A historiografia crista medieval  era essencialmente teocêntrica, onde Deus vigorava como centro do processo histórico. Na historiografia do renascimento, desloca-se esse centro para o homem ou seja houve uma valorização do homem do teocentrismo que passou para antropocentrismo, o homem culto moral e racional que não precisa de invocar o espirito e imagens divinas para explicar tudo que estava a sua volta.

Pico Della Mirandola (1463-1494) da academia platónica de Florença segundo Gomes (1988:114) foi quem colocou na boca de Deus a carta de Alforria do homem ao afirmar: “ Adão, não te demos nem lugar preciso nem forma que te seja própria, nem função particular, afim de que de acordo com os seus desejos e teu discernimento possas tomar e adquirir o lugar, as formas e as funções que desejares”.

E, finalmente, o homem passou a ocupar o centro do universo ganhando grandeza e dignidade comparativamente ao homem bíblico.

O espirito crítico desenvolvido no Renascimento teve reflexões a nível da história que passou a ser meio de fundamentação de críticas às sociedades do tempo.

A Reforma Religiosa teve um papel preponderante no desenvolvimento da preocupação crítica dos textos visto que para fundamentarem a sua doutrina e se auto-proclamarem como legitimas herdeiras das primeiras comunidades cristãs, os movimentos religiosos foram incitados a proceder a uma analise dos textos sagrados no sentido de verificar a sua autenticidade.

Todavia, o carácter dominante na historiografia do século XV relaciona-se com o facto de os humanistas terem voltado ao pragmatismo ao terem reduzido a história quase exclusivamente a política onde esta destinava-se a acrescentar a reputação do Estado e facilitar a educação dos réis e príncipes.

Assim, a historia tinha uma função educativa na medida em que ela era usada para os príncipes e reis aprenderem a melhor forma de governar os seus reinos bem como aprenderem exemplo que não deviam ser seguidos.

O século XV pôs em prática uma nova teoria de poder (o poder absoluto) que traz-nos uma nova concepção de estado no que respeita as instituições políticas: um estado temporal e soberano totalmente independente da tutela da igreja, centralizado e único.

O maior mentor deste novo estado foi italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), na sua obra “discursos”, ele pronuncia-se pela excelência do regime republicano ou seja, ele entende que o ideal do Estado é o regime republicano com a eleição dos dirigentes, o que considera mais adequado para evitar os abusos do poder e para enfrentar os privilégios feudais. A sua concepção tem por base as sociedades quatrocentista em que a burguesia, interessada na livre circulação dos seus produtos, aspirava a formação de mercados nacionais cada vez mais vastos, económica e politicamente integrados.

Um outro aspecto abordado por Maquiavel, foi a problemática do sujeito do processo histórico. Para ele, se Deus e a fortuna têm alguma margem de intervenção na história ao homem pertence pelo menos metade desta intervenção

“Sei muito bem que alguns foram e são de opinião de que os assuntos deste mundo são de tal modo governados por Deus (…) os homens apesar de toda sua sabedoria, não os podem corrigir nem para eles tem sequer nenhum remédio. Assim seria lógico que se deixam governar pela sorte.

Esta opinião reconquistou crédito no nosso tempo com as revoluções. Contudo, para que o nosso livre arbítrio não se instiga, parece me possível que a fortuna seja sanhora da metade das nossas obras , mas que nos deixe governar a outra metade. Comparo-a àqueles rios que costumavam transbordar, inundam as planícies em redor, destroem ‘árvores e casas. Todos fogem diante dele  ao seu furor sem nada poder fazer para conter.

Mas, embora mostre-se assim furiosos em certas estações (…), no tempo calmo não deixam de ter a liberdade de providenciar por meio de muralhas  diques de modo que se o seu caudal aumentar de novo transborde por um canal ou encontre pela frente um dique que lhes contenha o furor e não permitam que sejam tão ruinosos” Maquiavel “O Príncipe”

No quadro do alargamento dos mercados comerciais, a burguesia viajara e entrara em contacto com povos de diferente raças costumes, religião, sensibilidades morais e estéticas, o que contribuiu para despertar nelas a ideia da relatividade das coisas.

Perante este mundo diversificado, a burguesia sentiu a necessidade de criar um novo critério de verdade que lhe permitisse uma orientação. Esse critério, foi a experiência.

A partir deste novo critério, acentuaram-se as exigências racionais de coerência entre a teoria e a prática assim como o hábito de submeter a validade de juízos a sua comprovação. Ao pôr em causa as versões correntes do saber antigo, a experiência burguesa, despertou nos humanistas o espírito crítico e a exigência intelectual de reconstituir os textos antigos aos contextos históricos em que tinham surgido.

Do ponto de vista historiográfico, há que destacar a obra do italiano Lourenço Valla (1407-1457) que consistiu em ter provado a falsidade da “doação de Contantino”. Pertença doação feita pelo imperador Constantino (312-327) à Igreja católica e que por esta era invocada para legitimar o seu poder temporal.

À Valla  pertence o mérito de ter provado a sua falsidade demonstrando  em vez de o documento corresponder à época de Constantino, que viveu no século IV, o seu estilo correspondia ao estilo medieval do século VIII.

No século XVI, alarga-se o tempo temático da pesquisa histórica, na medida em que  a história passa a desenvolver uma diversidade de temas de carácter económico, social e cultural, não obstante a primazia dos factos políticos.

Foi neste mesmo século que surgiram as primeiras tentativas de explicação dos fenómenos económicos. É o caso da teoria quantitativa dos preços mediante o qual, o francês Jean Budin (1530-1596) pretendeu explicar a subida dos preços atribuindo-a a abundância dos ouro e da prata que afluíram na Europa provenientes das colónias espanholas da América.

O facto de se terem ensaiado tentativas de explicação destas questões, não propriamente segundo uma perspectiva histórica, faz-nos situar no século XVI, uma etapa importante do aperfeiçoamento do conhecimento científico em história.

Um outro pensados renascentista, foi o português Fernão Lopes o prólogo da crónica do Dom João I de que ele é autor. Um documento notável do ponto de vista da definição da historiografia. Nele está patente a sua defesa da independência do historiador perante as autoridades e o sentido da sua responsabilidade perante o povo, procedimentos que coloca Lopes na vanguarda dos historiadores europeus do seu tempo. Para Lopes, o motor da história é a sociedade no seu conjunto, mas propriamente o povo.