O Império Austro-Húngaro ou Áustria-Hungria foi um vasto e importante Estado europeu, sucessor do Império Austríaco. Resultou de um compromisso entre as nobrezas austríaca e húngara em 1867, e foi dissolvido em 1918, após a derrota na Primeira Guerra Mundial, conforme as exigências do Tratado de Versalhes implementadas pelos tratados de Saint-Germain e Trianon.

Países actuais

Na altura da sua dissolução, o Império tinha uma «superfície total» de 677.546 km². Sua população antes do início da Primeira Guerra Mundial era estimada em 52,5 milhões de habitantes. O que resta deste antigo Estado encontra-se dividido entre treze países actuais: Áustria, Hungria, República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina e as regiões da Voivodina na Sérvia, Bocas de Kotor no Montenegro, Trentino-Alto Ádige e Trieste na Itália, Transilvânia e parte do Banato na Roménia, Galícia na Polónia e Ruténia (região Subcarpática) na Ucrânia.

História

O compromisso austro-húngaro de 1867 inaugurou uma estrutura de poder dualista dentro do extinto Império Austríaco (1804-1867) e se originou numa época em que a Áustria entrava em declínio, ao perder influência na península itálica (como resultado de uma guerra contra a Sardenha-Piemonte em 1859) e nos estados alemães, que se reuniram sob o controle da Prússia na Confederação Germânica, formada logo após a Guerra Austro-Prussiana.

Outro factor crucial para a mudança constitucional foi a ascensão do chamado “movimento das nacionalidades”, que havia se instalado por toda a Europa a partir dos ideais espalhados por Napoleão Bonaparte pelo continente durante as Guerras Napoleónicas. Para assegurar que o império não passaria por outra crise como a da década de 1840, o imperador Francisco José negociou um compromisso com a nobreza húngara, no intuito de garantir seu apoio. Os líderes magiares aceitaram a coroação de Francisco José quando conseguiram estabelecer um parlamento separado em Budapeste, com o poder de definir leis para a parte húngara da coroa (as terras de Santo Estêvão) e assim garantir sua proeminência política na região. Com o acordo firmado, também foi definido que o poder central ficaria responsável pela política externa, economia e defesa do novo império.

Com a formação do Império Alemão em 1870, sob o comando da Prússia bismarquiana, e a consolidação do Reino de Itália através da aquisição de Veneza, a política externa do novo império mudou drasticamente. Afastada dos assuntos alemães e da península itálica, a monarquia dual poderia exercer sua potência apenas sobre a complexa região dos Balcãs, que então sofria um rápido processo de revoltas e independências com a queda do Império Otomano. A potência rival dos interesses austro-húngaros era o Império Russo de Alexandre II.

Conflitos balcânicos

Com a derrocada assustadora do Império Otomano, os Bálcãs tornaram-se uma zona instável e disputada. De um lado havia interesses de duas grandes potências (Áustria-Hungria e Rússia), que podiam entrar em choque com as potências expansionistas regionais (Bulgária e Sérvia). Os conflitos balcânicos foram essenciais para o desenvolvimento da política externa austríaca a partir das décadas de 1870 e de 1880. Anteriormente defendendo a continuidade do domínio otomano sobre a península balcânica, os interesses austro-húngaros voltaram-se contra a Turquia na Questão Oriental, lançando-se contra a Rússia numa concorrência aberta que duraria até a Primeira Guerra Mundial.

Com as Guerras Balcânicas, a configuração territorial da península se alterou rapidamente em uma pequeno intervalo de tempo, e a geopolítica deste espaço mudou. A queda da Bulgária na Segunda Guerra Balcânica perante seus antigos aliados (Grécia e Sérvia) faria com que o país se aproximasse da Áustria-Hungria tentando apoiá-la numa tentativa de impedir a construção de uma Grande Sérvia (que englobaria também territórios austro-húngaros de população eslava).

Primeira Guerra Mundial

A escalada dos conflitos entre os dois blocos formados pelo sistema de alianças europeu levava a Europa inteira a uma crise sem precedentes. O estopim para o início dos conflitos armados foi o assassinato do herdeiro do trono da Áustria-Hungria, Francisco Fernando, em Sarajevo, por um nacionalista bósnio-sérvio chamado Gavrilo Princip. A nação austro-húngara enviou um ultimato à Sérvia que não foi respondido à altura pela mesma, e a partir de então o sistema de alianças entrou em funcionamento.

Em 1916, os russos focaram seus ataques no exército austro-húngaro com a Ofensiva Brusilov, ao reconhecer a inferioridade numérica das forças adversárias. Os exércitos da monarquia dual sofreriam perdas massivas (de 1 milhão de homens) e nunca conseguiriam se recuperar completamente. Apesar disso, os problemas gerados na Rússia fariam com que o país entrasse em colapso e contribuiriam para a Revolução Russa de 1917 e para a saída deste da guerra no mesmo ano.

Dissolução do império

Quando ficou claro que os Aliados venceriam as Potências Centrais na guerra, vários movimentos nacionalistas que antes clamavam por um grau maior de autonomia passaram a exigir a independência completa. Como um dos seus Catorze Pontos, o presidente Woodrow Wilson assegurava o apoio a estes movimentos. Em resposta, o imperador Carlos I concordou em criar uma confederação entre várias nacionalidades, na qual cada uma exerceria seu governo.

Em 14 de Outubro de 1918, o Ministro das Relações Exteriores, o Barão István Burián von Rajecz, pediu um armistício também baseado nos Catorze Pontos. Em uma tentativa de demonstrar boa-fé, o imperador proclamou dois dias depois que a Áustria se tornaria uma união federal de quatro componentes – alemães, tchecos, eslavos do sul e ucranianos. Aos polacos era garantida a independência completa, com o propósito de liberar estes territórios a se unir a um novo país que se formava ao norte, a Polónia.

A resposta de Lansing foi o certificado de morte para a Áustria-Hungria. Conselhos nacionais nas províncias imperam passaram a funcionar e começavam a agir como países independentes. Com uma derrota iminente se aproximando, os grupos étnicos separatistas anunciaram a independência – Tchecoslováquia em 28 de Outubro, e o reino dos sérvios, croatas e eslovenos no dia seguinte. O estado foi completamente dissolvido em 31 de Outubro, quando o governo húngaro finalizou a união com a Áustria, dissolvendo assim a monarquia dual.

O chefe de Estado era o Imperador, da família dos Habsburgo, que era por sua vez chefe dos dois estados em simultâneo, como Imperador da Áustria e Rei da Hungria. Nos 51 anos que durou a monarquia imperial dual austro-húngara houve dois soberanos: Francisco José I (1867-1916) e Carlos I (1916-1918) ambos da dinastia Habsburgo