A família Habsburgo é originária do castelo dos Habsburgos, actualmente na Suíça. Em 1278, a família torna-se soberana em terras localizadas na actual Áustria. Pelo casamento e pela conquista, os Habsburgos encontram ao longo dos séculos à frente de uma ampla gama de territórios localizados principalmente na Europa Central. A casa fornece todos os imperadores do Sacro Império entre 1452 e 1740.

A partir do século XIII, os Habsburgos, família nobre originária de um cantão suíço, transformar-se-ia no decorrer dos dois séculos seguintes na mais prestigiosa dinastia reinante na Europa. Esta dinastia incluiu duques e arquiduques da Áustria desde 1282; imperadores da Áustria, de 1804 a 1918; reis da Boémia e Hungria, de 1526 a 1918; imperadores sacro-romanos, de 1438 a 1806; e reis da Espanha, de 1516 a 1700.

A Monarquia de Habsburgo

A Monarquia de Habsburgo incluía os territórios governados pelo ramo austríaco da Casa de Habsburgo e depois pela Casa sucessora de Habsburgo-Lorena, entre 1745 e 1867/1918. A capital era Viena. A monarquia, de 1804 a 1867, geralmente é denominada Império Austríaco e de 1867 a 1918 Império Austro-Húngaro.

Desenvolveu-se das Terras Hereditárias de Habsburgo (a maioria delas localizadas nos territórios das actuais Áustria e Eslovênia), que os Habsburgos possuíam desde 1278. A Monarquia de Habsburgo aumentou em importância na Europa em 1526, quando o arquiduque Fernando da Áustria, o irmão mais novo do Sacro Imperador Romano-Germânico Carlos V, foi eleito Rei da Boêmia e Hungria após a morte de Luís II, o rei daqueles dois países, na batalha contra os turcos em Mohács. A partir dali, a Monarquia cresceu a ponto de chegar, por vezes, a governar mais da metade do território da Europa.

Ramos de Administração dos territórios dos Habsburgos

Perante um imenso património familiar para governar na Europa, Carlos lega a Fernando a administração dos territórios alemães e austríacos da família, desenhando-se assim a formação de dois ramos, um espanhol e outro germânico, divisão que se confirma com a abdicação em1556 de Carlos V.

Ramo espanhol

O filho primogénito de Carlos V, Filipe II de Espanha (1556-1598), herdará a coroa espanhola e suas dependências (América, Países Baixos, domínios italianos), e seu irmão Fernando receberá o Sacro Império (Alemanha, Alsácia, Suíça, Boémia e Hungria), sendo confirmado pelos príncipes eleitores em 1558.

Ainda no concernente ao ramo espanhol o mesmo autor acima citado alega que extinguiu-se em 1700 com Carlos II, passando o trono para os Bourbón, depois da Guerra da Sucessão de Espanha. Este país perde para o ramo alemão dos Habsburgos os Países Baixos (Flandres, Brabante) e os domínios italianos.

A Monarquia de Habsburgo não deve ser confundida com vários outros territórios governados em diferentes tempos por membros da dinastia Habsburgo. O ramo espanhol dos Habsburgos governou a Espanha e vários outros territórios de 1516 até ele ser extinto em 1700.

Ramo Germânico

A descendência masculina dos Habsburgos da Áustria extingue-se em 1740 com Carlos VI (1711-1740). A filha mais velha deste, Maria Teresa (1740-1780), depois da Guerra de Sucessão da Áustria, ficará com os domínios hereditários do ramo alemão, sendo seu marido, Francisco, duque da Lorena (actual França), eleito imperador germânico em 1745. Com este casamento a família passa a dominar a Toscânia (Itália).

Um ramo menor governou a Toscana entre 1765 e 1801, e novamente de 1814 a 1859. Enquanto esteve exilada da Toscana, este ramo governou Salzburgo de 1803 a 1805, e em Würzburg de 1805 a 1814. Um outro ramo governou as Vorlande de 1803 a 1805, e o Ducado de Módena e Reggio de 1814 a 1859, enquanto a imperatriz Maria Luísa, segunda esposa de Napoleão Bonaparte e filha do imperador Francisco I da Áustria, governou o Ducado de Parma entre 1814 e 1847.

