcou tropas nas principais cidades líbias – Tripoli,
Benghazi, Homs e Tobruk – ocupando-as de seguida. Entretanto à saída
das cidades, os italianos, foram confrontados com a resistência dos locais.
Quando pretendiam sair de Tripoli foram batidos pelos líbios em al-Hani.
Nas imediações de Benghazi enfrentaram os líbios em Djuliana, alKuwayfiya e al-Hawari, tendo sido forçados a retornar para o centro da
cidade. Entre 23 de Outubro de 1911 e 2 de Maio de 1912 os italianos
bateram-se com turco árabe em al-Khums, com vitória para os italianos.
A resistência em Derna foi protagonizada pelos turcos, cuja guarnição no
local foi reforçada por oficiais turcos comandados por Anwar Paxa e
Mustafa Kamal (Kamal Ataturk) e apoiados por Ahmad al-Sharif, chefe
espiritual dos Sanusiyya, em especial na mobilização dos árabes do
interior para a guerra.
Tendo formado um exército numeroso e forte Anwar travou várias
batalhas com os italianos entre Outubro de 1911 e Julho de 1912. 

As cidades de al-Karkaf, Sidi Abdalah, al-Nadura e al-Mudawwar foram
alguns dos principais palcos dos acontecimentos nesta fase.
O facto de os italianos não terem conseguido avançar para além das
cidades ocupadas mostra bem a consistência da própria resistência neste
período.
Perante a dificuldade cada vez maior de ocupar a Líbia, os italianos
tentaram forçar a retirada turca da região, atacando a própria Turquia. As
investidas italianas, especialmente dirigidas contra os estreitos de
Dodecaneso e Dardanelos, constituíram, porém uma ameaça a paz
mundial e despertaram a “questão do Oriente”.
Perante este cenário as potências europeias começam a pressionar Itália e
Turquia no sentido de encontrarem uma solução pacífica, salvaguardando
a paz mundial.
Respondendo aos apelos internacionais, Itália e Turquia assinam o tratado
de Lausanne, pelo qual a Turquia concedia independência a Líbia e a
Itália desocupava as águas territoriais turcas.
Logo que a Turquia saiu da Líbia, os italianos lançaram-se na conquista
deste território. O primeiro confronto entre italianos e líbios após a
retirada turca deu-se em 1913, quando os italianos atacaram as tropas de
Ahmad al-Sharif tendo sido derrotados em Yawn al-Djuma. Após a
vitória Sharif proclamou a criação do Governo Sanusi (Al-Hukuma alSanusiyya).
Na Tripolitânia os italianos tiveram mais sucesso. No início de 1995
atacaram os líbios nas montanhas orientais tendo-os derrotado em
Djanduba em Março. Em seguida bateram os líbios em três outras
batalhas.
Portanto, até a Primeira Guerra Mundial a resistência no Magreb foi
conduzida por um estado organizado que, através de exércitos regulares
tentou fazer frente aos invasores. Entretanto sempre que o estado se
mostrava incapaz entrava em cena o chefe da confraria. Os anos da
Primeira Guerra foram de interregno no que se refere as acções de
conquista. Tudo quanto pretendiam os europeus, neste momento em que a
preocupação maior era a Guerra Mundial, era manter as conquistas.
Contando, com o apoio dos alemães e turcos, os povos da Líbia forçaram
os ocupantes a adoptar uma atitude bastante liberal, evitando molestar os
africanos.
A partir de 1921, uma vez terminada a Primeira guerra Mundial, e os
países europeus refeitos da mesma, as acções de conquista reiniciaram.
Na Tripolitânia a reconquista foi lançada pelo novo cônsul da região –
Volpi. As mudanças de Volpi, iniciaram com o fim da política liberal e a
rejeição de todos os tratados assinados durante e depois da Primeira
guerra Mundial.
Em Novembro de 1922 o general italiano invadiu a capital – Gharyan –
enquanto outro exército ocupava Misurata em Fevereiro de 1923.

Neste período muitos factores favoreciam os invasores:
Comité Central da República Unida estava enfraquecido pelos
conflitos internos e pela guerra civil entre Misurata e Warfallah e
pelo conflito entre os árabes e os berberes das montanhas;
Em Dezembro de 1922 o chefe espiritual da União – Amir Idris
al-Sanusi abandonou o território para se fixar no Egipto. Facto
que desmoralizou as populações e fez com que muitos soldados
se entregassem ou abandonassem o país.
Com a partida de Amir Idris a resistência ficou sob os auspícios de alRida, novo chefe espiritual em substituição do irmão e Umar ak-Mukhtar
como comandante.
Para enfrentar os italianos, Mukhtar dividiu o seu exército em três
colunas e foi se instalar numa região montanhosa, na região de Jardas,
tendo rechaçado todas as investidas italianas em 1923.
Em 1924 a Tripolitânia entrou finalmente em decadência. Os italianos
apropriaram-se de todas as terras aráveis, mas tinham ainda algumas
dificuldades de controlar o deserto. No final de 1929 e princípios de 1930
o deserto caía sob domínio dos italianos que assim puderam chegar a
Fezzan. Era o fim da Tripolitânia.
Na Cirenaica a resistência continuava firme. Aqui os italianos tiveram
que recorrer a métodos pouco convencionais. Primeiro colocaram um
arame ao longo dos cerca de 300 Km de fronteira entre a Líbia e o
Egipto, para impedir o apoio egípcio. Em seguida ocuparam os oásis,
antes de evacuar todas as populações rurais para o deserto de Sirt, onde
ficaram concentradas em campos.
Apesar do rigor dos italianos a resistência manteve-se firme o que
obrigou os italianos a solicitar negociações. Entretanto ao longo do
processo negocial Mukhtar entendeu que os italianos pretendiam dividir
seus apoiantes para melhor dominá-los, por isso rompeu as negociações e
retomou a guerrilha. Durante dois anos Mukhtar impôs-se aos italianos,
mas em 1931 foi preso e executado após julgamento militar.
Após a morte de Mukhtar a resistência prosseguiu por mais seis meses
sob a liderança de Yusuf Abu Rahil.