Por: A. M. Mendes

A Educação Democrático-Libertária de John Dewey

 

A Educação Democrático-Libertária 


Contemporaneamente, constatamos que ainda se está refém de modelos tradicionais de educação, em que os objectivos de educação se ligam ao trabalho, a disciplina rígida, e a memorização dos conteúdos por parte dos educandos na instituição social, que é a escola. Também, observa o problema de a educação distar-se das experiências concretas do homem, do educando; os resultados educacionais inda se fecham em contextos de não emancipar pela via libertaria e democrática a sociedade.

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O problema da educação contemporânea é também o problema da sociedade democrática, ou seja, se de alguma forma a educação pode pretender ser libertária e não apenas reprodutora do que já existe na sociedade. E a isso que John Dewey defende a ideia de que mudanças na vida prática só são possíveis com uma reforma educativa que critique os modelos tradicionalistas de pensar a educação assente no cumprimento curricular e na reprodução e na imposição do que se deve aprender.

A epistemologia pragmatista é base teórica, refira-se, do pensamento filosófico de John Dewey, neste caso as reflexões relativas á educação e democracia. Sabe-se que o triunvirato do pragmatismo é, nomeadamente, Charles Sanders Pierce, William James e John Dewey. Assim, John Dewey (2007b: 235) refere que o pragmatismo é uma extensão do empirismo histórico, sendo que a diferença é de o pragmatismo mas com uma diferença fundamental, não insistir sobre os fenómenos antecedentes como o empirismo clássico, mas sim sobre os fenómenos consequentes; não sobre os precedentes, mas sobre as possibilidades de acção livre.

Augusto de Souza (2012: 229) desenvolve que Dewey entende o pragmatismo não sou reduzido a ideia de método filosófico, mas também como instrumento de adaptação do homem como organismo vivo em seu ambiente natural, com a intenção de transformá-lo segundo seus interesses individuais e também colectivos. Portanto, procurando a aplicabilidade do conhecimento a uma dada situação implica que, já que o pragmatismo é parte do método empírico, os resultados de tal método sejam trazidos á experiência quotidiana, o pensar deve-se aproximar a vida pratica e não se distanciar da experiência humana como o caso das filosofias mais intelectualistas, racionalistas, idealistas, até mesmo empiristas.

Em Dewey, deve-se reconsiderar as ideias básicas dos sistemas filosóficos tradicionais, pois a vida social está mudar devido aos avanços da ciência, a revolução industrial e o desenvolvimento da democracia; assim, deve-se reconstruir a filosofia, a educação  e dos ideias e métodos sociais. Assim, a filosofia pode ser definida como uma teoria geral da educação.

Pensar na filosofia da educação de Dewey implica pensar a noção de liberdade. Assim, a ideia da liberdade da acção advém do instrumentalismo pragmatista em que concebe que  a acção deveria ser inteligente e reflexiva, e que o pensamento deveria ocupar uma posição central na vida. Assim, noção de educação deweyana está intrinsecamente ligada ao elemento prático e o carácter progressivo da cultura estadunidense.

Mas a filosofia americana, nos sistemas que expusemos, fornece ao sujeito, à mente individual, uma função prática mais do que epistemológica (…) O individualismo parcial e egoísta da vida americana deixa suas marcas em nossas práticas. Para o melhor e para o pior, dependendo do ponto de vista, transformou o individualismo estético e fixo da velha cultura europeia em um individualismo activo (DEWEY, 2007b: 241).


Uma noção importante na filosofia de educação de Dewey é de objectivos de educação, esta noção. Entende, Dewey, que o objectivo da educação é habilitar os indivíduos a continuar sua educação, contudo, tal objectivo aplica-se numa relação mútua entre os homens, existindo condições adequadas para a reconstrução de hábitos e instituições sócias por meio amplos estímulos originados da distribuição equitativa de interesses.

Dewey critica, assim, referir-se a objectivo educacional quando a actividade do aluno é estabelecida pelo professor, quando a actividade do aluno é seguir a ordem das lições impostas. Portanto nem a imposição externa, nem a espontaneidade deve determinar o objectivo da educação.

É absurdo discutir sobre os objectivos da educação… se as condições não permitem prever os resultados e não estimulado a olhar para a frente  e vislumbrar o efeito duma determinada situaçãoʼʼ (DEWEY, 2007a: 14).


Em Dewey, objectivo da educação deve constituir uma acção inteligente, que implica previsão, base onde se observam, seleccionam e ordenam objectos e as próprias capacidades. Esta capacidade antecipatória e de prever uma possibilidade, um certo plano para realizar certo acto, esta inerente a tomada de consciência do que se esta a fazer, oque pressupõe deliberação, observação e planificação.

Decorre pois que os objectivos de educação a que Dewey desenvolve tem sentido numa sociedade democrática. É uma ideia fundamental em Dewey a defesa da sociedade democrática; assim, segundo Reale e Antiseri apud  Schmidt (2009: 137), a sua filosofia da educação teoriza a reconstrução e reorganização contínua da experiência, ligada à teoria da investigação, à teoria dos valores e à teoria da democracia, visando a aumentar a consciência dos vínculos entre as actividades presentes, passadas e futuras, nossas e alheias, e a aumentar a capacidade dos indivíduos para dirigir o curso da existência.

Explica Schmidt que a filosofia deweyana acentua que todos valores humanos subjacentes á educação não são dados a priori, mas sim dados buscados na situação de um mundo em permanente mudança e voltados para a vida democrática.