A família passa a designar-se de Habsburgo Lorena, mantendo a coroa do Sacro Império até à sua dissolução em 1806. Porém, desde o século XVIII, a família começava a perder territórios, mesmo no ramo espanhol, principalmente na Europa, como a Silésia (na Polónia) para a jovem monarquia prussiana e a Itália. As invasões napoleónicas imporão os mais sérios reveses sentidos pelos Habsburgos nos seus domínios alemães.

Em 1804, o imperador Francisco II aclama-se imperador da Áustria, renunciando a 6 de Agosto de 1806 ao Sacro império, que aí finda quase mil anos de História. Todavia, os Habsburgos continuarão a reinar no Império da Áustria. A perda de territórios mantém-se no século XIX, culminada com a cedência a Itália, em 1859, do Lombardo-Véneto (região entre Milão e Veneza). Reinava então Francisco José, imperador que fundará em 1867 a monarquia austro-húngara. Assistirá, por outro lado, ao assassinato de seu sucessor, Francisco Fernando, em 1914, facto que apressará o deflagrar da primeira Guerra Mundial, a derrota da Áustria e o desmembramento do último império Habsburgo. O seu último monarca, Carlos I, abdica em Novembro de 1918, encerrando a dinastia alemã que durante séculos dominou os destinos da Europa, acumulando riquezas e um património territorial imenso, cujo auge fora atingido por Carlos V, senhor do maior império da História.

Domínio do Império Habsburgo sobre Europa

A partir de 1437 até 1740 os Habsburgos dominarão ininterruptamente o Sacro Império, com o poder da família a garantir a eleição do seu titular. Pelo casamento de Maximiliano I, filho do imperador Frederico III (1452-1493), com Maria da Borgonha, filha de Carlos, o Temerário, e, mais tarde, com o de um descendente daquela união, Filipe, com Joana, a Louca, herdeira dos Reis Católicos espanhóis, aumentam consideravelmente as possessões territoriais dos Habsburgos ou Casa de Áustria. Com esta política matrimonial, para além da Borgonha, Países Baixos, Nápoles, Sardenha e Sicília, ganham a Espanha e suas imensas e ricas dependências ultramarinas. Estes territórios juntam se assim aos do Sacro Império, que compreendia a Alemanha, a Prússia e os domínios da Áustria.

Surge então, como senhor absoluto deste vasto império, Carlos, I de Espanha e V da Alemanha, monarca universal por excelência, campeão do Catolicismo contra a Reforma (que nasce e se difunde largamente nos seus domínios alemães) e símbolo do apogeu dos Habsburgos, a mais poderosa família europeia. O seu irmão Fernando obtém, entretanto, a posse definitiva (até 1918) da Boémia e da Hungria para a Casa da Áustria, em 1526.

Principais blocos do território Habsburgo

Apesar do domínio territorial exercido pelo ramo Habsburgo ter sofrido variações com o passar dos anos, o seu território sempre foi constituído por quatro blocos principais:

As Terras Hereditárias

Reino da Hungria

Os Países Checos

Reino da Croácia

As Terras Hereditárias

As terras hereditárias abrangiam a maior parte do território da actual Áustria e Eslovénia, bem como os territórios a nordeste da Itália e (antes de 1797) o sudoeste da Alemanha. A estes foram adicionados em 1779 o Inn Quarter da Baviera; e em 1803 os Bispados de Trento e Bressanone. As Guerras Napoleónicas causaram descontinuidade onde muitas partes das terras Hereditárias foram perdidas, mas todas essas, juntamente com o antigo Arcebispado de Salzburgo, que havia sido anteriormente temporariamente anexado entre 1805 e 1809, foram recuperados pelo tratado de paz de 1815. As províncias Hereditárias incluíam:

Alta Áustria

Baixa Áustria

Áustria Interna (Estíria, Caríntia, Carníola, Fronteira Militar, o porto adriático de Trieste e Ístria).

Os Países Checos

Os países checos inicialmente eram constituídos de quatro províncias Boêmia, Morávia, Silésia e Lusácia. A Alsácia foi cedida à Saxónia em 1620, enquanto a maior parte da Silésia foi conquistada pela Prússia em 1740-1742.

O Reino da Hungria

Antes de 1699, o Reino da Hungria, chamado Hungria Real naquele tempo, perdeu cerca de dois terços de seu território para o Império Otomano e seus vassalos, os Príncipes da Transilvânia, enquanto os Habsburgos ficaram restritos aos limites ocidental e norte do antigo reinado, mas depois daquela data quase que todo o antigo reinado retornou para o domínio austríaco, com o restante sendo conquistado em 1718.

