O ponto de partida do levante Kongo-Warra foi o povo baya, até então disperso em vários clãs. Do território baya se propagou ao coração da Federação da África Equatorial Francesa, no Ubangui-Chari Ocidental, actual República Centro Africana, e nas zonas de fronteira com o Congo e os Camarões.

A população da região era subjugada há muito tempo pela exploração das companhias concessionárias, voltadas à colheita da borracha de cipó e do marfim e conhecidas pelos abusos que cometiam nos processos de exploração. Às exigências dos pesa dos impostos era adicionado o trabalho obrigatório para a colheita e o transporte da borracha, que continuava sendo explorada, embora estivesse muito desvalorizada. Havia também, o recrutamento forçado para a construção da ferrovia Congo-Oceânica, iniciada em 1921.

Barka Ngainumbey, o Karnu, um profeta baya, foi quem deu alma à revolta, e catalisou um movimento que nasceu após um longo período de humilhação e sofrimento. A partir de 1924, começou a pregar, de aldeia em aldeia, a doutrina da não-violência, fundamentada na recusa do contacto com o colonizador e na resistência passiva às exigências coloniais.

A administração colonial francesa se deu conta da situação três anos depois, quando os seguidores de Karnu já iniciavam os levantes armados, convencidos de sua invulnerabilidade pelo uso do bastão mágico de comando, o Kongo-Warra.

Uma população de mais de 350.000 habitantes aderiu ao profeta, organizando 60.000 guerreiros, num movimento solidário que uniu aldeias e clãs numa área até então marcada pela dispersão política e guerras tribais. Karnu foi morto em Dezembro de 1928, mas a insurreição alastrou-se pelas iniciativas de autodefesa das aldeias e se prolongou até 1931.

 Em 1935, ainda existiam guerreiros escondidos em grutas, nas regiões montanhosas. Pela sua extensão geográfica, duração, número de insurgentes e de confrontos militares, a Guerra Kongo-Warra foi a maior insurreição na África Subsariana entre as duas Guerras Mundiais. A revolta nasceu em sociedades segmentares, que viviam em tribos.

A acção de Karnu apoiava-se, sobretudo, em valores ancestrais, mas incorporava também reivindicações políticas, como a recusa em colaborar com o ocupante e o apelo à unidade de todas as etnias. Estas características situam o movimento na virada dos tempos modernos. A violência da repressão francesa esmagou de tal maneira o levante que a região ficou empobrecida e abandonada, permitindo os abusos de dirigentes contemporâneos como Bokassa, pouco inclinados em reviver a memória desta gesta.