Se a educação para uma sociedade democrática consiste em reconstruir e reorganizar a experiência, com a intenção de esclarecer esta experiência e também para esclarecer a nossa aptidão pra a direcção às experiências subsequentes; então importa, em Dewey, a noção de experiência. Assim, Teixeira apud Schmidt (2009: 145) explica que a experiência educativa é, pois, essa experiência inteligente, em que participa o pensamento, através do qual se vêm a perceber relações de continuidade antes não percebidas.

Portanto, a vida é um conjunto de experiências significadas continuamente, ou seja, a vida como um processo de aprendizagem; a experiência educativa é melhorar inteligentemente uma certa experiência actual.

Schmidt interpreta que a abordagem de Dewey acerca da educação ligada a concepção de sociedade democrática sustenta-se na compreensão de que os objectivos educacionais ainda que variem de grupo social, é na sociedade democrática que existe maior reciprocidade, interesse e cooperação entre seus membros e grupos sociais que a integram.

Uma sociedade é democrática na proporção em que prepara todos os seus membros para com igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que assegura o maleável reajustamento de suas instituições por meio da interacção das diversas formas da vida associada” (…) construir ou aprimorar a sociedade democrática por intermédio da educação (SCHMIDT, 2009: 140).


A educação democrática deve estar ligada á experiência dos homens, os valores destes homens, os valores que estes homens almejam concretizar. Assim, uma sociedade democrática apresenta condições para que a educação amplie as liberdades, a cooperação. Desta feita, a teoria da educação de Dewey ligada as experiências do homem, recolocam a aprendizagem e a prática pedagógica no lugar que deve ocupar na vida; a educação é inerente a vida do homem e não preparação para a vida, já que antes da instituição escola a educação existia; e é, assim, que, em Dewey, aprendizagem está neste processo de reorganizar e reconstruir a vida sempre que se amplia a experiência anterior; a escola estimula aprendizagem, fornecendo os meios e modelos pelos quais esta pode vir a ser adquirida.

Westbrook interpreta Dewey estava convicto que a escola deve incidir na construção do carácter democrático no educando, onde os educadores criem nas salas de aula um ambiente adequando para redignificar experiências e hábitos sociais através da inteligência, ou seja, a educação é sobretudo um processo reformador da sociedade. Portanto,

A educação constitui uma espécie de caldo de cultura que pode influenciar eficazmente o curso de sua evolução. Se os educadores desempenharem realmente bem seu trabalho, apenas se necessitaria de reforma: da classe poderia surgir uma comunidade democrática e cooperativa (WESTBROOK, 2010: 21).


Westbrook (2010: 27) explica que Dewey tem o mérito de ao relacionar a escola com a vida social exterior ter suprimido uma característica da sociedade estadunidense, isto é, ao suprimir afastar a escola das relações de produção capitalista e, portanto, integrando a escola no meio cooperativo, liberando das pressões económicas, advogando o desenvolvimento do poder social e da pesquisa, e sendo contra a alienação do trabalho.

Geraldo de Lima e Gatti Júnior  (2019: 7) desenvolve a experiência somente passa a ser significativa em termos educacionais, quando proporciona ou possibilita dados, fatos ou concepções. Assim, o processo de ensino e de aprendizagem não consiste em mera transmissão de conteúdo, de forma passiva e mecânica, mas repleto de sentido, por meio da reconstrução da experiência, de maneira interactiva, em sociedade.

Em Dewey, uma educação democrática é voltada a liberdade e não ao controle, a disciplina, a autoridade e a simples reprodução de conteúdos conceituais; este o carácter de toda escola progressiva que valora a liberdade de inteligência que Geraldo de Lima e Gatti Júnior (2019: 8), é a  liberdade de observação e de julgamento com respeito a propósitos intrinsecamente válidos e significativos; é a liberdade de pensar, desejar e decidir.

Portanto, a finalidade da educação, em Dewey, é mais educação e mais democracia, ou seja, por uma lado, mais educação na medida em que que habilite os indivíduos a continuar sempre mais sua educação, permitindo-lhes desenvolver-se permanentemente, com maior  capacidade para pensar, comparar e decidir com mais acerto e convicção; por outro lado, mais democracia na medida em que significa mais liberdade, mais livres para agirmos conscientes.

BIBLIOGRAFIA



    1. a) Do autor



DEWEY, John. Democracia e educação. São Paulo, Ática, 2007ª.

DEWEY, John. O desenvolvimento do pragmatismo americano. São Paulo, Scientiæ Zudia, v. 5, n. 2, p. 227-43, 2007b.

    1. b) Complementar



WESTBROOK, Robert B. John Dewey. Recife, Massangana, 2010.

SCHMIDT, Ireneu Aloisio. John Dewey e a educação para uma sociedade democrática. Editora Unijuí,  nº 82, Jul./Dez. 2009.

GERALDO DE LIMA, Geraldo; GATTI JÚNIOR, Décio. A importância das ideias sobre educação, experiência e liberdade em John Dewey no processo de construção de uma sociedade democrática no século XX. Disponível em: https://even4.azureedge.net/anais/50432.pdf. Acedido em: jun. 2019.

AUGUSTO DE SOUZA, Rodrigo. Os fundamentos da pedagogia de John Dewey: uma reflexão sobre a epistemologia pragmatista. Revista Contrapontos, Vol. 12 - n. 2 - p. 227-233 / mai-ago 2012.