No início de nossa era, a vigorosa afirmação de tendências regionalistas latentes pôs fim a essa grande época de unidade andina. A partir de inovações tecnológicas anteriores, culturas locais muito variadas desenvolveram-se entre os séculos I e VIII d. C,  a cultura Mochica, no litoral norte, caracterizada pela cerâmica modelada; a cultura Paracas-Nasca, na costa sul, caracterizada pelos tecidos finamente decorados e bordados; e a cultura Tiahuanaco, nos planaltos meridionais, caracterizada pela arquitectura ciciópica e a estatuária monumental. Sua volumosa produção artesanal era também de rara beleza, justificando o qualificativo de “florescente” aplicado ao período.

Localização geográfica da Civilização Tiahuanaco e Huari

As civilizações Tiahuanaco e Huari localizavam-se respectivamente às margens do lago Titicaca e no vale médio do Mantaro, que conseguiram reunificar, em torno de si, o fragmentado mundo andino a partir do século VIII.

A civilização Tiahuanaco “propriamente dito” desenvolveu-se na costa sul do Titicaca, a cerca de 80 quilómetros de La Paz durante o que seria sua etapa formativa, compreendida aproximadamente entre 1000 A.C. e 200 A.C

Origem e a formação da Civilizações

A origem da Civilização Tiahuanaco e Huari é representada pelos mitos de criação andinos arcaicos, com uma forte atribuição de carácter sagrado ao lago Titicaca, ou à própria Tiahuanaco, como génese do universo, o local venerado onde o Deus Criador conferiu existência ao Cosmos, ao Sol, à Lua, às estrelas e aos primeiros seres humanos. Tais mitos de criação, ou mais propriamente mitos cosmogónicos, apresentam outra característica comum: a criação não se dá do nada (creatio ex nihilo) mas, sim, resulta de ato primordial do Deus sobre terra preexistente. Do lago Titicaca e de um mundo intemporal, imerso em trevas, faz-se a luz. O Sol surge das águas e começa o tempo.

Sociedade

A sociedade Tiahuanaco e Huari era “altamente” estratificada como as outras que floresceram no mundo andino. Os núcleos humanos situados ao redor do lago Titicaca teriam atingido ao fim dessa fase “massa crítica”, caracterizada por crescente complexidade social, diversidade de actividades económicas, multiplicidade de divisões de trabalho e regionalidade no padrão de intercâmbio de géneros e produtos, cujo corolário conjunto foi grande potencialidade represada de desenvolvimento, na forma de disponibilidade de mão-de-obra e de recursos materiais, principalmente excedentes agrícolas.

Economia, arte e ciência 

A economia de residiu na sofisticação “tecnológica” dos seus sistemas de agricultura irrigada os quais, baseados em princípios da termodinâmica empiricamente assimilados, permitiram resolver o problema da estabilização e ampliação das colheitas no clima adverso do Altiplano.

Teria sido esse desenvolvimento agrícola o factor principal da expansão e consolidação da civilização. Portanto é essa revolução agrícola que propiciou a formação de Estado, que rapidamente transcendeu os limites da cidade “propriamente dita”. A partir desse momento, Tiahuanaco experimenta desenvolvimento que veria se realimentar, em processo que conduziria à sua acelerada expansão territorial.

Organização política administrativa Tiahuanaco e Huari

O poder administrativo, se manteve desconcentrados na origem política e artística, a evidências que sugeriram que isso era efeito das habilidades difundidas pelos Tiwanaku no norte, a formação ideológica entre Tiahuanaco e Huari podem ser traçadas anteriormente aos Pukara, e depois em um período intermediário nas culturas do norte do Lago Titicaca. Essa politica aparentemente sobreviveu até o ano 1100, quando entrou em colapso possivelmente como resultado de tanto mudanças naturais como estresses internos sociopolíticos.

Decadência Tiahuanaco e Huari

O declínio de Tiahuanaco e Huari, foi determinado por alterações climáticas profundas na região da bacia do Titicaca, iniciadas no milénio anterior e caracterizadas por declínio persistente dos níveis sazonais de precipitação. Verdadeiro supra-fenómeno natural, mais longo e intenso que as estiagens dos ciclos climáticos normais – segundo dados paleo – climatológicos, os índices fluviométricos mantiveram-se reduzidos por mais de um século, provocando rebaixamento, de vários metros, do nível do lago Titicaca. Essa seca dramática induziu contracção da base agrícola regional, atrofiando a além do patamar de sustentação de sociedade urbana e levando, finalmente, ao seu colapso e a consequente extinção de Tiahuanaco

A própria grandeza de Tiahuanaco continha o germe de sua vulnerabilidade. O êxito sustentado da agricultura altiplânica, não obstante os avanços tecnológicos de então e de agora, sempre dependeu de combinação crítica de parâmetros ambientais, o que, por si só, impunha certo grau de fragilidade à prosperidade de Estado alicerçado na agro economia. Exacerbada pelas próprias dimensões demográficas e territoriais de Tiahuanaco, essa fraqueza intrínseca revelou-se fatal e, diante de cataclismo climático de alcance hemisférico, Tiahuanaco tombou inerme.

Bibliografia

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