O Reino da Hungria, em sua maior extensão, incluía a actual Hungria e a Eslováquia, a maior parte da Croácia, a Vojvodina no que é hoje a Sérvia, Transilvânia no que é hoje a Roménia e a Rutênia Subcarpática, uma pequena região trans-Cárpatos na actual Ucrânia. Entre 1718 e 1739, vários outros territórios dos Bálcãs, incluindo a área em torno de Belgrado e a parte ocidental da Valáquia, foram também anexas, mas foram perdidas a seguir na fracassada guerra contra a Turquia em 1739. Muitas áreas fronteiriças ao Império Otomano separaram-se da administração húngara e formaram a Fronteira Militar, que era governada directamente por Viena.

O Reino da Croácia

Inicialmente era constituído de quatro regiões: Croácia Eslovénia, Dalmácia e Bósnia. O Parlamento da Croácia (Sabor) elegeu Fernando I, como Rei da Croácia em 1 de Janeiro de 1527. O Reino da Croácia permaneceu dentro da Monarquia de Habsburgo até que o Parlamento croata (abor) declarou sua independência em 29 de Outubro de 1918. Depois do Compromisso Croata-Húngaro em 1868, o nome oficial para Reino da Croácia foi Reino da Croácia-Eslavônia.

Governantes da Monarquia Habsburgo durante a idade moderna

Habsburgo

Fernando I 1520-1564 (2) Maximiliano II 1564-1576 (3) Rodolfo II 1576-1612 (4) Matias 1612-1619 (5) Fernando II 1619-1637 (6) Fernando III 1637-1657 (7) Leopoldo I 1657-1705 (8) José I 1705-1711 (9) Carlos VI 1711-1740 (10) Maria Teresa 1740-1780

Habsburgo-Lorena

José II 1780-1790 (2) Leopoldo II 1790-1792 (3) Francisco II 1792-1835 (tornou-se (4) Imperador Francisco I da Áustria em1 804, a partir daqui a numeração recomeçou) (5) Fernando I 1835-1848 (6) Francisco José I 1848-1916.

A Enfermidade dos Habsburgos

A posse de Carlos V no trono espanhol, como Imperador do Sacro Império Romano em 1518, indicou o auge da dinastia. Esta estirpe viu-se projectar para além da história política do Velho Mundo, também pela História da Medicina e Odontologia, graças ao fardo genético familiar conhecido como “A Enfermidade dos Habsburgos”, que era o prognatismo mandibular. As descrições do assim chamado “Habsburg Jaw” indicavam alterações, às vezes também presentes, em todo o rosto, como a gibosidade do nariz e o aumento de volume e saliência do lábio inferior, conhecidos como nariz e lábio Habsburgo.

Os portadores desta enfermidade podem ter dificuldade na mastigação e na deglutição, além de distúrbios da fala e certa inabilidade em fechar a boca. Anedota bastante esclarecedora, que ilustra bem esta situação, conta que Carlos V, na sua primeira viagem desde os Países Baixos para a Espanha, que passaria a ser o seu novo reino, ouviu um camponês desabusado gritar-lhe: “Majestade, feche a boca, que as moscas deste país são insolentes!”. A mal-oclusão importante no grupo III, da classificação de Angle, obrigava a manter a boca meio-aberta, dando a impressão de uma pessoa menos esperta.

Bibliografia

ALMEIDA, João Marques de. “A paz de Vestefália, a história do sistema de Estados modernos e a teoria das relações internacionais”, Política Internacional, vol. 2, n.º 18 Outono-Inverno, 1998.ANGER, Jaime. Sob as barbas do Imperador D. Pedro II: o prognatismo dos Habsburgos. São Paulo: Artigo especial, 2009.BARBOSA, José Vicente Correa. Monarquia de Habsburgo. São Paulo: revista e editores 2009
MOITA, Luís. Uma releitura crítica do consenso em torno do “sistema Vestefália”. Universidade Autónoma de Lisboa, Vol. 3, n.º 2, 2012.
SILVEIRA, Maria Eduina da. Dom Pedro II e a herança dos Habsburgos. Brasil: Universidade Federal Fluminense, 2008.